O engenheiro que está criando a ‘Disney’ brasileira da noite sertaneja

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Uma frase do pensador chinês Confúcio (552 a.C – 489 a.C) resume uma filosofia de vida que ganha cada vez mais adeptos: “trabalhe com o que você ama e nunca mais precisará trabalhar.” Se a máxima estiver correta, o engenheiro elétrico Pedro Elero, de 34 anos, é um homem de sorte – e talvez seja esse o segredo de sua fala calma e de seus modos gentis.  

A paixão pela música sertaneja e o tino comercial levaram este paranaense a trilhar novos caminhos profissionais, conseguindo unir prazer e trabalho. Em 2014, aos 26 anos, ao lado dos amigos Gabriel d’Avila e João Paulo Albuquerque, Elero deu iniciou à sua bem-sucedida carreira de empresário da noite, ao abrir a primeira unidade da Folks Pub, em Londrina.  

Hoje, além da cidade paranaense, a rede de pubs sertanejos já está presente em Sorocaba (SP), Campinas (SP), São Paulo (SP), Foz do Iguaçu (PR) e Goiânia (GO), capital nacional da música sertaneja – a unidade foi inaugurada em 31 de março. E a ideia da marca é abrir outras seis unidades até o fim do ano, nas cidades de Curitiba (PR), Uberlândia, Belo Horizonte (MG), Jundiaí, Piracicaba e São Bernardo do Campo (SP). 

O “jeito Folks” de encantar clientes 

Um dos segredos por trás da sólida expansão da Folks remete à infância de Elero. Quando pequeno, ele se deleitava assistindo na TV os personagens criados pelo cineasta, diretor, roteirista, dublador e animador Walt Disney (1901-1966). Anos mais tarde, quando criou a Folks, Elero inspirou-se no encantamento gerado pelo universo Disney para conquistar os frequentadores de suas casas noturnas. 

Além de ler três vezes “O Jeito Disney de Encantar os Clientes”, o empresário absorveu muito da cultura Disney ao conviver com uma amiga, ex-funcionária do Walt Disney World nos Estados Unidos. Além disso, já visitou o parque temático duas vezes e fará sua terceira viagem ao local ainda neste ano. 

Assim como a Disney tem suas quatro chaves – safety (segurança), courtesy (cortesia), show (espetáculo) e efficiency (eficiência) –, que são a base para o encantamento dos visitantes, a Folks Pub também se pauta por quatro palavras, com o mesmo objetivo de cativar quem passa pelas casas noturnas da rede: sorriso, cordialidade, eficiência e show. “Tudo o que fazemos é baseado nisso, desde a contratação de pessoas, passando pelo treinamento até os programas de incentivo, avaliação e premiação”, garante Elero. “Às vezes, realizamos gincanas no meio da tarde, como forma de nos lembrarmos e reforçarmos nossa cultura.” 

De convidados a fãs 

Como na Disney, entre os funcionários da Folks a principal regra é encantar. Por isso, os treinamentos são sempre focados na qualidade do atendimento. O objetivo é fazer com que o ambiente seja leve e agradável, e os visitantes não se sintam como “clientes”, mas como “convidados” – outro termo importado da Disney. “Não fazemos treinamentos de vendas, por exemplo. O foco é sempre no relacionamento interpessoal.”, comenta Elero. “Para um garçom, não importa quão bom ele seja em carregar uma bandeja, mas sim a forma como ele se relaciona com o público.” 

Na última visita ao parque, na Flórida, o empresário estava de aniversário e pode sentir todo o carinho e atenção recebido ao exibir na roupa um bottom que o identificava como aniversariante. “Quem aniversaria na Disney ganha bottom de identificação, e todos os personagens e colaboradores do parque o cumprimentam”, explica Elero, que não hesitou em replicar a ideia na Folks Pub. 

A ideia, segundo o empresário, é valorizar as datas especiais celebradas pelos convidados – como aniversários, despedidas de solteiro e formaturas –, fazendo com que a marca seja sempre lembrada. Com o tempo, diz Elero, a intenção é que os convidados se convertam em fãs – hoje, muitos já se autodenominam “folkers” em suas postagens nas redes sociais. “Esses momentos criam um laço afetivo dos visitantes com a Folks, e é isso que irá garantir a longevidade do negócio.” 

