WandaVision – O Bom e velho…e genérico Universo Cinematográfico da Marvel

20 min. leitura

*SPOILERS DE TODA A TEMPORADA à frente, leia por sua conta e risco (ou se você não se importa com spoilers)*

Bom, pra quem já estava sentindo uma abstinência sofrida, misturada com saudade de assistir um novo filme do Universo Cinematográfico da Marvel (o bom velho e – genérico – MCU) nas telonas, já podem respirar aliviados e melhor já ir se contentando com o fato de que esse ano teremos o MCU reduzido à tela do celular, mas com o mesmo nível de qualidade a se esperar, primeiro agora com WandaVision e ainda The Falcon and the Winter Soldier e Loki que estão previstos para sair no Disney+ ainda esse ano. Mas, antes que isso comece a soar como um texto propaganda promovendo as séries, se assegurem que os comentários aqui devem soar entre mistos aos menos favoráveis, pois ao contrário do que a maioria do público e critica possa estar em um clamor de elogios fervorosos, aquele que vos escreve vai ser o chato da situação e expressar que… não há nada de novo aqui, como sempre.

A “mesma qualidade de sempre” fala por si só, e WandaVision é sim o mesmo bom e velho filme solo do MCU como você já deve ter assistido mil vezes, seguindo a exata mesma estrutura de filmes solo (principalmente os pós-segunda fase) desde o Homem Formiga, Doutor Estranho, Pantera Negra, Capitã Marvel, etc…, só que estendido em mais ou menos 9 horas de série e que veio como uma aposta enorme do produtor chefe Kevin Feige para o MCU, ainda mais antes dos adiamentos de filmes pelo fechamento dos cinemas pela pandemia, com o intuito de buscar expandir o seu universo e personagens individuais para serem explorados em histórias próprias.

E com WandaVision dando a largada, prometendo trazer muito do que jamais havíamos visto antes do casal de Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany), um dos casais mais icônicos de todo o panteão da Marvel nos quadrinhos e quando fora trazido para os filmes sempre deixaram um gostinho à desejar e por vezes até forçado sobre o quanto entre um filme para o outro eles iam as vezes de meros conhecidos para amantes apaixonados inseparáveis, deixando praticamente todo o desenvolvimento do relacionamento entre ambos fora de cena. Bem, eis a série para tentar tanto para remediar parte disso, como vir também os explorar ainda mais a fundo.

Assim como trazia consigo (também como sempre) um enorme potencial já que prometia brincar com a realidade televisiva em diferentes épocas, rodeada de um mistério que é vendido instantaneamente só pelo cenário em que se colocam: Wanda e Visão juntos, vivendo como um casal feliz…após os eventos dos últimos dois filmes dos Vingadores (Guerra Infinita e Ultimato). As perguntas eram inesgotáveis e instigantes, mas a série mais parece preocupada em rapidamente responder tais perguntas do que propriamente instigar o mistério que tem em mãos. E é exatamente o que impede WandaVision de ser maior do que realmente poderia ser. Bom, isso e alguns outros tropeços que são mais inconveniências criativas do que realmente falhas atrozes, mas tudo que prejudica o brilho que a série carregava pra si!

Pegando inspiração da recente HQ Visão E Feiticeira Escarlate de Bill Mantlo e Steve Englehart onde Wanda e Visão se mudam para morar juntos, mas também tirando um pouquinho de Feiticeira Escarlate: O Caminho Das Bruxas de James Robinson onde uma quebrada Wanda vagueia pelo mundo em busca de respostas e um meio de restaurar suas forças; Visão. Pouco Pior que um Homem de Tom King onde o Visão cria a própria família em busca de se sentir mais humano; todas cujo possuem claro traço e influência espalhados pela história construída ao longo da temporada, e cujo (na base) é sim uma bela história formada para desenvolver e explorar o casal, mas principalmente Wanda tendo um maior enfoque de protagonismo, buscando explorar sua forma de lidar com o luto de todos que ela amou e perdeu, agora se resguardando do mundo, fugindo da realidade junto de seu amado para viverem na ilusão de um paraíso de seus sonhos – na forma de seriados televisivos, onde todos os sonhos se concretizam e a vida é boa e perfeita.

E assim o é… pelo menos nos dois primeiros episódios, porque o problema começa de verdade quando todo o mistério é quase que imediatamente quebrado, e TUDO cercando a trama principal de Wanda e Visão se mostra como sendo completamente fraco e distrativo. Desde o retorno de Darcy (Kat Dennings) que fazia parte da trupe secundária e alivio cômico esquecível e dispensável dos dois primeiros filmes do Thor, pra ser aqui parte do cérebro de toda a exposição cientifica; A presença do agente Jimmy Woo (Randall Park) por motivos de…ele ser um personagem que trabalha na lei que tem nesse universo então borá usar ele, e ele também era do núcleo alivio cômico então quanto mais humor a Marvel gosta.

