Depois de ganhar uma versão em forma de peça-filme, Onde Vivem os Bárbaros, a quarta montagem do Coletivo Labirinto, finalmente tem sua estreia presencial no dia 21 de setembro no Sesc Pompeia, onde segue em cartaz até 14 de outubro.
O espetáculo, assim como os outros trabalhos do grupo, pesquisa o olhar para as relações do sujeito com o seu panorama social através da dramaturgia latino-americana contemporânea. O texto é assinado por Pablo Manzi e a direção, por Wallyson Mota, que também está no elenco ao lado de Abel Xavier, Carol Vidotti, Ernani Sanchez e Ton Ribeiro.
Embora o grupo tenha adaptado o texto teatral para a linguagem audiovisual, segundo o diretor, apenas no palco é possível desfrutar das estruturas originais pensadas para a construção da obra. Afinal, como ele próprio explica:
“Se o cinema é o território da imagem, o teatro é o da ação. Essa distinção é fundamental para o que estamos realizando. Estamos agora no processo de transformar todas as imagens construídas em ação cênica”.
“O espetáculo promove através de uma situação ficcional uma espécie de ágora contemporânea sobre vários pontos de nossa vivência política, social, histórica e até mesmo filosófica. Essa ideia de que uma certa assembleia pode surgir ao redor da narrativa só é possível em sua plenitude no teatro. Isso porque o teatro é um espaço de comunhão, um lugar onde uma coletividade se agrupa ao redor de algo ou de uma ideia, onde podemos compartilhar sensações, pensamentos e emoções através da simples presença dos corpos”, acrescenta Mota.
A trama conta a história de três primos que se reencontram depois de vários anos sem se ver. O anfitrião, diretor de uma ONG reconhecida, revela estar envolvido em um estranho assassinato, fato que desencadeia manifestações de violência entre os convidados. Esse encontro aparentemente familiar torna-se cada vez mais terrível com o aparecimento de personagens que vão agravar as ideias que cada um construiu sobre o outro, sobre o inimigo.
Ainda sobre a construção da encenação, o diretor explica que a peça-filme se dividia em duas grandes partes. A primeira se tratava de prólogo que se passava na Grécia no século 5 a.C., época conhecida como o berço da civilização ocidental e do pensamento democrático. E a segunda passava-se no Chile, em 2015, com algumas situações que provocam reflexões e discussões sobre essa mesma democracia, apontando alguma noção de decolonialidade.
“Agora, estamos acrescentando um terceiro bloco, o do Brasil em 2022. Nosso espetáculo estará em cartaz no período exato das eleições presidenciais e parlamentares, que acontecem sob um terrível fantasma de ameaça às instituições democráticas e à liberdade do pensamento dissonante. E essas ameaças ocorrem justamente em favor de uma ordem colonialista e repressora. Trazer algo desse momento para essa nossa ágora cênica e demarcar território sobre esses pontos nos parece fundamental para o momento”, revela.
Escrita no Chile, a peça apresenta uma ampla base de reflexão para traços determinantes de nosso percurso social, tais como a normalização e a validação da violência dentro de contextos supostamente democráticos.
O texto traz ainda uma oportuna reflexão sobre o arquétipo do bárbaro.
“Bárbaro é aquele que não é cidadão. Por esse viés, é o que está à margem, fora das premissas civilizatórias, o que é visto como bruto, sujo, selvagem. É o que não habita a polis, o que não tem direito de exercer ação sobre o Estado instituído. Mas o que seria uma sociedade civilizada e o que seria uma sociedade bárbara? Acredito que o ponto que mais nos interessa em tudo isso é: quem pode ocupar os espaços de uma pressuposta cidadania hoje? Quem sempre ocupou esses lugares e quem segue sendo apartado/a deles?”, questiona o encenador.
Mota ainda conta que a proposta do grupo não é propor uma reflexão sobre a democracia no sentido de desmoralizá-la.
“Queremos falar sobre o entendimento total de sua importância e da constatação de que ela só existe de fato quando as mais diversas pessoas (seja pelo recorte de classe, raça ou gênero) podem usufruir de suas benesses e interferir no seu funcionamento. A democracia de fato só existe quando ela é praticada por todos os setores da sociedade. Por isso, ela é um exercício coletivo e público, que deve ser praticado e desenvolvido a todo instante, para que não deixe de existir”, finaliza.
Sobre o Coletivo Labirinto
Fundado em 2013, o Coletivo Labirinto é um núcleo de pesquisa e criação cênica formado por artistas que transitam entre direção, atuação, performance e produção, a fim de investigar as relações dos sujeitos com o seu panorama social através da dramaturgia latino-americana contemporânea.
O grupo já estreou os espetáculos “SEM_TÍTULO” (2014), de Ariel Farace; “Argumento Contra a Existência de Vida Inteligente no Cone Sul” (2019), de Santiago Sanguinetti; “Onde Vivem os Bárbaros” (2022), de Pablo Manzi; e “Mirar: Quando os Olhos se Levantam” (2022), de Jé Oliveira.
Sinopse
Depois de anos sem se ver, três primos se reencontram. O anfitrião, diretor de uma ONG reconhecida, revela estar envolvido em um estranho assassinato, fato que desencadeia manifestações de violência entre os convidados. Este encontro aparentemente familiar torna-se cada vez mais terrível com o aparecimento de personagens que vão agravar as ideias que cada um construiu sobre o outro, sobre o inimigo.
FICHA TÉCNICA
Direção: Wallyson Mota
Dramaturgia: Pablo Manzi
Tradução: Wallyson Mota
Elenco: Abel Xavier, Carol Vidotti, Ernani Sanchez, Ton Ribeiro e Wallyson Mota
Assistente de direção: Carolina Fabri
Cenário e figurino: Lu Bueno
Iluminação: Matheus Brant
Visagismo: Fábia Mirassos
Concepção Sonora: Gregory Slivar
Cenotécnico: Armando Junior
Aderecista: Jésus Seda
Fotos: Mayra Azzi
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Produção: Corpo Rastreado – Leo Devitto
Direção de Produção: Carol Vidotti
Realização: Coletivo Labirinto
Serviço
Onde Vivem os Bárbaros, do Coletivo Labirinto
Temporada: 21 de setembro a 14 de outubro de 2022
Sessão acessível no dia 13 de outubro de 2022.
Terça a sexta-feira, às 20h30 (dia 12/10, feriado, às 17h30
Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Água Branca
O Sesc Pompeia não possui estacionamento.
Protocolos de segurança.
O uso de máscara, cobrindo boca e nariz, é recomendado. Se você apresentar sintomas da Covid-19, procure o serviço de saúde e permaneça em isolamento sociail.
Ingressos:
Credencial plena: R$ 9,00
Estudantes, Idosos, PCD e seus Acompanhantes (meia entrada): R$ 15,00
outros (entrada inteira): R$ 30,00. Venda online em sescsp.org.br
Classificação: 14 anos
Duração: 75 minutos
Capacidade: 40 lugares