Até o dia 03 de setembro, as instalações urbanas do Play Festival continuam ocupando as ruas em cinco regiões do Rio de Janeiro: zona sul, na Praça do Largo do Machado e Oi Futuro, centro na Praça Mauá e Museu de Arte do Rio, zona norte, no Parque Madureira e Arena Fernando Torres junto a Zonas de Cultura Madureira, no Marco 11 e Ser Cidadão, em Santa Cruz, e Centro Cultural Oscar Niemeyer e Biblioteca Pública, em Duque de Caxias.
Entre os artistas estão Agrade Camiz, com a obra {A}grade e Divisa, Sallisa Rosa e Sucata Quântica, que apresentam o Labirinto, Heberth Sobral, com as obras Cubo Cubista e Roda Gigante, Cama de Gato da artista Adrianna Eu e Rommulo Vieira Conceição com a instalação “A fragilidade dos negócios humanos pode ser um limite espacial incontestável”.
Com idealização e curadoria de Tathiana Lopes, especialista em cultura, educação e comunicação, com mais de 20 anos de experiência na realização de festivais e projetos multiplataforma, o Play conta com cinco instalações artísticas comissionadas, expostas em diversos espaços públicos da cidade, e se desdobra em uma série de ações e atividades que promovem experimentação e reflexão a partir das infâncias e juventudes, da cidade e suas diversidades.
“O Play foi criado a partir de algumas experiências artísticas que venho realizando, somado a experiência da maternidade e da minha atuação nos campos da arte e cultura nos últimos anos. E é elaborado através de um trabalho de pesquisa, mobilização e articulação territorial, em conversas com crianças e jovens, instituições culturais, sociais, lideranças e artistas de diferentes localidades, triangulando os diversos atores sociais para construção de um projeto que estivesse em diálogo direto com cada território, e através da arte, pudéssemos dialogar com a cidade, suas infâncias e juventudes”, comenta Tathiana Lopes.
O projeto se desdobra em diferentes ações que acontecem de forma descentralizada, promovendo diálogos e conexões com diversas localidades da cidade.
OBRAS
Sobre a obra “A fragilidade dos negócios humanos pode ser um limite espacial incontestável”, de Rommulo Vieira Conceição, para a exposição “Se Essa Rua Fosse Minha”, no Oi Futuro:
A série de trabalhos “A fragilidade dos negócios humanos pode ser um limite espacial incontestável” fala sobre essa incongruência do mundo moderno. No mundo, ele produz um padrão, um movimento estético. Mas, no Brasil, não resulta em grande abrangência na prática dos seus conceitos, na captura da sociedade brasileira de suas benesses. O padrão geométrico se estabelece no concretismo brasileiro visando uma sociedade igualitária: um padrão geométrico sem a importância de um parâmetro a outro.
As grades ainda guardam a sensação de insegurança, de proteção: o benefício do moderno, de igualdade social, de empoderamento, de possível, se trai com esse elemento! Entretanto, as grades usam os padrões geométricos deixados pelo moderno sem que o significado de moderno exista em sua plenitude, em sua prática, se tornando apenas um padrão estético. O muro, com o mesmo padrão concreto, se torna inviolável, impenetrável, com suas aberturas porta e janela totalmente bloqueadas. Não há comunicação entre o dentro e o fora. Não há fluxo. Não há espaço ou segurança para isso existir.
A escolha por esta obra de Rommulo Vieira Conceição, para compor o corpo expositivo da mostra “Se Essa Rua Fosse Minha”, se dá pela relação direta com a obra “Múltiplas Infâncias” criada pelo artista para ocupar as ruas, mais precisamente o Complexo Cultural Oscar Niemeyer, em Duque de Caxias.
Sobre a obra “Múltiplas Infâncias”, criada por Rommulo Vieira Conceição, para a Praça do Pacificador, em Duque de Caxias:
Criada para proporcionar uma experiência física que remetesse ao lúdico, mas não necessariamente a partir dos brinquedos convencionais presentes nos parques, o artista escolhe como elemento principal as catracas das estações comumente encontradas nas estações de trem.
