Há pessoas que preferem não se relacionar a arriscar um encontro “às cegas”. Alegam muitas vezes que há muitos desequilibrados soltos por aí. O que é fato. Todavia, as situações complicadas e desgastantes, que algumas pessoas vivem com o outro, não necessariamente têm de se repetir em sua vida. Os seres humanos têm uma infinidade absurda de personalidades e modos de pensar e se comportar. Os tipos de pessoas e mentalidades são incontáveis, e não se pode generalizar nunca – já generalizando.
Relacionar-se não é tão difícil como propalam alguns, mas é algo bastante complexo, pois as pessoas provêm de diferenciadas formas de educação, experiências e histórias de vida. Entretanto, o medo mórbido pelo qual os indivíduos têm se esgueirado de relacionar-se com o outro, seja de que maneira for e seja ele quem for, tem feito o mundo interior dessas pessoas ficar mais frio e solitário. Como poderíamos nos precaver, sem nos fechar para o que a vida nos oferece?
Obviamente, não estamos dizendo que a vida hoje é um mar de rosas e que nos relacionamentos tudo são flores, mas podemos ver com “olhos livres”, embora estejamos aprisionados em nossa realidade cotidiana. Se, o tempo todo de nossas vidas, estivermos reclamando, nos compadecendo por tudo de ruim por que passamos, valorizando seus aspectos negativos sem entender que o que acontece nos serve de aprendizado; assistindo a programas televisivos que só mostram o que é mal: roubos, mortes, assassinatos, falcatruas e traições, nunca estaremos com nossa mente limpa e leve, livre e aberta para enxergar o que há de bom e legítimo, que também está solto por aí.
Vemos muitos casos de pessoas perniciosas ou nocivas às outras. Mas não é somente porque alguns obsessivos, por exemplo, atacam mulheres que devemos nos trancar para os homens interessantes que possam surgir. Ou ao contrário, não é porque você foi traído por sua amada que vai ficar achando que todas farão o mesmo um dia, e, por isso, vai se colocar na posição do “fechado para balanço”. Todos somos falhos, sem exceção, e algumas falhas são bem perdoáveis. Então, permitamo-nos, por favor!
As pessoas idosas ou tidas como da “melhor idade” ou terceira idade têm muito medo de se dar mal em virtude dos diversos golpes que lhes são aplicados. Porém, devemos ter a compreensão do todo e simplesmente saber como conhecer alguém ou como deixar com que se aproximem. Uma forma inteligente de uma jovem senhora encontrar alguém que conheceu pela internet, por exemplo, é marcar com a pessoa em um lugar aberto e público, como um shopping, com um horário mais ou menos previsto para o início e o término desse encontro. Se você cria uma certa dificuldade para o “curioso” e ele não tem a vontade de ter uma relação no mínimo de respeito, se não estável, com você, pode ficar certa de que o cidadão vai se furtar rapidamente a outro encontro do tipo “sou de família”.
O mesmo se dá com todos os gêneros. Conheci um homem gay que por se relacionar superficialmente com outro – não conhecendo seu caráter –, vendeu seu apartamento para ajudá-lo e tomou um “pé na bunda”, porque na verdade era um golpe. E ninguém está livre de coisas do tipo, por isso é necessário um bom tempo de convívio, conhecer os parentes, o núcleo familiar, os amigos, para que se possa ampliar a visão do outro. E necessário não ser tão ingênuo, mas importante também não ficar paranoico por tudo, não é?
Cautela é a palavra de ordem no que diz respeito, hoje, a relacionamentos. Não é necessário afastamento do mundo e das pessoas, mas saber como conhecê-las, como encontrá-las e como permitir que participem de nossa vida. As pessoas têm de ter limites para entender que o outro não é sua posse, seu despertador, sua empregada, seu saco de pancadas e tudo o mais. Uma relação para ser saudável deve dar espaço ao outro de ser livre para desejar estar “preso”, deve estimular o crescimento do parceiro em todos os sentidos, física e espiritualmente, deve abolir o ciúme, deve propiciar a comunhão de almas com objetivos afins, ajudando-nos a ter uma melhor qualidade de vida e, acima de tudo, dando-nos alegria para vencer as vicissitudes e muito prazer. Assim, o medo – em qualquer de suas formas – poderá ficar em segundo plano (que é onde deveria estar sempre), agenciando nossos mecanismos de defesa sem nos gerar neuroses a mais.
Janice Mansur é poeta premiada, professora, revisora de tradução e criadora de conteúdo.
Visite a autora também no site do Jornal Notícias em Português (Londres) e na Academia Niteroiense de Letras.
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