O espetáculo “O Baterista” faz temporada no Teatro dos 4 no Shopping da Gávea

19 min. leitura
O Baterista - Caique Cunha

O que têm em comum os bateristas Robertinho Silva, João Barone e Igor Cavalera? Com certeza, todos enfrentaram problemas com os vizinhos reclamando de barulho. Afinal de contas, todos têm em comum a bateria como instrumento, ferramenta de trabalho e meio de expressão. E, sem poderem sair de casa durante a pandemia, as pendengas com a vizinhança devem ter aumentado muito. Que o diga “O Baterista”, personagem do ator Antônio Fragoso no monólogo de Celso Taddei, com direção de Diego Molina e assistência de Alexandre Regis, que está de volta aos palcos cariocas.

O grande espetáculo estará em cartaz no Teatro dos 4, na Gávea, a partir do dia 02 de Novembro, com sessões às quartas e quintas-feiras, às 20h. E com intérprete de libras nas apresentações dos dias 24/11 e 07/12.

O grupo – que tinha até filmado o espetáculo – chegou a pensar em fazer temporada on-line, como tantas outras peças, mas a experiência não seria a mesma. A bateria proporciona uma pulsação que seria perdida se o espetáculo não fosse ao vivo. “É importante a peça ser presencial, pois é uma experiência sonora única”, explica Molina.

 “Pra mim, essa retomada de ‘O Baterista é cheia de significados, e todos eles repletos de alegria. É a celebração do reencontro de parceiros com os quais tenho tanto prazer e orgulho em trabalhar. É o renascimento mesmo, a transformação depois dos enormes desafios que enfrentamos nesses últimos anos. É também a volta para a casa – e casa, aqui, é arte, público, teatro: Teatro dos Quatro. Teatro dos Quatro, esse espaço tão sagrado que tanto me ensinou quando eu era um jovem sonhando em ser artista, onde vi ‘Rei Lear’, ‘Jardim das cerejeiras’, ‘Cerimônia do adeus’… onde vi a arte teatral ser elevada à sua enésima potência. Retomar, dois anos depois, ‘O baterista’ neste local tão especial apenas reafirma que tudo é possível, e que vale a pena sonhar, pois são eles, os sonhos, que mantêm, de verdade, a nossa chama acesa. Evoé”, exulta o autor.

Foi o próprio Celso Taddei, que também é roteirista de cinema e TV, que idealizou o espetáculo e reuniu outros três craques do riso com os quais trabalhou no humorístico: Molina, Fragoso e Regis. Desse encontro, saiu do papel uma reflexão filosófica feita por um baterista que liga seu instrumento a toda mecânica da vida. E por que filosofar – com humor – utilizando a música, o ritmo, as batidas de uma bateria? Para Taddei – um apaixonado por música que toca mal vários instrumentos –, a bateria é um instrumento “dramaturgicamente interessante e complexo por causa de seu tamanho e porque faz muito barulho”. Além do mais, Taddei acha curioso o envolvimento de uma pessoa, durante toda a vida, com um instrumento; sobretudo quando se trata de um baterista, aquele que é “sempre o primeiro a chegar e o último a sair do estúdio”. Essa característica solitária dos bateristas é, de cara, um ótimo gancho para um monólogo.

Foi com todas essas ideias na cabeça, mais o amor pela música e a inspiração de autores como Tchekov e Patrick Süskind que Taddei resolveu esmiuçar o pensamento de um baterista louco por seu instrumento, com o qual tem um “relacionamento quase neurótico”. Assim, ele escreveu “O baterista”, que serviu, na medida, para o talento do ator Antônio Fragoso, com quem divide a produção do espetáculo, que não conta com patrocínio.

Para Fragoso, foi fácil entrar no personagem. Nos anos 1980, em Brasília, quando morava na mesma quadra de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e Dado Villa-Lobos, ele fez parte de duas bandas de rock: Os Sociais, que montou com Pedro Ribeiro (irmão do Bi, dos Paralamas) e Fernando Bola, e Escola de Escândalo, da qual saiu porque o pai dele, diplomata, havia sido transferido para a Espanha. Foi Pedro Ribeiro, aliás, que incentivou Antônio Fragoso a assumir a bateria, uma vez que ele já tocava tarol na banda marcial do Colégio Marista.

