Alguma das decisões mais acertadas no ano de 2013 foi a de não se usar verbas públicas para alimentar os desfiles das escolas de samba de algumas regiões de nosso vasto Brasil. Um país com amplas dimensões, diversidade social e cultura como a nossa não deveria pautar sua maior alegria em divertimento para além do necessário. O carnaval é mais uma fonte de desperdícios, insensatez, problemas de agravo na saúde da população em virtude de excessos, alcoolismo e drogas, e tudo o que esses dias de festa e folia proporcionam aos mais desarrazoados.
Não sou puritana nem nunca poderia, e creio que cada um estraga sua vida como quer, mas penso mesmo que o carnaval, como é visto e vivido pela maioria, poderia deixar de existir. Porém, não se assuste não preciso que você pense igual a mim, ao contrário, quero mais é que pense diferente para que a troca se faça. Para isso, você pode deixar seus comentários aqui na página, abaixo, e ainda pode entrar no meu Instagram para trazer sugestões de temas que você gostariam que fossem tratados.
Formas de lazer são necessárias ao homem pós-moderno, principalmente porque vivemos situações estressantes em nosso dia a dia e nos grandes centros urbanos. Todavia, o carnaval não é a maneira mais inteligente de se queimar as horas de lazer e gastar a vida. Divertir-se pulando é salutar, mas há outros meios mais interessantes e seguros de se curtir boas horas. Obviamente, que algumas pessoas simplesmente se divertem de modo saudável, mas para a maioria Carnaval é desculpa para loucuras. Seria interessante que as pessoas pudessem fazer retiros, viajando ou ficando em casa, cuidar de sua saúde iniciando uma terapia, fazer um curso novo, aprender uma nova forma de arte, ouvir músicas novas, desenvolver a criatividade, ler um livro, ir à praia, investir seu tempo com os entes queridos. Há tantas opções espetaculares para se escolher… será que este é um mundo idealizado?
Além disso, com tanta coisa acontecendo no mundo, guerra da Rússia e Ucrânia, pandemia com mutação de cepas constante, calamidades naturais como a de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, esvaindo-se nas chuvas e outros lugares se acabando, penso não ser o Carnaval que pode alegrar o povo. Certa feita, o prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo, decidiu cancelar o Carnaval no Centro da cidade, e isso deu pano para as mangas. Ele afirmou que o cancelamento dos desfiles de Carnaval na Rua do Imperador representava uma economia de até um milhão de reais aos cofres públicos e garantiu que a prefeitura, na época, teve a adesão espontânea das agremiações. Se até as agremiações concordaram, isso deve ser indicativo de que de fato há coisas mais importantes a se fazer com essas verbas, ou deveria haver.
Algumas prefeituras de diversas capitais, hoje, em 2022, por causa da pandemia, suspenderam a manifestação das festas, blocos e desfiles de escolas de samba para evitar aglomerações, e algumas também mantiveram o feriado e os pontos facultativos que marcam esses dias de folia. Porém, deveriam pensar e perceber que o dinheiro gasto com este tipo de festividade, na garantia do afluxo de turistas e repercussão do país no exterior sem muita serventia, deveria ser usado exatamente para disseminar, com programas e projetos sérios, uma boa educação para o povo, melhorar o atendimento pelo SUS no combate a doenças, prevenindo-as e gerando efetivamente saúde. Além disso, essa verba poderia ser investida em segurança pública ampliando a valorização dos profissionais dessa e das outras áreas. Se a população pudesse contar com educação de qualidade, saúde e segurança, metade dos problemas no Brasil estariam sanados e um carnaval real seria iniciado com alegria dentro de cada lar.
Não digo que se deva extinguir essa data, muito menos o feriadão, de que o povo, sofrido por tantas outras coisas, muito precisa. Mas é um absurdo ̶ e todos sabemos ̶ , os gastos desproporcionais que se têm com tantos dias de “folia” e desregramento. Nesse período, há muita turbulência: acidentes de trânsito com mortes ou feridos, desparecimento de pessoas, violência em brigas por excesso de bebida e variadas situações de confronto, pessoas estupradas, tudo ampliado em proporções caóticas gerando um ônus bizarro que repercute posteriormente. Todavia, alguns alegarão que situações de contentamento também acontecem nesse período, como nascimentos, encontros, confraternizações. Concordo, mas isso pode ocorrer em qualquer outro momento da vida e não necessariamente no Carnaval, ou não?
Há que se concordar que nestes dias o destaque é para essa materialidade eufórica e desmesurada, camuflada de entusiasmo e alegria, que não pode gerar sempre “boa coisa”. Usufruir a vida de maneira prazerosa é algo de gratificante para o ser, sim, o que mormente não se conquista em “quatro” dias de alvoroço, e, às vezes, selvageria aberrante. O carnaval pode até continuar a existir ̶ os governantes por certo não o abolirão, claro, pois é ópio para o povo, bem como extremamente lucrativo para empresas ̶ , mas há que se rever o que subjaz a essa forma de se divertir, de modo que não se tenha mais prejuízos do que satisfação, mais dissabor do que prazer real.
Bora pensar em nossas vidas?
Janice Mansur é escritora, professora, revisora de tradução,
criadora de conteúdo e psicoterapeuta (atendendo online).
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