Os pais nas fases da pré-adolescência e adolescência: O que acontece?!

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Quando se estuda o papel de pai e/ou mãe é possível colocar em destaque várias palavras que representam de certa forma algumas angústias na formação e no apoio de pré-adolescentes ou adolescentes. Contudo, o texto de hoje somente destacará duas palavras para contextualizar algumas reflexões: MEDO e DIVERSIDADE! E o convite é para refletir pela perspectiva do pré-adolescente ou adolescente.

Ao olhar o contexto social, a diversidade tem morada na convivência de indivíduos diferentes seja em relação à etnia, à orientação sexual, à cultura, ao gênero, à religião, à opinião etc. que coabitam um mesmo espaço, podendo ser de forma diária ou não.

No que se refere à palavra medo, a reflexão não será pautada no medo do escuro, do barulho ou do fantasma. É preciso refletir sobre o medo de não ser aceito por um grupo e por isso na verdade tem medo de errar e de não ser perfeito diante dos olhos dos outros.

Esse medo faz o pré-adolescente ou adolescente não conseguir se expressar ou conversar com outros colegas e/ou até mesmo com os pais e ele acaba realizando um movimento de isolamento (recalcamento) e de congelamento. Por não se reconhecer na sua individualidade, prefere não se arriscar!!!

A pergunta inicial para essas palavras é: Pai e/ou mãe, o que você acredita que faz um pré-adolescente ou um adolescente sentir-se pertencente a um grupo e/ou a um lugar?

Em todos os aspectos – inclusive socialmente falando, o questionamento sobre pertencer tem relação direta com a diversidade. E construir um ambiente aberto às diferenças é uma tarefa bastante complicada, pois as crenças e os costumes que fazem parte do comportamento humano são como regras/normas transmitidas de geração para geração que, quando não existe espaço para o diálogo e para a escuta (trocas saudáveis de experiências e de pontos de vista), acabam produzindo confrontos, preconceitos, violências, solidão (isolamento).

Para um pré-adolescente ou adolescente que está vivendo uma dinâmica de rompimento, já que está buscando conhecer a sua identidade (quem ele é enquanto indivíduo e cidadão – o reconhecimento do papel dele em todos os cenários da vida), a tendência é olhar para fora e realizar comparações para tentar se identificar. E o que normalmente acontece? Ele coloca-se como “ponto focal” e busca a identificação pela aparência – a partir daquilo que é visível e de mais rápida assimilação (modo de se vestir, de usar o cabelo, de falar e de agir, o tipo de cabelo ou de corpo!) –, eis que a educação tradicional o ensina desde cedo a seguir “padrões”. Mas se ele não tem o apoio e orientação (“elo de bússola”) dos pais ou responsáveis para conseguir movimentar esse olhar para dentro dele – ajudando-o a se enxergar e se aceitar com suas individualidades/particularidades – o adolescente acaba anulando-se, perdendo-se de si mesmo e sentindo-se não pertencente.

Isso acontece porque, ao olhar somente para o exterior (para o lado de fora), ele se depara com diversos “padrões pré-estabelecidos”, além disso existe uma força inconsciente que fala para ele do “dever” de seguir algo conhecido, e como o adolescente ainda não se conhece não sua inteireza – pois está se descobrindo, saindo do casulo – sente-se inadequado, não se sente visto e o medo de não ser aceito (de errar/de não ser perfeito) gera raiva que muitas vezes leva esse pré-adolescente ou adolescente ao choro, ao desespero.

Mas a verdade é que ele, primeiramente, precisa se ver! E como se faz isso? Uma possibilidade é o comprometimento dos pais através de ajuda/auxílio/apoio/presença!

O primeiro ponto de fortalecimento da relação com os filhos é a empatia dos pais no que diz respeito à essa etapa de construção de um indivíduo. Empatia no sentido de buscar se colocar no lugar desse pré-adolescente ou adolescente de forma ativa, se movendo para compreendê-lo para além do que é possível ver (seus rompantes de choro e/ou de desespero), em outras palavras, se interessar pelos sentimentos dele, se colocando como ouvinte curioso, envolvido com as mudanças que estão acontecendo com ele. Outro ponto é o respeito em direção à aceitação e ao reconhecimento das dores, das aflições que esse pré-adolescentes ou adolescente está vivenciando. Não ignore ou diminua os sentimentos e as necessidades dele, pois são reais!

Assim como você, ele é um ser humano e possui desafios importantes nesse momento da vida!

O posicionamento de diálogo e escuta desse pré-adolescente ou adolescente é fundamental, uma vez que os pais se colocam abertos e disponíveis para compreender os sentimentos e as necessidades – sem julgar por meios moralizadores! E isso gera confiança, ponto crucial para consolidação de vínculos! Diante disso, os pais estão ensinando a ele o que é conviver com as individualidades, o que é acolher e aceitar as diferenças. Mais do que isso, estão ensinando-o a se escutar – porque quando ele expõe as suas emoções (seus medos), ele escuta-se e passa a reconhecer que esse movimento é mutável, observa que essas inquietações emocionais, físicas e mentais não são fixas (“não ficarão para sempre” – elas irão embora e poderão voltar novamente, mas por outros motivos) e isso é o que faz dele um ser humano – ajudando-o compreender que é um momento importante da vida dele e que precisa de cuidado, de amor e de atenção. Por fim, os pais ou responsáveis estão ensinando-o a se observar e a tomar consciência dele mesmo a partir dessa ação de aceitação de quem ele é – que ele é diferente do outro! E está tudo bem!!!

O último convite de hoje: Pai e/ou mãe, conte para o seu pré-adolescente ou adolescente que você também passou por essa fase! Conte como foi para você (resgatando suas memórias)! Isso o ajudará a entender a fluidez, a impermanência da vida – pois saberá por alguém tão importante para ele que os aspetos típicos da adolescência são circunstâncias mais comuns do que parecem ser, porque você – pai e/ou mãe – também experienciou momentos parecidos!

Quando se conversa e se escuta fica mais fácil percorrer os caminhos potentes e desafiadores da vida, eis que existe a materialização do pertencimento que gera conforto e leveza por saber que não está sozinho!

Fabiana Lima Santos – Educadora Social. Gestora de Conflitos com foco em Cultura de Paz na Educação pelo IFBA – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia. Fundadora e Coordenadora do Instituto De Coração Para Coração. Facilitadora de Diálogos Restaurativos pela AJURIS – Escola de Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul e com Aprofundamento em Facilitação em Diálogos Restaurativos pela AJURIS – Escola de Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul. Mediadora de Conflitos Extrajudicial certificada pela Câmara Mediati e com Aprofundamento em Mediação & Arbitragem pela FGV – Fundação Getúlio Vargas e também em Mediação Narrativa Circular ministrada por Héctor Valle na Coonozco/Diálogos Transformativos e com certificação Internacional pela Sociedad Científica de Justicia Restaurativa (Espanha) e Coletivo Diálogos (México), como também pela EMAB – Escola de Magistrados da Bahia.

Contatos pelo e-mail: coracoesemdialogo@gmail.com pelo Celular: 21 995451311 Página do Instagram @coracoesemdialogo ou Site https://coracoesemdialogo.com/

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