“Depois de um longo intervalo, considero de grande valor insistir com essa história de um músico, um professor, que conta o surgimento e a evolução de um instrumento musical, citando bateristas e percussionistas que seguem elevando a qualidade da nossa cultura”, destaca Fragoso.

O fato de o diretor Diego Molina ter sido um dos roteiristas do “Zorra” facilitou muito o entrosamento na equipe: “a gente já sabe como o outro funciona melhor, os maneirismos do ator, o ator já conhece o tipo de texto e de direção”. Ele também cuidou da cenografia ao lado de Patrícia Muniz. Para o texto realista, que tem como cenário a garagem da casa do pai do personagem/baterista, Molina resolveu utilizar “estranhezas para acentuar a teatralidade”. Tais “estranhezas” estão na luz, no cenário, nas marcações. Tudo na intenção de “colocar cores mais acentuadas em alguns sentimentos e momentos do personagem, como a sua constante insegurança”, como ele explica. O diretor usa a expressão “partiturando” para se referir a seu modo de trabalhar, em que cada gesto é estudado, e nada é gratuito. Molina diz também que as marcas são feitas através do som, e que a música faz parte do cenário, oferecendo experiências sonoras diferentes”. Não à toa, é fundamental que o público esteja presente à apresentação.

A trilha sonora foi escolhida com cuidado, com alguns standards do início do ragtime, contextualizando a história da formação da bateria. “Preferi os clássicos para ajudar as pessoas a se situarem. Cada música foi escolhida como símbolo de determinada época, de determinada banda”, explica o autor Celso Taddei. Por isso, ele acha que o espetáculo ficou “divertido de ver e ouvir”. No repertório, há pot-pourri de canções dos Beatles e muito rock’n’roll: de Bill Haley a Led Zeppelin, passando por The Who, Cream, Sex Pistols, Black Sabbath, The Police e Nirvana. Bandas brasileiras – como Titãs e Paralamas do Sucesso – também marcam presença na trilha de “O Baterista”.

O ESPETÁCULO

“O Baterista” é uma comédia dramática musical. A história passa-se durante uma aula de bateria ministrada por um músico excêntrico, que vive um relacionamento afetivo em crise e é obrigado a encarar uma aula repleta de alunos exigentes pouco tempo depois de se separar da mulher. Com a cabeça na lua, ele se esquece da aula e se surpreende com a quantidade de pessoas que aparece na sua garagem – sua sala de aula improvisada. Mas o dia não vai ser fácil: sua bateria está completamente desmontada; e o lugar, todo bagunçado.

Durante a aula, o baterista organiza as coisas, ao mesmo tempo em que se vê às voltas com a ex-mulher, com quem troca diversas mensagens nas redes sociais. Como ainda é apaixonado por ela, o baterista transborda todas as suas emoções diante dos alunos, usando seu instrumento musical para expurgar suas desventuras e decepções, em cenas ora divertidas, ora comoventes.

O público acompanha a história da bateria – esse instrumento fascinante! – contada pelo músico, desde a percussão dos homens das cavernas até o rock’n’roll, passando por vários estilos como jazz, bebop, folk, blues, entre outros ritmos. Para ilustrar melhor sua aula, o baterista executa seu instrumento para tocar músicas de bandas e artistas famosos.

Ágil e divertido, o texto inédito de Celso Taddei também fala da relação do baterista com os outros músicos de uma banda, que muitas vezes deixam de valorizá-lo por considerá-lo um tipo inferior de músico, já que trabalha com percussão, e não com harmonia propriamente dita. Assim, o espetáculo faz um paralelo entre o preconceito que muitas vezes a música não erudita/não europeia tem com músicas consideradas “periféricas”, vindas da África e do Oriente. A bateria representa, na verdade, uma junção de diversas influências, de diversos lugares do planeta, a ponto de hoje ser um elemento fundamental na nossa cultura.

A peça toma como inspiração dois monólogos clássicos – “O contrabaixo”, de Patrick Süskind, e “Os malefícios do cigarro”, de Anton Tcheckhov – para criar um texto original e voltado para o público brasileiro, de todas as idades.

“O Baterista” é o resultado da união de quatro artistas que há anos vêm desenvolvendo trabalhos juntos no meio audiovisual e que agora constroem um espetáculo inteiramente artesanal; com grande pesquisa estética, musical e artística; e comprometido com o público.

