A cultura de um país se define por seus costumes, hábitos, língua, suas tradições, comidas típicas, arte, religiões, comportamentos, vestimentas, suas músicas, etc..
Em um tempo onde não havia escrita, a Cultura era passada de forma oral, através de histórias que ultrapassam gerações. Nosso país nasceu com a Cultura indígena e depois foi somando-se aos antepassados estrangeiros e dos escravos que foram trazidos nos Navios Negreiros. Nós sabemos dessa parte da história. Onde o samba, a capoeira, o misticismo se misturam com o cristianismo e dentro dessa forma de sangue se construiu essa nação. Infelizmente com algumas falhas de caráter, onde em algum lugar no passado foi instituído que ser esperto é levar vantagem sobre o outro. E a corrupção passou a ser a maior doença da nossa Terra, tão rica, de uma abundância sem tamanho.
Mas afinal, estamos em 2021 e ainda hoje nossa sociedade não encontrou o equilíbrio entre respeitar a vida e o modo de vida dos povos originários. É certo a existência de 305 etnias diferentes no Brasil e 274 línguas indígenas. A diversidade de conhecimento desses povos é imensurável. A relação com a terra é algo que precisamos ainda aprender.
Mais de 700 lideranças indígenas de todo o Brasil viajaram até Brasília essa semana para tentar um diálogo com o governo com o intuito de arquivar o Projeto de Lei 490\2007 que pode acabar com a demarcação das terras indígenas e abrir os territórios para a exploração econômica predatória.
A violência e a invasão de suas terras aumentaram 56% nos últimos anos. As moradias da coordenadora da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborun e de seus familiares foram queimadas por grupos pró garimpo no início do mês. A PL 2633\2020, se aprovada, pretende anistiar grileiros e dar mais espaço para violência. De que lado o Estado está? É inacreditável que o governo ao invés de criar leis e políticas públicas que protejam os povos originários, ainda questiona a “permissão do progresso” em terras indígenas.
A fragilidade a que eles estão expostos é a mesma fragilidade da natureza que eles cuidam. A Cultura está entrelaçada com o meio ambiente e preservar ambos é um dever de todos.
A não punição às violências causadas, a criação de leis permissivas, só geram um estado de guerra, morte e falência de um povo, uma terra e uma Cultura.
Permitir a população ter acesso a esse conhecimento através da educação é primordial. Reconstruir essa identidade real é mais do que urgência. Um povo que não respeita a sua Cultura não pode ser capaz de progredir.
O significado da palavra progresso deve ser voltado para o âmbito geral que constitui a qualidade de vida de um povo. Progredir com o equilíbrio necessário para que o meio ambiente possa evoluir junto.
A Cultura indígena é um presente nosso, o reforço da segurança pública é urgente, as ameaças de morte às lideranças só crescem, parece que estamos vivendo em uma terra sem lei. Imagina que ainda existem etnias isoladas, que estão vulneráveis aos ataques de grileiros.
Você já ouviu uma canção indígena? Já meditou a base de um tambor, que reverbera o amor? Já ouviu falar sobre as medicinas, o estudo das ervas? Sobre a relação do sagrado feminino com a Lua? Já viu obras de arte feitas por eles? A culinária, a vestimenta, as pinturas, o artesanato… somos influenciados indiretamente. Essas referências estão no nosso subconsciente, somos parte disso. E devemos ter orgulho disso.
Isso jamais deveria ser uma guerra, já passou da hora de nossa sociedade assumir e respeitar quem aqui já estava antes de tudo começar. Para ter mais informações sobre isso basta acessar a página da Apib- Articulação dos povos indígenas do Brasil @apibofocial
A luta por seu território tradicional, que é por seu direito ancestral, precisa avançar, o retrocesso em seus direitos é o reflexo do nosso retrocesso enquanto sociedade.
Cuidar dos povos indígenas é cuidar da Cultura de um país.
Fernanda Magnani – Atriz, Professora de Teatro e Palestrante