Quando você pode perceber que não é amor?

5 min. leitura

A poesia abaixo, escrevi em 2012, e muita coisa de lá pra cá mudou. Mas você pode ver na última linha dela, uma expressão interessante: “sonho idealizado”. Então, pelo final dela começamos este artigo, pois para responder à pergunta do título preciso tratar desse tema: idealização. Não há amor que não parta dela.

Idealizar o ser amado é projetar nele todas as nossas expectativas de sonho. É voar na direção do projetado. É sentir com se o chão se abrisse só em pensar em sua ausência. É todas as falácias que o romantismo nos prometeu: de não viver mais sem ele, de não haver sentido em estar separado. Talvez essa idealização não seja de fato amor, mas a escada que nos leva a ele, muito embora possa ser somente paixão e termine no primeiro atrito, na primeira decepção ou frustração. Suportar a frustração é o amadurecimento que só a realidade pode trazer, é continuar a amar o outro, embora se conheça muitas de suas falhas. Não é esperar um super-herói ou super-heroína, mas reconhecer que naquele ser de carne e osso possa estar alguém com quem queiramos compartilhar a vida.

amor idealizado

Fonte: pixabay

E perceba, caminhando pela leitura, que o ser amante (aquele que ama) diz sempre que é o SEU amor: “o meu amor” que se estende, se prolifera, se esparge… Portanto, podemos ver nas entrelinhas que ele não fala do amor do outro, mas daquele que ele sente, imagina, ou sonha. Delira? O que brota no seu íntimo, quem sabe mesmo nessa projeção de si para o outro.

amor idealizado

Mas idealizar é amar?

O amor para o poeta é uma espécie de simbiose, uma apologia à união incondicional, uma fixação. Como pode alguém viver assim? Colado, grudado, amarrado, fundido? Depois de sua reflexão, me conta o que pensa!

Quando eu disse que muita coisa de lá pra cá mudou, é porque eu não tinha a menor ideia de quem estaria me tornando, a ponto de hoje conseguir entender o processo de amar, ou se apaixonar, ou coisas assim.

Mas como vinha dizendo, sem a idealização de que o outro é espetacular, diferente, incrível, o início dos relacionamentos seria um tanto quanto morno e talvez nem acontecesse. Entretanto, é preciso, passada a fase inicial de devaneio, colocar os pés no chão, não necessariamente pôr um freio em tudo, mas armar-se de atenção, para que depois o que era a pessoa “ideal” não se transforme no lobo mal ou no dragão.

O meu amor

O meu amor se estende

feito relva pelo campo

cresce na direção do infinitivo

e cria mares subterrâneos

que deságuam em “eu te amo”

O meu amor se prolifera

feito fungos de roquefort

dá sabor a minha vida

é alimento de minh’alma

é comida certa para meu coração

O meu amor se esparge

feito gotículas de vapor na serra

me suaviza do verão da Terra

me traz calmaria, paz e aconchego

me refresca o ser

O meu amor se movimenta

numa espécie de simbiose

entre mim e você

metamorfose de energias divinas

que se entrelaçam e dormem juntas:

irmãs gêmeas de um sonho idealizado.

De meu livro: O mesmo amor.

Se você gosta de meu trabalho, dê-me o prazer de conhecer meu livro novo “A Felicidade de Florbela”

no site da editora Pangeia:

*Janice Mansur é escritora, poeta, professora, revisora de tradução,

Psicoterapeuta e Psicanalista  (atendendo online) e

criadora de conteúdo no Instagram@janice_mansur 

e no canal Better and Happier https://www.youtube.com/@betterhappier7501

Contemplada no Tof of Mind Awards Internacional UK 2022,

 na categoria Escritora Destaque do ano. 

Deixe um comentário
Cadernos
Institucional
Colunistas
andrea ladislau
Saúde Mental
Avatar photo
Exposição de Arte
Avatar photo
A Linguagem dos Afetos
Avatar photo
WorldEd School
Avatar photo
Sensações e Percepções
Marcelo Calone
The Boss of Boss
Avatar photo
Acidente de Trabalho
Marcos Calmon
Psicologia
Avatar photo
Prosa & Verso