No silêncio da noite no seu quarto, quais são os convites que insistem em chegar?
Aqueles que, no decorrer do dia, mesmo desatenta, te fazem inquietar-se, angustiar-se. O medo de aceitá-los as vezes é maior do que a curiosidade pela descoberta!
Aqueles que, nas madrugadas, aparecem de forma inesperada, tiram o seu sono e te fazem viajar, as vezes para uma viagem interessante e em outras vezes para uma viagem intrigante!
Quais são os convites constantes que insistem em chegar por aí?
Um deles, provavelmente, é o convite para SER!
Mas será que é preciso aprender a SER ou o indivíduo nasce sabendo SER?
Acredito que naturalmente – instintivamente – a pessoa sabe o que é SER (observar, perceber e compreender o mundo que a cerca: Quem sou eu no mundo? O que sou para o mundo? Qual o meu papel/meu propósito neste mundo? Como me constituo neste mundo?). Contudo, a interação “com e na” vida – necessária/fundamental –, “quando polarizada”, desvirtua o SER humano da sua essência, do prazer evolutivo que ele tem ao encontrar com ele mesmo e quando está com o outro e, neste momento, refiro-me ao outro como qualquer SER VIVO.
Então por conta da nossa condição humana, da qual nasce uma necessidade relacional, é “preciso” aprender a SER!
Pode-se refletir, a partir da afirmação acima, que uma das bases para a transformação da convivência é que cada indivíduo aprenda a SER e que ela está vinculada ao entendimento sobre a capacidade humana de escolher. O que significa “poder” escolher?
O escolher está atrelado à compreensão de nós mesmos que se refere a preparação para autogovernarmos, para agirmos por meios de valores morais (princípios construídos coletivamente que norteiam o comportamento de um indivíduo em relação ao todo – a sociedade), para termos consciência das decisões e, consequentemente, para assumirmos as responsabilidades individuais e coletivas inerentes às ações e omissões do dia a dia.
Por esse motivo, para que o indivíduo possa aprender a SER é fundamental observar-se em “relação”, pois a vida é troca – a vida está para a relação, assim como a relação está para os indivíduos. A existência humana não pode ser pensada tendo como foco um indivíduo “sozinho”, já que “existimos” em relação seja com o outro ser vivo e/ou com as ideias etc.
É no movimento de investigação do encontro com outras pessoas e do encontro comigo que construo o meu “autoconhecimento”!
E esse “aprendizado de nós mesmos” acontece a todo momento, a cada instante – seja pelo observar, pelo escutar, pelo dialogar, pelo sentir – alguém ou alguma coisa –, ou seja, é um movimento infinito e, em função disso, o “aprender” a SER também chega, hoje em dia, como um convite primordial.
Igualmente como os outros convites, este gera inquietações, angústias e medos, logo requer muita sensibilidade. Ser sensível é sinônimo de estar receptivo as impressões e as sensações que o externo e o interno geram em você, como também exercitar a compaixão e empatia acerca das suas experiências de vida e das do outro indivíduo também (como analisar e refletir profundamente sobre os desafios de ser humano, sejam físicos e/ou emocionais; se permitir mergulhar nas situações individuais e coletivas que chegam até você, buscando apoiar e solidarizar-se; por fim desenvolver habilidades de comunicação – especialmente a assertividade – expressando opiniões sem gerar violência aos outros e nem abrir mão do que é essencial para você e, sim, estimulando trocas interpessoais significativas e saudáveis).
Aprender a SER é um convite para conhecer o todo – a natureza, a estrutura humana, o movimento impermanente da vida – porque você é o todo e o todo é você! Em outras palavras, é experimentar viver o presente assim como ele se apresenta, observando a dinâmica que sua mente, seu corpo e seu coração fazem quando você encontra com o outro e com você mesma – é ser curiosa diante da simplicidade (enxergar o que é – sem medo, sem julgamento moralizador, sem fugir do que assusta, sem projeções) e é ser intencional diante da complexidade (buscar a compreensão dirigindo sua reflexão para a experiência vivida – para a situação em si/sem generalização – isto é, qual o motivo da expressão/do comportamento do sujeito em relação ao fato (as histórias, as memórias que envolvem o indivíduo ao fato) – eis que são elementos inseparáveis.
Mas acima de tudo, aprender a SER é entrar em contato com a simplicidade e/ou com a complexidade da “relação”, seja ela intrapessoal ou interpessoal. Visto que, de uma maneira figurada, é se permitir tocar o mundo e ser tocada pelo mundo que nos rodeia!
Aprender a SER também é abraçar os conflitos, as perturbações, as dores… tudo que circunda a existência humana e, assim, desenvolver-se para a integralidade!
Fabiana Lima Santos – Educadora Social. Gestora de Conflitos com foco em Cultura de Paz na Educação pelo IFBA – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia. Fundadora e Coordenadora do Instituto De Coração Para Coração. Facilitadora de Diálogos Restaurativos pela AJURIS – Escola de Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul e com Aprofundamento em Facilitação em Diálogos Restaurativos pela AJURIS – Escola de Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul. Mediadora de Conflitos Extrajudicial certificada pela Câmara Mediati e com Aprofundamento em Mediação & Arbitragem pela FGV – Fundação Getúlio Vargas e também em Mediação Narrativa Circular ministrada por Héctor Valle na Coonozco/Diálogos Transformativos e com certificação Internacional pela Sociedad Científica de Justicia Restaurativa (Espanha) e Coletivo Diálogos (México), como também pela EMAB – Escola de Magistrados da Bahia.
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