Um dos países mais inclusivo e diverso do mundo atrai cada vez mais profissionais brasileiros

Finlândia é referência em igualdade social e no mercado de trabalho

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A Finlândia não é reconhecida apenas por ser o país mais feliz do mundo, a inclusão e  a diversidade fazem com que o país ocupe o segundo lugar, no mundo, no Índice de Igualdade de Gênero, segundo o Relatório Global de Desigualdade de Gênero de 2022. As leis anti-discriminação, a valorização das mulheres, e as políticas de equidade reforçam como esses valores são essenciais para a sociedade nórdica, que trabalha o assunto desde cedo nas escolas. 

Segundo a embaixadora da Finlândia no Brasil, Johanna Karanko, sistemas que promovem a igualdade desempenham um papel importante em ajudar homens e mulheres a alcançarem a felicidade pessoal, o que contribui para a felicidade geral da nação. Ela destaca, ainda, que o investimento na educação foi o caminho para a inclusão. “Independente da orientação política, os governos sempre se comprometeram com a igualdade de gênero. A Finlândia trabalha pela igualdade de gênero na União Europeia, em fóruns multilaterais como as Nações Unidas, bem como em nossas relações bilaterais”.

Heidi Virta

Para a diretora da Business Finland para a América Latina, Heidi Virta, autora do livro “How to be Happier and Worry Less? 10 Clues from Timeless Wisdom”,  países mais igualitários tendem a ser mais felizes. “Embora outros fatores também influenciem o bem-estar, a igualdade e a inclusão são especialmente importantes, não apenas em termos de gênero, mas em todos os aspectos da diversidade. A Finlândia foi eleita o país mais feliz do mundo sete vezes consecutivas, porque a igualdade está presente na sociedade. O acesso à assistência social básica é garantido, assim como a igualdade de gênero, de classe social e de oportunidades. Todos têm as mesmas chances de prosperar, independentemente de onde nasceram ou de suas condições. Isso cria uma sociedade em que o bem-estar é compartilhado por todos, reforçando os altos índices de felicidade”.

Mercado de trabalho

Um estudo publicado em 2022 pela Organização Internacional do Trabalho das Nações Unidas descobriu que dentro das empresas o nível de igualdade e inclusão está associado a maior inovação, produtividade e desempenho das equipes, pontos importantes que colocam o país nórdico entre os 10 mais inovadores do mundo, segundo o Índice Global de Inovação. “Acreditamos que investir em equipes diversas em gênero, cultura, nacionalidade, experiências e gerações nos ajuda a manter um alto nível de seleção e retenção de talentos, além de promover a criatividade e cooperação”, revela Laura Lindeman, diretora sênior da Business Finland.

Dentro da cultura de trabalho também há uma hierarquia horizontal, humana e participativa. Não há distinção e privilégios entre homens e mulheres. As mulheres representam 49% da força de trabalho finlandesa. Creches acessíveis e de alta qualidade (desde 1973), refeições escolares gratuitas (desde 1943) e fortes direitos de maternidade e paternidade facilitaram a vida das mães que desejam ter uma carreira na Finlândia.

A brasileira Brena Valéria da Cruz Cardoso se mudou para a Finlândia em 2023 para assumir o cargo de UX designer numa empresa de games que faz parte da PlayStation Studios. Impactada pela cultura de trabalho no país, que equilibra vida pessoal e profissional, ela admite que além da flexibilidade e confiança, outro ponto que faz um funcionário feliz na Finlândia é a inclusão. “Sou uma mulher trabalhando numa indústria majoritariamente masculina, e aqui sinto que sou valorizada e respeitada, o que faz toda diferença na entrega final”, afirma ela.

A embaixadora explica que o desenvolvimento da Finlândia, com poucos recursos naturais para um estado de bem-estar industrializado, está intimamente ligado aos avanços nos direitos das mulheres e à igualdade de gênero. “A jornada rumo à igualdade começou antes mesmo da independência da Finlândia. Tudo começou com a educação. De acordo com a Lei da Igreja de 1686, todos, tanto homens quanto mulheres, tinham que aprender a ler antes de se casarem”, explica ela. A Finlândia também foi o primeiro país do mundo a conceder às mulheres o direito de votar e de concorrer às eleições, em 1906. Em 2024, 46% dos membros do Parlamento são mulheres. 

Marina

Desde agosto deste ano, Marina Barboza, de 33 anos, head de Inovação & Startups na Venturus, empresa que oferece soluções em tecnologia, está fazendo um intercâmbio na Finlândia através do Programa de Negócios e Conexões da Helsinki Partners, da Business Finland. Ela vai ficar apenas dois meses por lá, mas admite que está tão apaixonada pelos valores e a cultura nórdica que não queria voltar para casa. “Eu me sinto segura, posso andar sozinha à noite na rua. Os finlandeses não fazem “brincadeirinhas” indelicadas. Eles são muito respeitosos. Também senti que aqui  tenho voz. Eu posso ser eu mesma, posso dar minha opinião e sou respeitada. Não preciso me repetir várias vezes e não me cortam quando estou falando. Muitas portas que abriram pra mim aqui, em tão pouco tempo, não se abriram no Brasil. Eu fui tratada de maneira igual e nunca me senti tão acolhida e vista”, relata.

Heidi Virta é finlandesa mas vive no Brasil há pouco mais de três anos. Para ela,  embora os dois países sejam muito diferentes, algumas ações adotadas na Finlândia podem servir de inspiração para promover a igualdade de gênero no Brasil, como o investimento em treinamentos, implementação de processos seletivos inclusivos e metas para promoção da diversidade. Outro ponto que ela destaca como primordial é o investimento em políticas públicas para que haja equilíbrio na vida profissional e pessoal. “Na Finlândia, há uma proteção pré-natal gratuita e nosso sistema de licença parental de até 1,5 ano, pode ser dividido entre os pais, com um mínimo de seis meses reservado para cada um. Além disso, o país oferece trabalho remoto e horários flexíveis para que tanto homens quanto mulheres possam conciliar as responsabilidades familiares e profissionais”.

Diversidade 

Rick e Thiago

Na Finlândia, a legislação é rigorosa em relação à discriminação e inclui medidas que garantem, por exemplo, uniões entre casais do mesmo sexo e adoção de crianças. Empreendedor e especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão, Henrique Chirichella, 34, mora em São Paulo com o companheiro Thiago Sartorato, 34, que é Coordenador de Análises Clínicas. O casal participou de um concurso para conhecer a Finlândia e vivenciar a felicidade finlandesa. Eles foram escolhidos entre milhares de inscritos e passaram uma semana no país nórdico. Ficaram impressionados com a cultura da diversidade ao chegarem ao aeroporto e se depararem com banheiros femininos, masculinos e neutros. 

“Andamos de mãos dadas e não houve um único olhar de desprezo, ameaça ou constrangimento. Durante a viagem, nossos gestos de carinho não foram vistos como ativismo ou ataque, foram apenas momentos normais entre um casal”, conta Henrique, que se impressionou com a cultura de inclusão e diversidade do país. “Todos vivem em harmonia.” 

Laura Lindeman explica que a discriminação com base em gênero, identidade de gênero e expressão de gênero é proibida por lei no país, com estruturas de monitoramento e fiscalização em vigor. Ela destaca ainda que a Finlândia está em 3º lugar em liberdade pessoal no ranking do Legatum Prosperity Index 2023. “As escolhas individuais não afetam as relações no ambiente corporativo ou as chances de promoção. Para os finlandeses, é importante que todos tenham uma oportunidade igual e possam realizar seu potencial”. 

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