“Dentro da minha memória de infância, me vieram rapidamente as catracas que ficavam nas estações de trem. A ideia de viajar de trem do subúrbio para Salvador ou vice-versa, era sempre motivada pelo fato de eu ter que passar pelas catracas. Sua função era a possibilidade de me pendurar numa de suas barras e ser empurrado pela minha avó, ou pela minha mãe.Era uma mistura de mistério, de solidão, isolamento, diversão, perigo e força, tudo junto. Achava aquele movimento tão breve, muito empolgante, o tamanho de tudo era agigantado.” Rommulo Vieira.
Se essas catracas têm uma função definida de limitar uma sociedade que pode e que não pode acessar espaços, que ela seja subvertida em movimento, em negociação desses espaços, em um labirinto lúdico que é viver. Que promovam a convivência, entretenimento e liberdade.
Sobre a obra “Cubo Cubista” e “Roda Gigante”, de Heberth Sobral, criada para a exposição “Se Essa Rua Fosse Minha”, no Oi Futuro:
Cubo Cubista é uma escultura geométrica composta de azulejos com imagens compostas por partes de bonecos playmobil, fragmentadas conforme a manifestação artística que leva no nome. A obra é um desdobramento da série de azulejos que compõem alto relevo, fotografias e esculturas, usando o azulejo como a linguagem principal, resultado de uma residência artística portuguesa, na qual o artista faz uma fusão da sua cultura de bonecos com a cultura local de azulejos portugueses.
Roda Gigante faz parte da série de releituras bem humoradas de obras consagradas. É uma versão da obra Bicycle Wheel de Marcel Duchamp, onde o artista utiliza os bonecos e a roda de uma bicicleta como roda gigante, convidando o público a interagir e mergulhar no imaginário bem humorado do artista.
Sobre a instalação Cubo Tetris criada por Heberth Sobral para o Parque Madureira
A relação com a obra Cubo Tétris criada por Heberth para ocupar o Parque Madureira se dá por meio dos elementos lúdicos e conceituais que compõem tanto a obra Roda Gigante como o Cubo Cubista. Que se constituem e são criadas a partir da utilização dos bonecos, dos azulejos e da materialização das peças que formam o grande o cubo que se desdobra no quebra cabeças que o jogo de Tetris propõe.
“Cidade é um jogo de tetris imobiliário, imigratório e cultural, onde as pessoas tentam se encaixar e se adequar a um grupo existente. A obra é criada por três imagens que compõem uma cidade. Os bonecos simbolizam as pessoas, e podem ser vistos de perto, mas num jogo de ilusão, o que se percebe ao ver a obra de longe são azulejos usados nas construções, e ao se afastar ainda mais o que se vê é um jogo de tetris refletindo as mudanças da cidade.”
“{A}grade” e “Divisa” de Agrade Camíz, criada para a exposição “Se Essa Rua Fosse Minha”, no Oi Futuro:
{A}grade
“Chamo de grade os princípios morais, as durezas do comportamento que criamos, as éticas que nos atingem , e a partir da ambiguidade do sentido de agradar, e de limitar, passo então a explorar a grafia da palavra, questiono em múltiplas direções as impossibilidades criadas pelos próprios núcleos sociais e que limitam a existência, padronizações através da grade. Em nossas casas, cercadas e seguras, nos protegemos de nós mesmos, dos nossos resultados. Se olharmos bem dentro, no fundo da caixa conseguimos nos ver entre belas grades, em espelhos partidos, um convite a olhar pra dentro”
Divisa é um desdobramento da pesquisa da artista, que se alastra nas discussões escultóricas e instaláveis, no mesmo passo que resgata estéticas e interações políticas para o seu trabalho no diálogo com os territórios, corpos e suas geopolíticas.
Sobre a instalação “Boitanga”, criada por Agrade Camiz para o Largo do Machado:
“Fui atrás da minha infância pra pensar nesse trabalho. Então trouxe as grades de janelas para o lugar do brinquedo trepa-trepa, e uma janela redonda, bem grande, passa a ser um gira-gira. Dessa forma, trago uma memória afetiva ligada aos territórios suburbanos, favelados, despertando a fantasia no transformar de janelas, grades, elementos relacionados ao lar, resignificando-os em arte e brincadeiras.
