Ode à arte atemporal do feminino

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Sim, estou bem atrasada trazendo esse texto de Dia das Mulheres. Mas por que falar delas apenas nesse dia de comemoração mundial? Acho que a melhor ideia é que todo dia é nosso dia, certo?

Não queremos que a vida imite a arte, mas que possa se tornar, de pouco em pouco, na própria. Nesse âmbito artístico — cinema, livro, música — há uma riqueza incomparável de aspirações pessoais, onde tantas figuras femininas dão vida àquilo que não nos é permitido crescer na realidade que nos rodeia. Queria poder citar tantas delas, mas aqui vão cinco! Cinco mulheres do mundo cinematográfico que despertam tudo do feminino que, um dia, foi — e continua sendo — podado.

Céline; trilogia Before

Ao escrever, ou seja lá em qual forma há de se expressar, é inevitável depositarmos nossas identidades em cada mísera palavra encaixada. É o ato de se espelhar. Há muito de uma Céline em mim, talvez mais do que deveria ter. Um pouco caótico, mas admirada, acima de tudo, por uma representação não apenas do que reside no meu feminino, mas quanto em tantas outras jovens idealistas.

Céline é a melhor representação do ‘polimento’ de uma vulnerabilidade. Veementemente sonhadora, não teme mergulhar em águas duvidosas, contribuindo com uma aura carregada de otimismo. É uma mulher intimista que se apaixona piegasmente por conexões, mesmo sendo — às vezes — efêmeras. A jovem francesa, mesmo com inúmeros medos, ainda se deleitava em ver a vida como uma terra de infinitas possibilidades.

Mas ela se torna mulher. Solitária e completamente abraçada à instabilidade. Uma imagem perfeita da pseudo-aceitação de que o que foi perdido continuará perdido. Tudo sobre, exatamente, aquele momento no tempo que se foi pra sempre. A personagem do longa é uma ode das ruínas de uma vulnerabilidade que existe em cada uma de nós, que dançam uma valsa com memórias extraordinárias nesse salão do passado.

Elizabeth Bennet; Orgulho e Preconceito

Ser a frente de seu tempo deveria deixar de ser algo clichê. Tudo porque, ser mulher, sempre exigiu dessa necessidade de correr contra esse tempo a defesa de sua sobrevivência. Elizabeth é o fulgor da liberdade que queima quente.

Vivendo em uma realidade tradicionalista de uma aristocracia inglesa e que apenas permitia o crescimento feminino através unicamente do casamento, a primogênita, mesmo carregando responsabilidades pela idade, nunca abdicou de suas vontades em prol de desejos que não lhes pertenciam, mesmo quando envolvia aqueles que amavam — sua família, sobretudo.

O ato de subverter a ordem de um protocolo social do século XVIII, não poderia representar diferente as mulheres do século XXI, que se encontram fadadas a um compromisso ultrapassado para com a sociedade, que cobram um papel feminino pautado em etiquetas patriarcais e estupidamente arcaicas.

Annalise Keating; How To Get Away With Murder

Annalise protagoniza a força e fragilidade da mulher negra, sendo a grande voz ouvida desse grupo marginalizado. Quebrando conceitos e barreiras como advogada criminalista e professora universitária, a personagem dá voltas em pautas sobre perfeição, vícios e estereótipos.

Indo mais a fundo, cada pauta adverte minuciosamente o universo feminino, mas principalmente o da mulher negra. A personagem retrata não somente uma solidão, mas a solidão dessa mulher negra e o estereótipo da própria ter que ser sempre forte. Essa última é um considerável reflexo preocupante da realidade desse grupo, que tenta se desvencilhar diariamente da obrigação de demonstrar força e nunca fraqueza.

Não obstante disso, a representatividade de uma perfeição inabalável é posta em jogo. Sempre ao chegar do trabalho, Annalise tira sua peruca, roupas e maquiagem, deixando claro todas as cobranças relacionadas a aparência da mulher negra na sociedade.

Scarlett O’Hara; E o Vento Levou

Sendo uma personagem exclusiva de 1936, é incrível pensar no tamanho desenvolvimento de sua determinação e inteligência. E, novamente, mas não estando surpresa, refletindo diretamente ao cenário atual em que qualquer mulher passa.

Altamente subestimada pelo seu sexo, Scarlett, entre lamúrias frustrantes, se diz cansada de portar o papel da mulher ‘burra’ e acariciadora de egos masculinos. Como uma figura feminina durante a Guerra Civil, foi o grande destaque em trabalhos que, até então, eram designados aos homens.

Mesmo pertencendo a uma família rica, não pôde escapar da fome que os assolou diante a guerra. Abandonando o traço mimado, a personagem promete frente à sua terra que nunca mais iria passar fome, determinada a fazer qualquer coisa pela própria sobrevivência e também da família.

Lorelai Gilmore; Gilmore Girls

Lorelai é apenas uma personagem de uma série que estava em seu auge nos anos 2000. Mas sua autenticidade feminina ainda reflete na realidade de várias mulheres, mesmo havendo uma incrível diferença de 21 anos à frente.

A personagem, grávida quando jovem, não hesitou em criar sozinha sua filha. Mesmo com toda a pressão vinda de seus pais e imaginando, claro, maus olhares daqueles de fora da situação — uma mãe solteira sendo o pior dos pecados capitais, de acordo com eles.

Lorelai representa o melhor que existe em todas nós. A coragem inenarrável de embater contra a subestimação feminina. Montou seu próprio negócio, independência financeira e, acima de tudo, uma maternidade completamente diferente do usual, mostrando que a relação mãe/filha pode ser baseada em amizade e companheirismo ao invés de dominação e competitividade.

Ana Luiza Portella – estudante de jornalismo

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