E principalmente, a introdução da personagem de Monica Rambeau (Teyonah Parris), que embora tenha tido uma INCRÍVEL primeira cena revelando seu passado e se conectando aos eventos passados do MCU, e trilhe seu próprio caminho ao ganhar seus poderes ao longo da temporada, e Parris está ótima e com personalidade heroica no papel, sua personagem não consegue ser interessante o bastante para ter um real investimento dramático ou interesse do público em querer acompanhar ela, e está aqui basicamente para ser introduzida ao universo Marvel e fazer presença em filmes (ou séries) futuros. 

Tampouco todo o núcleo secundário, que além de soar forçado em todas as tentativas vãs de se criar humor ou um pingo de interesse onde só servem para despejar exposição sobre tudo que está acontecendo por detrás do efeito que Wanda causa na cidade de Westview, até trazendo um bendito quadro de giz pra desenhar caso o público seja muito burro pra conseguir acompanhar. Sabotando assim as próprias intenções de se querer criar um mistério por detrás de tudo, mas constantemente, a cada episódio, te dando de mão beijada um pedaço da resposta e deixar nosso ar de intrigado praticamente se diminuir antes da metade da temporada. E deixando o espectador só se prender em assistir realmente por curiosidade para ver até onde vai essa bagunça toda.

Simplesmente porque tudo em volta de Wanda e Visão “presos” dentro da realidade televisiva que Wanda cria para Westview é onde (literalmente) está a série que todo mundo quer assistir, e pouquíssimo importando para todas as respostas por detrás disso. Porque honestamente, depois de tanto e busca de respostas dentro das respostas que são feitas no final, era melhor ter ficado mesmo no mistério que era muito mais interessante engajador.

Perdendo tempo de não explorar de verdade o trunfo que tinham em mãos e que garantem os momentos mais altos da série, o próprio casal do titulo. Mostrando algo que antes nos filmes pouquíssimo ou nunca foi tocado, a conexão que ambos Visão e Wanda possuem, a química que Paul Bettany e Elizabeth Olsen tem entre si, sobre o que realmente os une como casal e o que e nos faz realmente acreditar, pela primeira vez, no amor que eles possuem e na dor das perdas de Wanda ao longo de seu trajeto no MCU, desde sua família, e seu amado. Os momentos estão aqui, mas a direção nunca nos deixa digerir esses preciosos segundos de tempo onde os personagens estão fora de suas vestimentas de heróis e apenas juntos, como marido e mulher, perdendo tempo com os personagens secundários completamente esquecíveis.

Principalmente quando a vizinha enxerida Agnes, que se revela como a bruxa Agatha. Tirando o fato que ela mais parece uma personagem tirada direto de Feiticeiros de Waverly Place (até o nível de atuação, pobre Kathryn Hahn). Embora que ela essa seja sim uma adaptação relativamente interessante da personagem, outrora a mentora da própria Wanda nos quadrinhos e aqui posta como a principal antagonista. Mas usada de forma até inteligente em como ela sim ensina e leva Wanda, que sempre andou perdida com seus poderes onde nos fazia crer ser originário de uma das Joias do Infinito, mas agora descobrimos como vai além disso, ela é uma Feiticeira nascida. E é Agatha que acaba ensinando, mesmo que forma indireta, a origem de seus poderes e a sua busca de agora os evoluir, deixando sim um final interessantíssimo e com um futuro cheio de potencial.

Como sempre, é o caso em quase todo filme que a Marvel lança já nesses mais de 10 anos e sem sinal de mudar alguma coisa. Sempre jogando seguro com uma trama que parece truncada e trabalhada a base de construir sua protagonista a preparando para futuros filmes, e não construir uma história sólida, redonda e única antes de pensar em partir para mais. E também de encher a série de easter eggs pros fãs, e cameos que começam interessante e no final são completamente furadas em importância. 

Pois se você pensou que o Mercúrio dos X-Men fazendo presença aqui iria mudar alguma coisa e trazer os Mutantes finalmente para a Marvel conectando ambos os universos através de alguma porta Multiverso… É, você não foi o único a se decepcionar… e que ENORME desperdício (pra não falar desrespeito) ao ator Evan Peters, que se sua presença começa intrigante, no final é reduzido à um enorme nada e uma piscadela dos criadores para seu público dizendo: “te peguei” que só vai causar mais descontentamento do que uma reação positiva para as escolhas criativas feitas aqui. E não ajuda muito que tudo se resume a uma piada a uma piada sobre ereção (sim, você leu certo!).

Matt Shakman – diretor de todos os episódios da série, vai no piloto automático (como é de se esperar da maioria dos diretores por detrás de vários dos filmes da Marvel) e faz um trabalho…competente. A recriação estética dos anos 50 e 60 televisivos é estupidamente perfeita, em tom e até na montagem de cenas e quadros. Mas isso é mais um trabalho da equipe técnica do que ele próprio como diretor que deve estar preso a responder uma lista de demandas a cumprir e colocar na tela, mas com seus momentos de brilho aqui e ali, quando realmente focam na premissa televisiva.