O Largo do Machado também está presente nesta obra, já foi uma lagoa e depois do seu aterramento, no século XVII foi chamado de Campo das Boitangas, “nome dado pelos negros da Guiné que ali trabalhavam numa plantação. Boitangas, que no dialeto dos africanos significa cobra que enrola, era um ofídio bastante comum nos alagadiços onde os escravos cultivavam arroz.” A pintura da instalação se inspira na popular cobra coral como uma forma de firmar outras identidades.”
“Labirinto”, de Sallisa Rosa e Sucata Quântica criada para a Praça Mauá:
A série de três croquis ou desenhos-projeto, Labirinto na mostra espelha precisamente os caminhos estreitos para o esboço que dá vida e sentido ao Labirinto que se fará presente, a partir da construção da artista e do coletivo, e as colaborações diversas do público, do tempo e do espaço presentes e circulantes na Praça Mauá no Rio de Janeiro.
Reflexão sobre a proposta de instalação:
“O labirinto acredita no caminho como uma metodologia tradicional artística possível para construção de sentidos. Usando o corpo como suporte, o ponto de partida é o eu.
Convocando-nos a desorientação do labirinto é dada a largada para a metodologia de percorrer a rede de caminhos e fronteiras, de certezas e dúvidas, em se perder ou se achar, onde circula o visível e o invisível, a dúvida, a tentativa e erro, os rastros, o retorno, a circularidade. Os caminhos são conduções de energia e mistério, escolher caminhos pela intuição, é escolher qual energia queremos ser conduzidos. As materialidades apresentadas aqui se dão por colheitas e investigações de materiais diversos no Rio de Janeiro.”
Sobre a obra “Cama de Gato”, de Adrianna Eu criada para o Marco XI em Santa Cruz:
As fotografias que formam a série Cama de Gato de Adrianna Eu nos convoca a um ativação da memória ao próprio gesto gerado pela existência da brincadeira, onde temos as presenças da artista e da linha vermelha, material que costura e se apresenta na poética de Adrianna, reaparece também aqui na construção das cenas.
Cama de gato também dá nome à instalação pública, que não só utiliza o nome como conceito, mas materializa em maior escala mãos e linhas trazendo a cidade para esse diálogo e conexão com a brincadeira e suas possibilidades de fruição e experiência. Localizada no Marco XI, Santa Cruz no Rio de Janeiro.
Adrianna nos revela:
“Quando eu era criança, uma de minhas brincadeiras preferidas era cama de gato. Me encantava ver como usando apenas minhas mãos e uma linha, era possível construir muitas formas diferentes que iam se repetindo infinitamente sem nunca deixar de ser possível uma nova trama.
A cama de gato vem sendo praticada há séculos em vários lugares no mundo todo e, para os etnólogos, ainda hoje é um problema explicar por que povos de regiões e culturas tão distintas – como os Maoris da Nova Zelândia, os esquimós do Ártico, os índios norte-americanos e os membros de várias tribos africanas – criam figuras exatamente iguais em suas “cama-de-gato”.
Talvez seja possível se pensar uma memória de um “ brincar” que seja maior que as fronteiras”.
Local:
Instalações Urbanas: Até o dia 3 de setembro
- Agrade Camiz – Praça Largo do Machado, na divisa entre os bairros do Flamengo, Catete e Laranjeiras
- Sallisa Rosa e Sucata Quântica – Praça Mauá em frente ao Museu de Arte do Rio no Centro
- Heberth Sobral – Parque Madureira em frente a Arena Fernando Torres
- Adrianna Eu – Marco XI em Santa Cruz
- Rommulo Vieira Conceição – Complexo Oscar Niemeyer em Duque de Caxias
ARTISTAS
Adrianna Eu
Adrianna Eu é carioca mas atualmente mora em São Paulo. Tem como seus temas principais as relações de um “eu” com o tempo, com o espaço que habita, com o outro e, principalmente, com ele mesmo. Adotou como sobrenome o pronome eu, com a intenção de provocar no outro uma sensação de estranhamento e considera isso sua primeira obra. Em sua formação, fez pintura na Escola de Artes Visuais – EAV, cursos livres de filosofia no Museu da República, frequentou grupos de estudos com artistas como Brígida Baltar, e se interessou por psicanálise. Já expôs em diversas instituições nacionais e internacionais. Seus trabalhos integram várias coleções, destacando-se Galeria Real – Amman/Jordânia; Museu Romulo Maiorana e MAR – Museu de Arte do Rio. Adrianna gosta de pensar que é só uma menina nascida em Vila Isabel e que sua trajetória é traçada pelo desejo.