SERVIÇO

“O Baterista”

Temporada: de 2 de novembro a 8 de dezembro de 2022

Local: Teatro dos 4 – Shopping da Gávea

Endereço: Rua Marquês de São Vicente 52 – Gávea

Sessões: quartas e quintas-feiras, às 20h

Sessões com intérprete de libras: dias 24/11 (quinta) e 07/12 (quarta)

Duração: 1 hora

Ingressos: R$ 80 (inteira) – R$ 40 (meia)

Informações: (21) 2239-1095

Classificação: 14 anos

CURRÍCULOS

Celso Taddei

Roteirista e escritor de cinema, teatro e televisão. Formado pela UNI-RIO, é um dos fundadores da Associação de Roteiristas Brasileiros (ABRA) e da Escola de Roteiro e Núcleo Criativo Levante 42. Foi roteirista–chefe do programa “Zorra” (indicado ao Emmy Internacional 2015) e dos quadros “The Fake Brasil, interrompemos a programação” e “Isso é muito minha vida”, todos da Rede Globo de Televisão, onde trabalhou por 23 anos. Na emissora, escreveu programas como “Malhação”, “Os caras de pau”, “Sítio do Pica-Pau Amarelo” e “Chico Anysio – Cartão de Visitas”. Em 2021, roteirizou a série “Paraíso perdido”, baseada em peças de Nelson Rodrigues, e o especial comemorativo dos 70 anos da telenovela: “Setenta anos esta noite”.

Para o cinema, escreveu os longas “Os caras de pau”, “O misterioso roubo do anel”, “Vestido para casar” e “A vida sexual da mulher feia”, entre outros; e os curtas “A truta” (Melhores do Público Fest SP 2001) e “Retrato falhado” (Hors-Concours Fest Rio 2013).

Para o teatro, escreveu e atuou no espetáculo “Apesar de você” (2016) e, em 2020, estreou, no Teatro Poeira, RJ, texto inédito de sua autoria, “O baterista”. É autor de “Bula da Cumbuca – a história acelerada do samba cadenciado”, “Animal – o choro sem chororô”, “O pequeno Mozart”, “Sidarta”. Em 2022, escreveu, para os palcos, “O alienista” (concorrendo para o Prêmio Nacional de Teatro Cenym de melhor texto adaptado), “Os Rebouças” e “A arte de furtar”.

Antônio Fragoso

Formado em 1992, atuou em 36 espetáculos de teatro, 14 filmes, diversas séries, novelas e mais de 150 comerciais. Trabalhou com grandes diretores como Fernando Meirelles, Rene Sampaio, Katia Lund, Duda Vaisman, Henrique Tavares, Rodrigo Van Der Put, Mauricio Farias, Amir Hadad, Marcio Trigo, Sacha Celeste, Roberto Santucci, José Alvarenga, João Bitencourt, Clovis Mello e Felipe Jofily. Como produtor, teve uma bem sucedida parceria de 15 anos com a autora/atriz Carla Faour, Henrique Tavares e Paulo Giannini.

Trabalhos mais recentes foram “Se meu apartamento falasse”, musical de Charles Möeller e Claudio Botelho; “Ensina-me a viver”, espetáculo de grande sucesso que ficou cinco anos em cartaz, em que contracenou com Glória Menezes, sob a direção de João Falcão; “Casamentos e precipícios” texto de Daniel Adjafre; “Obsessão”, texto de Carla Faour que foi vencedor do prêmio APTR e FITA de Angra dos Reis; e “OVelho” direção de Sacha Celeste. Em dezembro de 2017, estreou o musical “Se meu apartamento falasse”, com direção de Charles Möeller e Cláudio Botelho, no Teatro Bradesco. Em cinema, estrelou o blockbuster “Os farofeiros”, lançado em março de 2018 e que foi visto por quase três milhões de espectadores.

Na TV, podemos destacar “Som e fúria”, com direção de Fernando Meirelles; e o programa “Os caras de pau”, dirigido pelo Marcio Trigo; “Geração Brasil”, direção de Denise Saraceni.

Diego Molina

Diretor de teatro, dramaturgo, roteirista, ator, cenógrafo e professor. Formado em Direção Teatral e Mestre em Artes Cênicas pela UNIRIO. Ganhou o Prêmio Shell 2012 na categoria especial, com a Cia. Alfândega 88, pela ocupação do Teatro Serrador. Foi indicado ao Prêmio Faz Diferença 2010 pelo trabalho em prol da inclusão com o grupo Os Inclusos e os Sisos. Foi indicado ao Prêmio CBTIJ de Melhor Texto Original por “A menina do kung fu”. Ganhou diversos prêmios em festivais de esquetes pelo Rio de Janeiro, com trabalhos como “O encontro”, de Renata Mizrahi, “Educação a gente aprende desde criança”, de autoria própria, e “Certificação compulsória de artistas”, de Monique Vaillé.

