Números do Instituto Nacional do Câncer (Inca) estimam para cada ano do triênio 2023–2025, 73.610 casos novos da doença. O Outubro Rosa é o mês que conscientiza ainda mais sobre o câncer de mama, além de alertar sobre a prevenção e a realização de exames de rastreio — mamografia para mulheres a partir dos 40 anos.
Segundo o oncologista Juliano Cé Coelho (CRM-RS 34.989 e RQE 29.21), a melhor maneira de diagnóstico precoce da doença é a mamografia, por ser um exame que conseguiu diminuir a mortalidade pela doença (a ultrassonografia também complementa, ajudando na identificação do nódulo, ou a realização do exame físico feito pelo médico). Já no autoexame, o especialista diz que pode possibilitar à mulher conhecer sua mama e perceber pequenas mudanças. “O exame pode servir como complemento, mas jamais como principal exame de rastreio”, aponta.
Subtipos
Conforme o oncologista, existem diferentes subtipos de câncer de mama. Essa diferenciação é feita a partir de exames moleculares realizados no material da biópsia. Basicamente são feitos três testes. Os dois primeiros se referem à existência ou não de receptores hormonais. “Testamos a presença de receptores de estrogênio ou de progesterona. Se um deles ou os dois vierem positivos, vamos chamá-los de um tumor hormônio positivo (tumor luminal). O outro teste é da expressão de uma proteína chamada HER2. Essa proteína capta os sinais do corpo e passa a mensagem para dentro da célula, mandando que aquela célula cresça, se desenvolva, se dissemine e alguns tumores conseguem ter a superexpressão dessa proteína”, explica.

De acordo com Juliano, os tumores que expressam receptores hormonais podem ser tratados com bloqueio hormonal. O médico ressalta que se a proteína chamada HER2 está aumentada, medicações que bloqueiam essa sinalização serão utilizadas. “Quando não tenho nem receptores hormonais e nem mesmo essa proteína aumentada, temos o chamado tumor triplo negativo. Ele tem uma situação especial de tratamento como, por exemplo, o uso da imunoterapia”, esclarece.
Tratamento
O especialista reforça que o tratamento depende do estágio onde a doença foi diagnosticada. Juliano comenta que se há um tumor localizado, a base será a cirurgia e conforme as características desse tumor e as análises moleculares, teremos a indicação de realização de quimioterapia antes da operação, ou algum tratamento de quimioterapia, ou bloqueio hormonal após o procedimento cirúrgico.
Nos casos da doença avançada metastático, o tratamento é basicamente sistêmico, mas não necessariamente com quimioterapia, como aqueles tumores luminais. (expressam receptores hormonais). “Nossa primeira linha de tratamento vai ser com medicações via oral
— bloqueio hormonal associado com inibidores de ciclina (classe de medicações contra o câncer), mas tudo dependendo do estágio da doença e do perfil molecular do tumor”, pontua.
Equilíbrio emocional na luta contra o câncer de mama
O oncologista destaca que receber o diagnóstico de câncer é uma situação bastante complexa. Ele afirma que sempre conversa com os pacientes, pois a notícia da doença traz impactos na vida do indivíduo. “Precisamos ter o mínimo de serenidade para conseguir transformar aquela jornada em algo menos difícil possível. Vejo que receber informações e entender o que está acontecendo é fundamental para diminuir a ansiedade, estresse e, principalmente, modelar e alinhar expectativas do paciente com a realidade do tratamento”, observa.
Juliano faz quatro perguntas básicas para o paciente ter um panorama do seu caso. São elas:
- Qual é o seu tipo de câncer de mama e por que é importante saber isso? “Porque as escolhas de tratamento vão ser baseadas nesses subtipos”, responde.
- Onde está a doença? Seria uma doença inicial localizada só na mama ou é avançada?
- Qual é o objetivo do tratamento que está sendo proposto? “Essa é uma pergunta que muitos pacientes têm medo de fazer, no entanto, a resposta é fundamental, porque entender o que está se buscando faz com que a gente consiga alinhar as expectativas com a realidade do tratamento”, enfatiza.
- Qual seria a linha de tratamento? O médico argumenta que ao conseguir responder essas quatro perguntas, o paciente passa a ter uma visão ampla sobre seu caso e consegue compreender melhor a situação. “Não tenho dúvida alguma que o conhecimento e entendimento sobre essa doença é uma das principais formas de manter a serenidade e encarar essa jornada de uma forma menos penosa possível”, finaliza.