Alguns poemas do livro virtual Pimentas e Caramelos

5 min. leitura

O livro pode ser lido na íntegra em www.wanderlinoteixeira.com.br

Pimentas e caramelos

Carrego comigo um pote de lembranças

que às vezes se derramam sobre a mesa.

Essas coisas todas que já foram antes,

nos bons momentos e nas crises,

têm dois matizes:

ora lembram crianças brincantes,

ora mostram cicatrizes.

São desse jeito: leveza e nó no peito.

Rua nua

Onde os tico-ticos, os pardais,

os amplos quintais, os pirilampos?

Por onde andará o perfume de jasmim

do jardim que já não há?

Buquê em branco e preto

Por conta de desamores

que lhe roubaram os sonhos

e provocaram desgosto,

a mulher que vende flores

tem no rosto olhos tristonhos.

Espectador

Estendidos na calçada,

os que nada têm, os desvalidos,

gente que nem sei como resiste.

No aconchego da loja envidraçada,

um manequim sem rosto a tudo assiste.

Simples assim

O cheiro de jasmim do jardim do vizinho,

um gole de vinho em fim de tarde,

um gesto de carinho…

Gosto do que ocorre sem alarde.

Todo cuidado é pouco

Ao final da tarde,

quando o Sol já não arde

e o sino da matriz entoa um canto triste,

atente para o perigo:

sorrateiro, o tédio insiste em se fazer presente.

Jeito manso, matreiro, dissimulado,

sempre busca encontrar abrigo

no peito de um desavisado.

Louvação às minudências

Borboletas ensaiam um balé alado,

um gato com enfado se espreguiça,

um raio de sol se infiltra na treliça,

uma enxada atiça o ventre da terra.

Ergo um brinde à Natureza,

à sutileza que o momento encerra.

Desamparo

Essa hora tão incerta,

repleta de luz e sombra,

me induz a ter cuidado.

Forte nó me aperta o peito

e me deixa com esse jeito

de cachorro abandonado.

Mutação

Os curupiras, os boitatás, as caiporas,

tão presentes nos outroras,

já não causam alvoroço.

Os seres que assombram os agoras

são todos de carne e osso.

Ciranda de outroras

Minhas saudades são sorriso de criança,

dança de pássaro no jogo da sedução,

sopro de brisa que me afaga o rosto,

aroma e gosto de fruta boa.

Minhas saudades são aconchego, são abrigos,

são canções que o tempo entoa

na concha dos meus ouvidos.

Côncavo e convexo

A mãe acompanha de perto

o caminhar incerto da filha criança.

Segue atenta ao trança que trança

daquelas pernas vacilantes.

O tempo passa. Inclemente.

Nada como era antes,

ao sabor do antigamente.

Hoje em dia, prova de amor,

cabe à filha acompanhar de perto

o caminhar incerto

da velha mãe distante e arredia.

Fiandeira

Esteja sempre atento ao que acontece:

a vida, artesã de cada dia,

ora tece, ora desfia.

Inverno

Sob os olhares piedosos de quem passa,

idosos sonolentos

aos quais a praça dá guarida

se aquecem sem nenhuma pressa

envoltos em esparsos pensamentos:

lascas de vida… fragmentos…

Cara e coroa

O sorriso que enfeita o rosto

pode esconder um desgosto.

Leve também em conta:

a sombra surge tão logo o sol desponta.

Tudo tem o lado oposto,

um véu espesso, um ponto imerso, a outra parte.

Atente para o avesso:

olhe a vida de frente,

mas não descarte o verso.

Cumplicidade

Quero ter comigo alguém capaz

de partilhar os meus segredos,

de conhecer os motivos dos meus ais,

dos meus silêncios, dos meus medos.

Um brinde à vida

Usarei toalha de linho

e beberei bom vinho

em taça de cristal.

Mas a mesa será posta no quintal,

à sombra de uma árvore florida.

pimentas e caramelos
Wanderlino

Wanderlino Teixeira Leite Netto nasceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ), no dia 28 de julho de 1943. Reside em Niterói (RJ) desde os quatro anos de idade.

Administrador (bacharelado e licenciatura plena), exerceu a profissão na Petrobras. Aposentou-se em 1993.

Já publicou 25 livros, três deles virtuais. Seu fazer literário abrange poesia, crônica, conto, ensaio, biografia e pesquisa histórica.

Cofundador da Associação Niteroiense de Escritores (ANE). Na categoria de membro correspondente, pertence a várias instituições literárias.

Para saber mais a respeito de seus escritos, acesse www.wanderlinoteixeira.com.br

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