Quando se escreve um texto, existe a sensação de que ele vai perdurar na história, ou melhor, fará parte dela. Parte de um registro, desse tempo. No futuro, caso alguém leia essa singela coluna, é de grande importância que essa pessoa tenha conhecimento da perda para a Cultura que o Brasil e o mundo tiveram hoje.
Paulo Gustavo, o artista unânime que uniu o Brasil, primeiro em risos, depois em orações e agora em lágrimas. Mas num contexto de luto coletivo tão profundo, onde a gente sente que se despede da alegria. Além de todo o luto que já vivemos, a partida de Paulo Gustavo, nos traz um vácuo que só pode ser preenchido pela gratidão de sua passagem por essa Terra.
A história da humanidade nos traz esses seres iluminados, capazes de reverberar o amor em todos os âmbitos, todas as classes, acessar todos os corações sem distinção. São como cometas, passam brilhando e vão embora.
A Dona Hermínia, personagem que ele interpreta sua mãe, era de uma verdade tão profunda que as pessoas não tinham como não acreditar e se identificar. Ele levou o brasileiro ao cinema. Ele ajudou a desconstruir preconceitos, ele trouxe alegria e esperança. Ele falava a voz da alma. Ele adentrava na casa de todos nós e por isso hoje todos sentimos como perder um parente, um amigo.
Porque amigo é aquele que nos faz sorrir, nos ensina, nos emociona e ainda traz a leveza nos dias sombrios. E é incrível como esse artista também teve esse papel na vida de muitos brasileiros.
E como ele mesmo dizia o riso é uma forma de resistência, pode-se dizer que ele era um gênio do humor, um fenômeno de amor. Que nos deixou muito material de alegria para perdurar a eternidade. Queríamos mais claro, queríamos muito. Mas somos gratos pela oportunidade de ter tido ele aqui. Sua passagem enobrece a terra.
Que sorrir seja nossa resistência. Que o humor continue a segurar as pontas, a sustentar a alegria e a esperança. A dimensão da importância do trabalho de Paulo Gustavo não pode ser medida em números, dos caminhos que abriu, das oportunidades que gerou para outros comediantes, ele fez história no cinema, no teatro e na televisão brasileira.
Sua generosidade reverbera em exemplo e nos eleva ao um entendimento gerado da forma mais simples e popular possível. Porque ele falava com todos, tratava assuntos complexos de forma leve e objetiva, com humildade ele nos ensinou muito sobre a beleza da vida.
A personagem Senhora dos Absurdos, pode com muita irreverência, estampar as crueldades da nossa sociedade. Ele nos fazia rir de nossas dores, ao mesmo tempo que denunciava os horrores.
O Brasil sente além de tudo hoje, a dor da injustiça, como se nos tirassem tudo, até nosso sopro de alegria, que esse sentimento possa ser transformado em união e que o sorriso seja nosso aliado nessa missão de ser brasileiro.
Ele representava o melhor de nós, que não nos esqueçamos dessa alegria genuína que nos perdura.
Gratidão Paulo, te amaremos para sempre.
Fernanda Magnani – Atriz, Professora de Teatro e Palestrante