A busca do equilíbrio psíquico potencializada pelo adoecimento mental do ser humano

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Os profissionais de saúde mental, nos últimos tempos, estão comemorando uma maior adesão da sociedade com os cuidados voltados para os transtornos e distúrbios psíquicos. A pertinência maior da busca pelo profissional de saúde mental se deve ao fato de que estamos vivendo um momento pandêmico que, evidenciou o aumento do número de casos de doenças mentais por todo o mundo, elevando os números de atendimentos psicoterápicos e até mesmo alterações no CID 11 – Classificação Internacional de Doenças. Ou seja, vemos que aos poucos a relação do ser humano com a saúde mental mudou. Mas ainda é uma mudança tímida, pois somos cercados por uma cultura de abandono do doente psíquico. Uma realidade nua e crua, cercada por preconceitos sentidos na pele por quem enfrenta qualquer tipo de transtorno mental.

Embora, o contexto atual venha, cada vez mais, protagonizando questões psicológicas em função do advento da internet e das redes sociais, historicamente a nossa sociedade desenvolveu-se fazendo vistas grossas para o preconceito em relação a pessoas que sofrem de transtornos mentais onde, inclusive, muitas passam por constrangimentos e são vítimas de abusos diversos. Ao ponto de sentirem a necessidade de esconder que fazem tratamento psiquiátrico ou são acompanhados por um psicólogo, psicanalista ou psiquiatra, porque sabem que podem ser discriminados ou excluídos. Por isso, é extremamente relevante a promoção de um maior engajamento da sociedade, através de um olhar diferenciado. Que seja uma oportunidade provocativa à reflexão sobre essa cultura que, na grande maioria das vezes, é negligenciada por tabus e preconceitos que devem ser desmistificados.

A linguagem da mente ainda é desconhecida para grande parte da população. As pessoas acreditam que, faz parte do rol de doenças mentais apenas os casos mais severos em que os sintomas são aparentes. Não compreendem que a ansiedade e a depressão também são problemas psíquicos, e que apresentam o maior índice de crescimento hoje entre as doenças mentais diagnosticadas. Inclusive, a depressão já é considerada a doença do século.

São muitos os pontos nevrálgicos envolvidos no tema, mas o estigma maior está associado a falta de conhecimento das pessoas que é o que, consequentemente, gera toda essa conotação negativa. O ser humano carrega crenças limitantes e conceitos enraizados e, culturalmente, rejeita tudo aquilo que desconhece. Além disso, a falta de uma estruturação eficaz sobre a cultura da saúde mental, associada a políticas públicas sistemáticas e consistentes, também contribui para agravar o problema. Outro fator desfavorável é a desigualdade social que impossibilita o investimento pessoal em serviços de saúde mental de qualidade. São necessárias melhorias profundas nas Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) espalhados por todo país, para acolher o maior número de pessoas possíveis acometidas por transtornos mentais. Afinal, todos estamos sujeitos a sofrer com algum tipo de transtorno mental ao longo da vida.

Esse estigma precisa ser quebrado e combatido através da popularização de assuntos relacionados às doenças mentais. Promover o acesso à informação é um grande antídoto de combate a Psicofobia (medo exagerado ou irracional da mente/ preconceito ou discriminação contra pessoas com transtornos ou deficiências mentais).

Afinal, o grande entrave está no fato de que, doenças físicas são mais perceptíveis que as doenças psicológicas, o que torna os diagnósticos tardios por dificuldade em reconhecer a necessidade de ajuda.

Precisamos mudar nossa forma de pensar em relação a quem faz tratamento e acolher essas pessoas, pois se as feridas do seu próximo não te causam dor, a sua doença é mais grave do que a dele. Visto que, terapia não é coisa de maluco. É um ato de autocuidado e autoconhecimento. Como seres únicos estamos sempre em busca de sustentação e capacitação para uma vida saudável. Mas essa plenitude está muito além apenas do controle físico e orgânico, a parte emocional também requer uma atenção especial e um olhar afetuoso. De forma prática, quanto mais falamos sobre nossos sentimentos, mas conscientes ficamos de nossos vazios e das nossas forças.

Afinal, quem cuida da mente, cuida da vida. A terapia traz alivio do estresse, das tensões cotidianas, além de auxiliar na resolução de conflitos e alterações de caminhos. São muitas as questões mentais que devem ser tratadas e acompanhadas, como: Depressão, transtornos generalizados de ansiedade, Síndrome de Burnout, hiperatividades, dislexias, esquizofrenias, fobias, pânicos em geral, Transtorno Borderline, alterações severas de humor, bulimias, estresse, dificuldades de enfrentamento do luto, anorexias, psicopatias, autismo, transtornos obsessivos compulsivos, dentre outros. Mas, assim como definido pela própria OMS – Organização Mundial de Saúde, não podemos esquecer que o conceito de saúde é um completo estado de bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doenças ou demais enfermidades.

Enfim, a torcida é para que essa reflexão, desperte uma mudança ainda mais significativa da visão da sociedade sob os aspectos mentais. E que, de alguma forma, provoque uma total abertura na mente das pessoas para que compreendam a gravidade de todas estas questões. Visto que, momentos de dor, conflitos, tristezas, dúvidas e angústias são comuns ao ser humano, mas nem todos conseguem enfrentar com equilíbrio. É preciso se familiarizar, promover e buscar um melhor entendimento sobre termos como: “saúde mental”, “saúde emocional”, “sentido de vida”, “qualidade de vida” e “harmonia nas relações humanas”. Que cada indivíduo compreenda a urgência de um relacionamento genuíno consigo e com um profissional de saúde mental para descobrir tendências naturais que o levem de encontro ao desenvolvimento pessoal, objetivando a superação de conflitos, traumas ou dificuldades emocionais. O adoecimento mental traz uma certeza: sem saúde psíquica não existe paz, não há harmonia nas relações e nem energia para cuidar das coisas mais simples da vida. Além do mais, não há sossego para zelar por quem amamos. Esse cuidado com as dores da mente é um investimento urgente que gera bem-estar e equilíbrio ao ser humano.


Dra. Andréa Ladislau – Psicanalista         

* Doutora em Psicanálise, Membro da Academia Fluminense de Letras – cadeira de número 15 de Ciências Sociais, Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde, Pós Graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social, Professora na Graduação em Psicanálise, Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In Niterói, Professora Associada no Instituto Universitário de Pesquisa em Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo, Professora Associada do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites.

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