Intérprete do imortal personagem Jeca Tatu, Mazzaropi fez história em diversos caminhos. Ele era um artista completo, além de um excelente produtor independente que foi capaz de lotar os cinemas e cair no acolhimento nacional. Mesmo com as malícias do Jeca, seus filmes faziam toda a família sorrir.
No passado, o homem do interior, o homem do campo era “visto” culturalmente como o ser inocente, ingênuo, quase bobo. Mas quando Mazzaropi cria o personagem do Jeca ele desconstrói essa imagem do caipira, salientando a esperteza conjunta da sabedoria desse homem da “roça”. E a beleza está nessa mistura da ingenuidade com a malícia. Ninguém engana o Jeca, ser puro e astuto, o torna esse personagem histórico.
Ele veio do circo, passou pelo teatro, pela rádio e pela televisão. Mas foi na sétima arte que ele fez história. Protagonizou 32 filmes, “Sai da frente” foi o primeiro, estreou em 1951 e não demorou muito para Mazzaropi conquistar seu espaço e desenvolver seu próprio estúdio cinematográfico, que era o maior estúdio da época.
Em 1958 ela criou a PAM Filmes (Produções Amácio Mazzaropi) que além de produzir, rodou e distribuiu mais de 24 filmes, gerando emprego e desenvolvendo a região do Vale do Paraíba. Ele simplesmente comprou uma fazenda em Taubaté e criou um novo polo cinematográfico que antes só se encontrava nas capitais.
Para entender como ele conseguiu desenvolver essa autonomia naquela época, o Museu Mazzaropi em comemoração aos 40 anos de sua partida liberou no youtube esse mês o documentário “Mazzaropi, o cineasta das plateias” um documentário sobre o artista e empresário, sobre sua trajetória que vai além do estudo da história do cinema brasileiro, mas de como se é possível fazer cinema independente.
O Museu Mazzaropi fica na cidade de Taubaté, a parte do complexo PAM foi transformada no hotel fazenda que leva o mesmo nome. A exposição permanente “Mazzaropi, o Brasil e a Felicidade”, contém todos os aspectos do artista, conta a história desde o começo através da arte e da ciência. “A linha narrativa, seguindo a cronologia da vida e obra de Mazzaropi, é uma crônica da vida brasileira no século 20, quando o país deixa de ser predominantemente agrário para tornar-se urbano”, informa o museu. Que também reabriu o cinema com a exibição do filme “Jeca Contra o Capeta”, lançado em 1975. As sessões são restritas a 10 pessoas, com distanciamento nas cadeiras e uso de máscaras.
Em Abril todos os anos o Museu organiza a Semana Mazzaropi e dentre muitos eventos acontece um concurso artístico de personagens “Inspirados em Mazzaropi”, vale cantar, dançar, recitar e contar causos. O espaço conta com um anfiteatro de 350 lugares. Mais informações podem ser obtidas através do site www.museumazzaropi.com.br a entrada no museu é gratuita.
Sem dúvida um passeio maravilhoso no tempo e na história. Mas os filmes estão liberados no canal “Mazzaropi no Youtube”, onde também gratuitamente você terá acesso a esse riquíssimo acervo cinematográfico do nosso país.
Que o olhar visionário de Amácio Mazzaropi possa inspirar novos artistas a construírem seus sonhos. Que a simplicidade do Jeca nos lembre a beleza da vida. Esse complexo ser caipira nos ensina que a sabedoria vai além do diploma.
Fernanda Magnani – Atriz, Professora de Teatro e Palestrante