Causado pelo acúmulo de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, o aquecimento global está entre as grandes preocupações da nossa era — senão a principal. No esforço de conter o volume desses gases, é imprescindível que, além de reduzir drasticamente novas emissões, seja feita a manutenção de extensas áreas verdes para absorver o carbono existente na atmosfera.
Aprendemos na escola: plantas usam o carbono do ar para fazer a fotossíntese, processo pelo qual se alimentam e crescem. A questão é como usar a natureza a favor da humanidade, preservando florestas e pensando a longo prazo ao invés de derrubá-las para o uso imediato do território.
Tão importante é a ação das florestas para garantir nossa sobrevivência no planeta, que hoje existem formas de monetizá-la, em um mercado exclusivo: o de créditos de carbono. “Empresas que são responsáveis por emissões de carbono na atmosfera de todos os setores, desde a emissão de combustíveis por aplicativos de delivery até grandes indústrias, hoje são cobradas tanto pelo consumidor quanto por investidores a compensar suas emissões”, afirma Bruno Bolzam, CEO da Vert Ecotech, startup que trabalha com a negociação de créditos de carbono.
No entanto, a viabilidade de usar uma determinada área verde para a geração desses créditos passa por uma série de regras. Deve ser feito um projeto para começar a contabilizar o volume de carbono capturado, que envolve a relação de espécies no local, a existência de comunidades humanas, entre outras questões, para só então, ser possível começar a comercializar seu potencial de geração de créditos de carbono. Ou seja: não é toda área que pode gerar créditos. Sua viabilidade depende da metodologia aplicada.
Bolzam explica que existem diferentes metodologias para certificar áreas preservadas para que elas possam comercializar seus créditos de carbono. “Tivemos um grande avanço no setor e, atualmente, existe metodologia reconhecida internacionalmente que permite explorar as reservas para seu potencial de captura de carbono, o que no modelo anterior não era possível”, diz. Além disso, empresas que buscam trabalhar diretamente com esse mercado, fazendo a intermediação entre negócios poluentes e geradores de créditos, precisam ter sua metodologia reconhecida por agentes internacionais, como a ONU.
Um exemplo de sistema falho é o que ocorreu com a Verra, certificadora de créditos de carbono internacional que teve sua metodologia analisada pelo jornal britânico The Guardian e, nesta análise, foram descobertas falhas fundamentais. “A metodologia utilizada pela Verra era chamada REDD+. Ela permitia a geração de créditos de carbono em áreas que não adotavam ações sociais e que ultrapassavam o excedente de reserva florestal, não combatendo de fato os problemas ambientais e permitindo ações adversas no âmbito social. Já a metodologia ARR, mais inclusiva, demanda transparência e ações sociais para a geração do crédito de carbono”, finaliza o especialista.