Que mulher, ao utilizar o transporte público já não se deparou com aquele homem, que ao sentar-se no banco do ônibus, metro ou trem ao seu lado, abre suas pernas, ocupa demasiadamente o espaço ao ponto de tornar-se nossa viagem de volta para casa ou ida ao trabalho, uma tortura prometeica? Pois bem. Essa prática machista e deplorável tem nome e sobrenome: MANSPREADING.
Aparentemente, parece uma mera deselegância, falta de educação ou até distração. Mas não se enganem. MANSPREADING é bem mais arraigado do que se imagina. Trata-se de um hábito misógino residente no inconsciente coletivo do HOMENS que entende que, nós MULHERES, não somos dignas de respeito ao considerar que o compartilhamento do espaço público não passa pelas MULHERES, uma vez que para a sociedade patriarcal, nem deveríamos estar naquele lugar, nós não somos “gente”. Somos inumanas.
Para eles, deveríamos estar em casa, aprisionadas em casa, ocupadas em “pilotar” um fogão ou um “tanque de roupas”. Como ousam estar aqui? Em outras palavras, o desconforto dos NOSSOS CORPOS, ao qual laboram com tanta intensidade no mercado de trabalho quanto ELES, dão lugar ao conforto falocrático daqueles que insistem em nos coisificar.
Ainda, declaram em gestos que, nossos corpos servem somente para ser alisados, escorados e anediados para atender a satisfação das pulsões sexuais mais obscuras que o patriarcado pode produzir, em alguns casos. Digo mais, não se engane em achar que MANSPREADING não existe ou que isso é uma produção paranoica de meia dúzia de feministas.
Pelo contrário, a ordem patriarcal nem sempre opera de uma forma fixa, visível, perceptível e vulgar, entretanto, ao longo dos séculos, torna-se cada vez mais sofisticada, invisível, discreta, ao mesmo tempo, psicologicamente mais violenta.
MANSPREADING de hoje, pode ser o ESTUPRO de amanhã, caso esta prática continue a se naturalizar, aí não adianta mais. Por fim, é no gesto – o local do não-dito – onde ocorre as formas de violências mais letais contra nós, posto que são quase imperceptíveis, atingem em cheio a nossa dignidade, nossa saúde mental.
Na ordem falocrática, as dimensões mais infinitesimais da vida devem ser ocupadas, mantidas e sustentadas, pois os HOMENS se sentem os proprietários, disciplinadores dos corpos femininos nos quais precisamos, corporalmente, diminuir para que ELES se espalhem com as sombras da macheza para dizer em gestos que o espaço público vos pertence.
Caso resistamos à violência e a objetivação nefasta, que suportemos as importunações corporais e até sexuais sem reclamar. Para a lógica patriarcal, é aquela velha história: Quem pode, pode. As incomodadas que se acomodem! NÃO MAIS, é tempo de as mulheres ocuparemos os espaços públicos em busca de igualdade substancial e denunciarem toda a forma de abuso e violência, sem exceção. Seja no mercado de trabalho ou no transporte público, MANSPREADING é só mais uma forma de opressão – dentre muitas outras – que combatemos diariamente e ao final, como união, luta e esclarecimento, venceremos. É a nova história que aponta no horizonte: LUGAR de MULHER é onde ela quiser.
Andrea Peres é escritora, advogada feminista e especialista em Direito das Famílias e Sucessões pela Fundação Escola do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul. Também é especialista em Direito das Mulheres, Violência Doméstica e Crimes contra a Mulher.