Vivemos um período bastante delicado em nossa história. De um momento para o outro, o mundo, como o conhecíamos, parou de existir, extinguiu-se. Nós, extremamente relacionais, acostumados intrinsecamente com a interação, com os encontros, com os toques, repentinamente nos descobrimos obrigados a reformular comportamentos e hábitos na tentativa de proteção dessa ameaça invisível.
Da noite para o dia nos percebemos impedidos de reencontrar nossos familiares, de confraternizar com amigos queridos e de frequentar nosso ambiente de trabalho. Foi imprescindível muito esforço, dedicação e plasticidade para que conseguíssemos ajustar nossas condutas para um cenário completamente incógnito para a nossa geração – ainda mais por conta do medo do desconhecido.
Nessa ocasião, em meio ao caos que a destruição e o receio podem causar, a inteligência emocional assumiu um local de destaque. A capacidade não apenas de identificar como de administrar nossos sentimentos é uma habilidade muito necessária em situações extremas. É através dessa disposição que evitamos mais facilmente possíveis conflitos, além de ampliarmos as possibilidades de acordos e entendimentos.
Administrar os sentimentos dos demais não é uma tarefa trivial. Se ampliamos isso para todos os vínculos que possuímos parece algo ainda mais complexo. E quando vivenciamos um período que emaranha diversos afetos a tarefa parece assumir o título de impossível. Contudo, através de nossas competências emocionais, conseguimos driblar as adversidades e lidar, com menor sofrimento, com os instantes de maior pressão.
De certo, sempre estamos humorados. Toda e qualquer ação nossa é permeada de afeto. Ainda assim, nossa capacidade para ajustá-lo, numa frequência ou intensidade que seja adequada para nós, permanece. Em tempos tão sombrios e confusos sobre os quais não possuímos controle algum, desenvolver o autoconhecimento e com ele essas aptidões tão significativas se torna algo ainda mais essencial e especial.
Bruna Richter é graduada em Psicologia pelo IBMR e em Ciências Biológicas pela UFRJ, pós graduanda no curso de Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela PUC. Escreveu os livros infantis: “A noite de Nina – Sobre a Solidão”, “A Música de Dentro – Sobre a Tristeza” e ” A Dúvida de Luca – Sobre o Medo”. A trilogia versa sobre sentimentos difíceis de serem expressos pelas crianças – no intuito de facilitar o diálogo entre pais e filhos sobre afetos que não conseguem ser nomeados. Inventou também um folheto educativo para crianças relacionado à pandemia, chamado “De Carona no Corona”. Bruna é ainda uma das fundadoras do Grupo Grão, projeto que surgiu com a mobilização voluntária em torno de pessoas socialmente vulneráveis, através de eventos lúdicos, buscando a livre expressão de sentimentos por meio da arte. Também formada em Artes Cênicas, pelo SATED, o que a ajuda a desenvolver esse trabalho de forma mais eficiente.