Tudo em nós nos revela a todo o tempo. Tudo. Nossa fala, nossos gestos, nossa forma de pausar. Aquilo que vestimos, o que comemos, o que nunca ousamos realizar. As pessoas das quais nos aproximamos, o que nos assusta, o que sempre desperta o nosso interesse. O que nos afeta, o que nos motiva, o que adoramos escutar. A forma como nos relacionamos, a maneira como nos posicionamos, o que repetimos sem pensar.
Quando percebemos isso, conseguimos ampliar nosso mundo. Passamos, não apenas, a compreender melhor os demais, como também a nós mesmos. Entendemos que nossos comportamentos nos dão constantemente dicas importantes e valiosas que muitas vezes passam despercebidas. E estar atento a essas pistas pode facilitar não apenas nossa convivência com os demais como concomitantemente aumentar nosso autoconhecimento.
Claramente é necessário que estejamos atentos às palavras que são destinadas a nós. Uma escuta ativa é um grande diferencial na vinculação entre os pares. Contudo, prestar atenção ao que não é verbalizado é igualmente importante. Um sinal, um olhar, uma postura corporal podem nos dizer tanto ou mais do que as palavras. Expressões faciais conseguem, muitas vezes, informar mais do que longas frases.
Nosso modo de aparição é misto. E por isso, ou ainda assim, nem sempre é sincronizado. Podemos, desse modo, afirmar algo com nossa fala, mas negar com o corpo. Conseguimos simultaneamente comunicar opostos. E, não há uma verdadeira contradição nisso, se pensarmos que é algo próprio do humano. Muitas vezes, desejamos e temos medo ao mesmo tempo. Aproximamos e distanciamos. Amamos e odiamos.
Em meio a complexidade de tudo aquilo que nos compõe, aceitar nossos paradoxos é fundamental. E isso se estende aos que nos cercam também. Para tanto, é preciso um esforço maior para compreender quem se aproxima. Um olhar atento e uma postura aberta ao que chega ao nosso encontro. E, dessa maneira, desenvolvemos nossa escuta com maior atenção as palavras e, ainda assim, buscamos perceber o mundo para muito além do que está sendo dito.
Bruna Richter é graduada em Psicologia pelo IBMR e em Ciências Biológicas pela UFRJ, pós graduanda no curso de Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela PUC. Escreveu os livros infantis: “A noite de Nina – Sobre a Solidão”, “A Música de Dentro – Sobre a Tristeza” e ” A Dúvida de Luca – Sobre o Medo”. A trilogia versa sobre sentimentos difíceis de serem expressos pelas crianças – no intuito de facilitar o diálogo entre pais e filhos sobre afetos que não conseguem ser nomeados. Inventou também um folheto educativo para crianças relacionado à pandemia, chamado “De Carona no Corona”. Bruna é ainda uma das fundadoras do Grupo Grão, projeto que surgiu com a mobilização voluntária em torno de pessoas socialmente vulneráveis, através de eventos lúdicos, buscando a livre expressão de sentimentos por meio da arte. Também formada em Artes Cênicas, pelo SATED, o que a ajuda a desenvolver esse trabalho de forma mais eficiente.