Os saraus se caracterizavam anteriormente por serem eventos musicais e/ou literários que aconteciam à noite em casas particulares de pessoas que se reuniam com o intuito de promover a integração social e cultural de um determinado grupo. Sarau, palavra originária do latim “seranus” que significa “serão”, deveria ser sempre uma atividade que é realizada durante a noite. Entretanto, hoje, a coisa mudou um pouco de figura.
Na Idade Média, os saraus eram os momentos em que se apresentavam cantores e trovadores. Imortalizados no século XVIII, na corte de Luiz XV, os saraus (do francês soirées, usado da mesma forma na Inglaterra) marcaram a época do Romantismo no Brasil, por tornarem-se o espaço de encontros e exposição social, para além de ambientes de debates e de conhecimento das ideias abolicionistas e libertárias dos artistas. Então, em 1808, ao chegar ao Brasil com D. João, e seguindo os moldes dos salões franceses, eram um privilégio de seleto público. Inicialmente, eram realizados no Rio de janeiro, mas logo fazendeiros de São Paulo resolveram aderir à moda, e já na metade do século XIX estavam espalhados por todas as capitais.
Em Londres, o termo soirée, a partir de 1660, tinha uma particularidade a mais. Essas reuniões noturnas na Royal Society (instituição destinada à promoção do conhecimento científico fundada em 28 de novembro desse ano) versavam sobre filosofia natural, discussões científicas, experimentos e faziam exibição de objetos incomuns. Vê-se, portanto, que um sarau era também, genericamente considerado, uma reunião entre pessoas com fins em comum.
Hoje, os saraus não precisam mais de pianos de cauda, trajes a rigor e serviçais, mas de pessoas que queiram dividir, mais especificamente, música, literatura, arte visual ou multimídia, podendo acontecer em bares, porões, praças, teatros ou em casa.
Animadas para a divulgação do cordel no contexto das artes no Reino Unido, realizamos, no dia 28 desse mês, um encontro poético, o que se conhece como Sarau de poesias, aqui em Londres, do qual participei, cuja temática escolhida foi o cordel. A literatura de Cordel é uma manifestação literária tradicional da cultura popular brasileira, mais precisamente do interior nordestino, como Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Pará, Rio Grande do Norte e Ceará. Por esse motivo, o cordel nordestino é um dos mais destacados no país, tendo adquirido mais força no século XX, sobretudo entre 1930 e 1960. Temos muitos escritores famosos mundialmente por esse estilo, tais como João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna e Guimarães Rosa.
Essa manifestação artística foi introduzida pelos portugueses, no Brasil, em fins do século XVIII. Na Europa, ela começou a aparecer no século XII em outros países (França, Espanha e Itália) e se popularizou no período do Renascimento. Em sua origem, muito poetas vendiam seus trabalhos nas feiras das cidades, o que se perpetuou nos livretos xilogravados por nossos estados. Hoje o cordel também anda na boca de grandes poetas que reproduzem o estilo, como, por exemplo, Bráulio Bessa.
O Sarau de Cordel de Poetas Brasileiras do Comitê Cultura do Grupo Mulheres do Brasil, aconteceu de dia, no Victoria Embankment Gardens. A voluntária e responsável pelo comitê, Katya Britto, e voluntárias reuniram mais de 15 mulheres entre elas algumas artistas brasileiras do cenário literário, artevisual, e membros da comunidade brasileira interessados em arte e cultura. Lá reunidas, conhecemos mais sobre as atuais cordelistas do Brasil.
Algumas das pessoas presentes leram o cordel de poetas mulheres mais conhecidas no cenário atual, do Brasil, outras apresentaram seus próprios cordéis. A meu convite e do Comitê Cultura de Londres, a cordelista Anne Karolynne (@poetisa.annekarolynne) trouxe uma participação especial ao evento. Estiveram lá prestigiando o encontro Regina Marques do Colegiado do GMB, entre outras escritoras, artistas e interessadas em arte, e eu, que li meu módico texto (aprovado pela Anne), que segue aqui para sua apreciação.
Abraços e obrigada por sua companhia até aqui.
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Janice Mansur é escritora, professora, revisora de tradução, criadora de conteúdo e psicoterapeuta (atendendo online).
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