Entre outubro de 2021 e fevereiro de 2022, diversas atividades culturais serão desenvolvidas inspiradas pelo movimento modernista. Desde batalhas de Slam, a lançamento de livros, exposições, danças, festivais e releituras da própria história.
Como o grupo da Fábrica cultural do Capão Redondo que irá apresentar uma releitura do manifesto Modernista através de uma visão atual e periférica. O Museu Índia Vanuíre organizou uma exposição virtual, webinar e mostra de filmes “Antropofagia: Múltiplos Olhares”, abordando a relação entre a cultura indígena, o movimento modernista e a produção de arte contemporânea com seu Manifesto Antropofágico. Já no Museu Casa de Portinari, haverá uma exposição com tecnologia de realidade aumentada de `Cândido Portinari, um Mestre da Pintura – Coletânea Virtual” que reúne as obras do pintor.
Considerado o marco do Modernismo no Brasil, a semana de 1922 recheou o Teatro Municipal com música, dança, poesia, exposições e palestras. Num período de oligarquias, a República Velha do café com leite e a elite paulistana consideravam a arte sob o ponto de vista de uma estética européia, formal e acadêmica. Oswald de Andrade e Anita Mafaltti trazem de fora influências e colaboram para essa transição da busca da arte nacional, de narrar e expressar a nossa história de forma genuína.
Assim surge o Manifesto Modernista que busca a identidade brasileira, na sua raiz, na sua cultura, linguagem, sua estética e na sua forma. Diversos artistas, pensadores e escritores se reúnem para narrar uma arte brasileira. O evento foi aberto por Graça Aranha, já consagrado na época pela obra Canaã (1902).
Mário de Andrade em 1928 lança 800 exemplares da obra Macunaíma, o famoso herói sem nenhum caráter traz uma trajetória que reelabora literariamente temas de mitologia indígena e visões folclóricas da Amazônia e do resto do Brasil, fundando uma nova linguagem literária, totalmente brasileira. A arte enquanto processo de identidade nasceu nessa época. Só para se ter uma ideia da tamanha importância desse movimento que influenciou todo o Século XX.
Nas artes plásticas além de Anita Mafaltti, temos Di Cavalcanti, Cândido Portinari, entre outros, temos a maravilhosa Tarsila do Amaral que com a influência do surrealismo na fase antropofágica e do cubismo, pintou cores vivas em óleo, com uma estética fora do “padrão”, como Abapuru, obra que se tornou um clássico, internacionalmente consagrada, um dos quadros mais importantes da arte brasileira, que representa o traço brasileiro, a expressão da nossa nacionalidade através das influências europeias. Inspirada em sua obra, a TV Cultura irá lançar o filme infantil “Tarsilinha”, com direção de Célia Catunda e Kiko Mistrorig, esse projeto faz parte da programação geral de memórias e disseminação de conhecimento sobre o Modernismo no Brasil. Assim como o Ciclo de cinema “Só a Antropofagia nos Une” que também será transmitido pela Rede Cultura, com filmes brasileiros modernistas que ecoam a Semana de 22.
Na dança haverá Ciclo de apresentações “Solos Brasileiros: uma Dança para Villa-Lobos” inspirada nas “Bachianas” de Heitor Villa Lobos e também terá apresentações de “Pau Brasil – Inspirações Modernistas” da São Paulo Companhia de Dança e da Orquestra do Theatro São Pedro. O Festival online “Esquenta Moderno” organizado pelas Fábricas de Cultura da Zona Norte, Zona Sul e Diadema, com música, teatro, cinema, ciclo de debates, podcasts, oficinas e formação para arte educadores sobre a vanguarda modernista e os movimentos artísticos contemporâneos já começou agora em julho e vai até dezembro de 2021 na plataforma Mais Cultura https://poiesis.org.br/maiscultura/
No teatro haverá Ciclo de leituras dramáticas “Modernistas na Mesa” na Oficina Cultural Oswald de Andrade, com obras clássicas e contemporâneas de dramaturgos que tratam o modernismo em seus textos. Uma série de apresentações também será feita pelos estudantes da SP Escola de Teatro sobre o “Festim Antropofágico Revisitado”, será apresentado no Teatro da Praça Roosevelt, o projeto reproduz a performance em que o palhaço Piolin era simbolicamente devorado pelos modernistas.
Já está sendo transmitido gratuitamente pela plataforma #CulturaEmCasa o Seminário “100 Anos da Semana de 22” que ocorre no Teatro Sérgio Cardoso, realizado em parceria com a Academia Paulista de Letras, o evento vai até fevereiro de 2022.
A programação é imensa e a variedade de exposições, workshops e performances vai ultrapassar o que foi a própria semana de 1922. O público e os artistas terão a oportunidade de fazer uma releitura do que foi a semana de Arte Moderna e o que ela representa hoje. Mais do que isso, é momento de refletir como a nossa nacionalidade se expressa artisticamente hoje. Com essa diversidade de Cultura que temos, pode-se dizer que temos diversas formas de linguagem dentro do mesmo país, o que seria essa semana se fosse hoje? Qual manifesto seria essencial para gerar uma nova era na arte brasileira? A Velha República às vezes retorna e precisamos saber através da arte como transformá-la na Nova ideia, no novo tempo.
Hoje as influências e referências artísticas são imensamente ampliadas através da internet e encontrar algo genuíno está cada vez mais distante. Seria muito interessante ver nascer um novo movimento inspirado na estética brasileira. Depois de 100 anos acredito que podemos reavaliar a nossa história. Na certeza que esse novo manifesto viria recheado de diversidade, liberdade, quebrando os padrões do nosso tempo.
Para ter acesso a programação completa, basta acessar o site cultura.sp.gov.br, serão quatro meses de atividades das mais diversas, onde o público terá a oportunidade de retornar ao passado e refletir sobre o presente. Um presente para nós poder revisitar obras que determinaram a estética nacional de uma época.
Fernanda Magnani – Atriz, Professora de Teatro e Palestrante