  • 1º Episódio faz uma mistura de sucessos icônicos dos anos 50 e 60 desde de The Dick Van Dyke Show à I Love Lucy ressuscitando brevemente a boa e velha comédia sitcom clássica cheia humor verbal, performances deliciosamente exageradas e ótimo uso de trilha sonora e o público ao vivo
  • Episódios 2 e 3 é uma outra deliciosa amalgama entre A Feiticeira e Jeannie é um Gênio, e o 3 principalmente terminando com uma sequência que parece tirada direto de The Brady Bunch, tendo uma pitada de comédia screwball bem no finalzinho que funciona lindamente ao integrar humor drama e mais mistério nos mesmos minutos finais (pena que o resto da série não seguiu tanto assim…)
  • O 4º Episódio basicamente sendo o episódio das explicações e revelações, tão cedo na temporada que assusta o desespero narrativo em ter que se explicar tão abruptamente e com medo de prosseguir com o mistério que vinha construindo.
  • O Episódio já vai para os anos 70 e temos um pouco de Full House com Modern Family, meio monótono e só piora com os segmentos fora da cidade, mas é sem dúvidas o melhor final de um episódio da série
  • 6º Episódio vai para os anos 90 fazendo uma versão de Malcolm in the Middle com super poderosos e tendo um final agonizante, e momentos legitimamente engraçados.
  • O Episódio já vamos para séries desse século com claros traços de The Office e Parks and Recreation, seguido de algumas das revelações que afundaram quaisquer resquícios de intrigante que a série tinha.
  • Episódio já é algo mais próximo de um filme da Marvel com mais revelações, mas com um real momento dramático que faz valer a pena assistir.
  • E o 9º Episódio já é o filme da Marvel que todo mundo espera, cheio de revelações e embate final épico, tentando enfiar humor e diálogos rasos no meio onde deveria estar tendo era uma porrada entre super-poderosos. Mas você com certeza já viu o exato mesmo clímax em diversos filmes do MCU e feitos amplamente melhor!

As ideias presentes estão longe de ser ruim, só que a série por diversos momentos parece indecisa em como e aonde ir, se começa desenvolvendo uma linha de intriga e mistério sem pressa para entregar nada, logo se recheia de personagens e embaralha seu foco. Deixando a criação de mistério tanto turva como inóspita porque se você ignorar suas expectativas pessoais, verá o quanto a série segue um caminho bem previsível e que tudo que você imagina (já conhecendo o histórico do MCU), vem a acontecer.

O que é uma pena, pois a narrativa criada e supervisionada pela showrunner Jac Schaeffer não é de todo ruim, e cujo trabalho aqui com certeza deve ser encarado como a própria quis construir uma história, não em uma escala gigantesca de espetáculo cheia de reviravoltas mirabolantes e se conectar com outros 32 filmes. E sim focar em algo mais intimo e profundo para com a personagem de Wanda, e traçar uma jornada de herói que não se ateia simplesmente à clichês (embora seja cheio dos mesmos), mas que tenta ir além em mostrar essa mulher fazendo uma escolha de vida. Uma escolha de ter sua família, viver como a mulher de casa, e lutar com todas as forças para isso, mesmo que por meios bem questionáveis como se é revelado. 

Mas, por ter sua protagonista feminina, não busca pregar uma lição de feminismo barato e encomendada tipo um Capitã Marvel ou Aves de Rapina, e sim vai além em mostrar a personagem em total poder se suas escolhas, que seus erros possuem consequências para outros e ela no final os reconhece, realizando um sacrifício que é sentido e é bem costurado até então. Se há uma vitória aqui, é que finalmente Wanda teve o tratamento que tanto o Capitão América teve em Soldado Invernal e Thor teve em Ragnarok, filmes que exploraram o melhor do personagem, lhes deu uma identidade e deixou o público faminto para mais dos mesmos, e Wandavision faz o mesmo em tornar Wanda Maximoff na Feiticeira Escarlate! Pena que não foi em um projeto realmente a altura do potencial da personagem.

Com Elizabeth Olsen sem dúvidas entregando o melhor dela na personagem até hoje, encontrando um ponto central no coração, humanidade e humor da personagem que vira uma verdadeira mãezona (literalmente) como também a poderosíssima feiticeira que é. Mas quem rouba a cena é Paul Bettany, que outrora sempre foi o herói certinho centrado, tem a chance aqui de descascar o personagem realmente descobrindo o que é ser humano e encontrando o ponto certo do seu ar caricato, e ambos atores se mostram claramente estar se divertindo aos momentos nos papeis. 

O resto do elenco é ok, mas a dupla central é que é realmente ótima, mas ofuscados por uma série que dá várias voltas idas e vindas de estabelecer coisas que não dão em nada e perdendo muito tempo querendo ser engraçadinha, a série talvez se sustente em ser minimamente divertida e deixar ganchos interessantes no final, mas a jornada até lá, consegue ser bem desinteressante… 

Raphael Klopper – estudante de jornalismo

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