A música, em toda a sua diversidade e magia, é capaz de capturar os sentimentos humanos mais profundos e oferecer uma lente através da qual podemos enxergar o mundo de maneiras únicas. No contexto da carreira multifacetada de Zeca Baleiro, um dos artistas mais influentes e prolíficos de nossa época, essa premissa ganha vida de maneira vibrante. Com seu último álbum, “Mambo Só”, lançado recentemente, Zeca Baleiro nos presenteia com uma coleção de músicas que abraçam temas que vão desde a interseção da tecnologia com nossas vidas até os aspectos eternos do amor e da saudade. Em uma entrevista reveladora, exploramos a mente criativa por trás desse disco e os altos e baixos de uma carreira que abrange mais de duas décadas.
Entrevista Zeca Baleiro
- Qual foi a inspiração por trás do seu último álbum lançado?
Zeca Baleiro: Eu comecei fazendo umas experiências meio que sem compromisso. Os temas foram vindo naturalmente, redes sociais, uso exagerado de tecnologia em nossas vidas, IA etc… Mas tem também canções de amor, de saudade, de solidão, os temas eternos. O disco se chama “Mambo Só” e tem colaborações de Edson Cordeiro, Daíra e Moda de Rock, dupla de violeiros roqueiros.
- Como é o seu processo criativo na composição de músicas?
É caótico rs. Não tenho ritual. Gosto de trabalhar no silêncio, coisa rara hoje em dia. Mas hoje consigo compor até no trânsito de São Paulo, se precisar. Tudo é uma questão de exercício.
- Quais são as principais influências musicais que moldaram seu estilo?
Minha casa da infância era muito musical. Então fui um ouvinte de música muito aberto, que ouvia rádio o dia todo, rádio Am, onde se ouvia música de todos os gêneros, e em casa se ouvia também discos de muitos artistas diferentes… Quando comecei a compor, naturalmente foram surgindo todas essas referências na minha composição. De Odair José a Mercedes Sosa, de Paulo Diniz a Raul Seixas, ouvi um pouco de tudo.
- Existe alguma música em particular que você considera como a mais significativa em sua carreira?
O primeiro disco é um marco, o dueto com a Gal Costa no “Acústico” dela também, cantando “Flor da Pele”. “Telegrama” também tornou-se um fenômeno, tem mais de 80 milhões de streamings no Spotify e versões em tudo quanto é gênero: samba, reggae, rock, sertanejo, axé, forró, vários remixes…
- Como você descreveria a evolução do seu estilo musical ao longo dos anos?
Acho que experimentei bastante coisa no início da carreira – mistura de ritmos (tão cara à minha geração), disco folk acústico, disco mais eletrônico etc etc. Isso me deu muita liberdade, a partir desse início discográfico. Hoje me sinto à vontade pra fazer qualquer coisa, tipo um disco de pop e outro de samba no mesmo ano, como farei agora, marcando estes 26 anos de carreira.
- Quais são os desafios e as recompensas de ser um artista independente no cenário musical atual?
Os desafios são sobretudo manter a classe (rs) e mostrar ao público que você ainda está ativo, produzindo, que não vive só de hits. O lado bom é que você lança o que quiser à hora que quiser, não pede permissão a ninguém, não espera planos de gravadora (que às vezes eram equivocados), enfim, há mais liberdade. O que lamento é que a veiculação de muitos produtos levou a uma certa pulverização, a uma banalização da audição de música.
- Você já colaborou com diversos artistas ao longo de sua carreira. Existe alguém com quem você ainda gostaria de trabalhar?
Eu nunca forço nada, rola se tiver que rolar. Sempre foi assim, nasce da admiração, que deve ser mútua, claro. Agora há planos de um collab com o Vitor Kley. Se rolar, vou adorar, sou fã dele. Acho muito honesto o som que ele faz.
- Além da música, quais são suas outras paixões ou interesses?
Adorava futebol e cinema, mas tenho uma visão pessimista quanto a ambos. O futebol está indo pra um lugar muito estranho, sem poesia. E em minha opinião, o cinema caminha pra um quase fim. Acabei de ver “Openheimer” e é um filmaço, mas é 1 em 1 milhão. A cultura das séries, hoje produzidas em larga escala, o crescimento da TV por assinatura e a própria falência de uma estética cinematográfica tá levando essa arte pra outro lugar. É assim mesmo, é o processo histórico e natural. A música tem se transformado também. A favor da música, conta a sua fluidez, a facilidade de penetração, a onipresença da música hoje em todo lugar, e o fato de que ela passeia sem filtros pelo universo afetivo do ouvinte. Mas está mudando também.
- Como você enxerga o papel da música na sociedade e qual mensagem você espera transmitir através das suas composições?
A arte pode despertar a consciência das pessoas sobre a vida social e política de forma lúdica, divertida, lírica, amorosa. Esse é o grande poder, ser diversão e ter também esse papel de despertar as pessoas, fazer pensar, refletir e em alguns casos extremos, transformar a própria vida delas.