Dirigiu espetáculos como: “O baterista”, de Celso Taddei; “A menina do kung fu”, autoria própria; “Ela é meu marido”, de Martha Mendonça e Nelito Fernandes; “Quando ia me esquecendo de você”, de Maria Silvia Camargo; “Radiofonias Brasileiras – o musical”, de Bosco Brasil; “War”, de Renata Mizrahi; “Bette Davis e a máquina de Coca-Cola”, de Jô Bilac e Renata Mizrahi; “Um dia Anita”, de Julia Spadaccini e Renata Mizrahi”; “Joaquim e as estrelas”, de Renata Mizrahi; “Nada que eu disser será suficiente…”, de Renata Mizrahi; “Lar”, de Fernando Caruso, César Amorim e Renata Mizrahi; “Francisco e o mundo”, de Renata Mizrahi”; entre outros.

Trabalhos como autor em teatro: “A menina do kung fu” (infantil); “Pequenos poderes”; “Os trabalhadores do mar” (adaptação); “O espião que nós amamos” (inédito, com Bosco Brasil); “Fabulamente – Monólogo com Tatá Werneck”; “Ninguém mais vai ser bonzinho”; além de diversos esquetes, escritos também para o coletivo Clube da Cena e para o site Drama Diário. É autor dos livros “Cena Impressa 1 e 2” e “Teatro Duse: o primeiro teatro-laboratório do Brasil”.

Foi jurado do Prêmio Zilka Sallaberry de teatro para infância e juventude entre 2015 e 2018. Deu aulas de dramaturgia na CAL, SBAT, PUC Rio, Roteiraria, AIC, Midrash Cultural, Biblioteca Parque, Levante 42 e em diversas unidades do SESC pelo país.

Foi diretor artístico do grupo “Os inclusos e os sisos”, promovendo inclusão e acessibilidade através de diversos espetáculos pelo Brasil.

Foi autor-roteirista da Rede Globo, onde escreveu para os programas “Canastra Suja”, “Zorra” (indicado ao Emmy Internacional), “Lady Night”, “A gente riu assim – Retrô de humor” e “Domingão do Faustão”. Foi colaborador dos programas “Noite de arrepiar” e “Casamento blindado” (Record), “Comédia MTV”, “Sem análise” (Multishow) e do seriado “Dependentes” (Canal Futura). Escreveu ainda o curta-metragem “Vice e versa”, vencedor do prêmio de Melhor Comédia no Festival Claro Curtas 2008, e o longa-metragem “Floresta profunda” (com Bosco Brasil e Fidelys Fraga). 

Alexandre Regis

Ator e diretor com 55 anos de carreira, Alexandre Regis começou a atuar aos 4 anos de idade. Trabalhou nos principais programas de humor da televisão, entre eles “Viva o gordo”, “Os Caras de Pau”, “A praça é nossa” e “Zorra”. Dirigiu diversos shows e espetáculos, entre eles “Nós na fita”, “Na mira do gordo”, “Terror na Praia” e “Buraco da Lacraia Dance Show”.

FICHA TÉCNICA

Texto: Celso Taddei

Atuação: Antônio Fragoso

Direção: Diego Molina

Diretor assistente: Alexandre Regis

Cenografia: Diego Molina e Patrícia Muniz

Direção musical: Pedro Coelho e Marcio Lomiranda

Iluminação: Anderson Ratto

Figurino: Patrícia Muniz

Programação visual: Daniel de Jesus

Fotografia: Caique Cunha

Filmagem: Bernardo Palmeiro

Assistente de câmera: Renato Costa

Direção de arte das fotos e vídeo teaser: Daniel de Jesus

Redes sociais: Agência e-Plan | Tatiana Borges

Assessoria de imprensa: Sheila Gomes

Assistente de produção: Carmem Ferreira

Intérpretes de libras: JDL – Acessibilidade na comunicação | Jadson Abraão e Davi de Jesus

Produção Executiva: Agência Botão Cultural | Bernardo Schlegel e Juliana Trimer

Produção: Antônio Fragoso e Celso Taddei

Realização: Levante 42

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