Agrade Camiz
Artista multimídia, nasceu no Rio de Janeiro em 1988, onde vive e trabalha. Articula seus trabalhos usando a estética da arquitetura popular carioca, mesclando questões relacionadas à sexualidade, à beleza e à opressão feminina. Incorpora grades em muitos trabalhos, elemento que remete a imposições e padronizações do comportamento. A artista, além de produzir obras de diversas dimensões que podem ser exibidas em galerias e museus, também possui um trabalho expressivo como grafiteira e muralista em diversos pontos da cidade.
Heberth Sobral
Cursou História da Arte e Desenho Técnico com João Magalhães, figura humana e criação artística no Senac e o curso PRODUZIRVER- PENSAR, com Pedro França na Escola de Artes Visuais Parque Lage. Começou na área artística como assistente em 2005 quando fez um Workshop de fotografia que o levou a ser convidado por Fábio Ghivelder para trabalhar com Vik Muniz.
Rommulo Vieira Conceição
Artista visual que trabalha com diversos meios, como a instalação, os objetos, a escultura, o desenho e a fotografia, explorando as sutilezas de percepção do espaço na contemporaneidade e as relações do homem contemporâneo no mundo atual. Nasceu em 1968, em Salvador- Bahia, onde começou seus estudos em artes em 1983, sob a orientação da artista Célia Prata, na Oficina de Artes Plásticas da Escola Técnica Federal da Bahia. Atualmente, é representado pela Galeria Gestual, Porto Alegre e pela Galeria Bailune-Biancheri, em São Paulo. Desde 1998 vem realizando exposições individuais e coletivas, e residências artísticas no Brasil, na Argentina, na Austrália, no Japão e na Finlândia. Foi indicado duas vezes ao Prêmio Açorianos de Artes Plásticas (2010 e 2012) e três vezes ao prêmio PIPA (2010, 2011, 2018). Tem obras em vários acervos públicos, dentre os quais: Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo/USP; Museu Afro Brasil, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Museu de Arte do Rio e Museu Nacional de Belas Artes.
Sallisa Rosa
Nascida em Goiânia, em 1986, vive e trabalha no Rio de Janeiro (RJ). Atua com a arte como caminho e experiências intuitivas, ficção, território e natureza, sua prática circula entre fotografia e vídeo, mas também instalações e obras participativas. Sua primeira exposição individual aconteceu em novembro de 2021 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, MAM. O trabalho de Sallisa foi destaque na Trienal do SESC em Sorocaba (2021), na exposição Histórias feministas: artistas após 2000 no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MASP) (2019), VAIVEM, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (CCBB) (2019), na Bienal do Barro, Caruaru (2019), Estratégias do Feminino, Farol Santander, Porto Alegre (2019), Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte (2019) e Dja Guata Porã, Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR) (2017). Indicada ao Prêmio PIPA 2020.
Sucata Quântica
Sucata Quântica nasceu em São Paulo em 2018, como uma iniciativa coletiva de resgate de objetos, materiais e práticas por meio do reuso criativo (upcycling). Combate a lógica da obsolescência programada a partir da criatividade, da técnica e da diversão. Tem desenvolvido instalações artísticas em festivais como Frestas – Trienal de Arte do Sesc Sorocaba (2021-2022), cenografia de eventos (Encontros Lixo-Zero 2019 e 2022), mais de 12 oficinas para toda classe de públicos e com variedade de protótipos. Também tem sido expositora de mais de 10 feiras e exposições.
Sucata iniciou com a parceria de Hamilton Ortiz, Felipe Rodriguez, Bianca Walber e Sol Calderón. Hoje contamos com uma rede ampla de parceiros de design industrial, artes, permacultura, arquitetura e engenharia que é ativada para projetos específicos.
Classificação: Livre
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