Faz-tudo no bar da família 

A música sertaneja faz parte da vida de Elero desde seu nascimento, na pequena cidade de Bandeirantes, no Interior do Paraná, a 414 quilômetros de Curitiba. Embalado pelos sucessos das consagradas duplas Chitãozinho e Xororó, Zezé de Camargo e Luciano e Bruno e Marrone, o paranaense trouxe a paixão sertaneja para a vida adulta. 

E, da mesma forma que a música, o contato com o comércio e bares também lhe acompanha desde a infância. “Em Bandeirantes, meu pai, já falecido, tinha um bar. Depois, fomos para Faxinal, onde tivemos um restaurante”, conta Elero. “Eu era pequeno. Não entendia muito bem como funcionavam os negócios e nem pensava nisso, mas ficava lá de manhãzinha até a noite. Não trabalhava diretamente, mas vivia no comércio e gostava daquele ambiente.”  

As mudanças de cidade continuaram, e a família se estabeleceu em Porecatu, onde sua mãe vive até hoje. No local, próximo à divisa com o Estado de São Paulo, seus pais montaram um boteco, onde Elero fazia de tudo um pouco, desde abrir e fechar o bar até a limpeza. “Lá, eu trabalhei dos 13 anos até me mudar para Londrina, para fazer cursinho e vestibular.”  

Em Londrina, seus interesses se voltaram para a engenharia. Ele gostava de matemática e física e, no pré-vestibular, um professor lhe despertou o interesse em engenharia elétrica, curso que ele viria a completar na Universidade Estadual de Londrina (UEL). “Hoje, não uso a parte técnica, mas aprendi a ser autodidata, a ter raciocínio lógico e agilidade na resolução de problemas. Esses três itens me ajudem muito no cargo de CEO da Folks Pub”, comenta. 

Liderança jovem e intercâmbio na Rússia 

Sempre ativo e ávido por conhecimento, na faculdade Elero participava de organizações estudantis e fez parte da Association Internationale des Etudiants en Sciences Economiques et Commerciales (Aiesec), rede global que tem o objetivo de desenvolver o empreendedorismo e a responsabilidade social de jovens universitários. “Por meio da minha participação na Aiesec, da qual cheguei a ser presidente, fiz um intercâmbio social e fiquei dois meses e meio na Rússia”, conta Elero. 

Como presidente na entidade, ele participava de muitas conferências e tinha acesso a informações sobre o que acontecia no mundo em termos de empreendedorismo. “Foi a partir dessa minha experiência que minha visão se abriu para o empreendedorismo.”  

Depois de formado, Elero participou de programas de trainee e passou a trabalhar no banco Santander, mudou de área – virou gerente business – e permaneceu na instituição por um ano e meio. Mas, ainda no banco, ele não parava de pensar em como empreender. Até que teve a ideia de unir o útil ao agradável e usar sua experiência na Aiesec e no próprio banco para empreender e ter seu próprio negócio ligado ao mundo sertanejo.

Vanguarda no segmento de bares

Da ideia à realização, Elero e aos amigos Gabriel e João Paulo – todos frequentadores da noite de Londrina – não pouparam esforços para colocar o projeto em prática. Todos se demitiram dos respectivos empregos, juntaram economias, empréstimo de um amigo e cartões de crédito, num investimento total aproximado de R$ 300 mil. “A gente via que estava acontecendo uma transformação de mercado, da balada grande para a balada mais intimista, de mais qualidade. Vimos esse momento e trouxemos o pub com o agito do sertanejo, uma coisa muito nova na época. Fomos pioneiros, chegamos a sofrer preconceito, mas geramos um burburinho grande na cidade.”  

A Folks Pub foi um sucesso desde o começo. Como a casa vivia lotada, em menos de um ano o trio iniciou o plano de expansão. A opção pelo modelo de franquia, porém, só ocorreu em 2019, cinco anos após a fundação e depois de um longo estudo de mercado – as duas primeiras unidades franqueadas foram vendidas no mesmo ano. “Decidimos pelo franchising porque a lei do setor é muito boa e tem um suporte jurídico forte”, explica Elero.  

As metas de expansão da rede são ambiciosas e visam levar o sertanejo além das fronteiras do País, onde já é um sucesso absoluto. “Queremos ser líderes do segmento de rede de bares e baladinhas”, afirma o CEO, que não descarta a abertura de unidades no Exterior, em países como Paraguai ou Portugal. 

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