Ninguém faz a diferença sendo igual a todo mundo

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Em gerações anteriores, quando um pedido descabido dos filhos era justificado com frases do tipo todo mundo vai, todo mundo pode ou todo mundo tem se fazia frequente uma resposta uníssona dos progenitores: “Você não é todo mundo”. Essa afirmação desanimou e constrangeu inúmeros jovens independente de credo, raça ou classe social. Contudo, um comentário que parecia tão arbitrário e injusto na infância pode começar a fazer sentido quando crescemos. Na vida adulta, assumir que realmente somos distintos dos demais pode configurar uma vantagem.

Como somos atravessados pela cultura e pela época em que vivemos, muitos de nossos hábitos, gostos ou comportamentos são guiados pelas normas e regras vigentes. Para viver em sociedade, precisamos suprimir certos desejos e volições. Já nascemos em um mundo que existia previamente a nós e por conta disso, nos ajustamos a seus costumes. Assim, gradualmente suspendemos aquilo que possuímos de mais particular e direcionamos nossa história de modo a nos encaixarmos no coletivo. Como uma de nossas necessidades mais básicas é o pertencimento, nos moldamos buscando a aceitação de nossos semelhantes.

No entanto, quando há hegemonia de pensamento, de visão ou de perspectiva, permanecemos na inércia. Nenhuma mudança ou novidade consegue brotar em um terreno tão infértil. Mora na criatividade, na diferença e na contestação a possibilidade de fazer surgir algo novo. As grandes – e também as pequenas – mudanças que movimentam o mundo são feitas exatamente pelos que enxergam algo invisível anteriormente, pelos que inventam soluções nunca antes imaginadas ou por aqueles que percebem de uma forma alternativa antigas questões que se repetiram durante décadas.

Ser diferente não apenas é normal como é legal. Isso nos faz bem. Poder pintar o mundo com nossas próprias cores, assumindo o que se tem de mais próprio e sendo regido pela intuição pode ser um movimento libertador. Descobrir como existir de forma singular – ainda que ajustados à coletividade em que vivemos – é uma das maiores formas de acolhimento e amor que podemos ofertar a nós mesmos. Se hoje em dia muito se fala sobre saúde mental, se faz indispensável a aceitação de que somos múltiplos em nossas singularidades e afetos e que é exatamente isso que nos torna tão especiais.


Bruna Richter 

Psicóloga graduada pelo IBMR e Bióloga graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui pós-graduação em Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Também é formada em Artes Cênicas pelo SATED do Rio Janeiro, o que a ajudou a desenvolver o Grupo Grão, projeto voluntário que atende pessoas socialmente vulneráveis, onde através de eventos lúdicos, busca-se a livre expressão de sentimentos por meio da arte.

Seus livros infantis “A noite de Nina – Sobre a solidão”, “A música de dentro – Sobre a tristeza” e “A dúvida de Luca – Sobre o medo” fazem parte de uma trilogia que versa sobre sentimentos por vezes vistos como negativos, mas que trazem algo positivo se olharmos para eles mais atentamente. Estes dois últimos inclusive entraram para a lista paradidática de uma tradicional escola montessoriana na cidade do Rio de Janeiro.

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