Navegando a existência com as velas da arte: O universo multifacetado de Marcia Fixel

8 min. leitura

A expressão poética é a primeira manifestação artística que lhe surgiu, quando ainda era criança. Nascida com esta veia pulsante da poesia em suas entranhas, e sentindo o amor pela dança que todo corpo naturalmente dança fluindo em cada movimento, a artista Marcia Fixel foi velejando com este corpo poético pelos territórios da arte de maneira intuitiva e profunda. Um percurso que acabou confluindo em uma linguagem artística híbrida, onde corpo, alma e pensamento se entrelaçam.

A jornada do corpo em poesia

Nas palavras da artista, “o corpo em poesia” ou “o corpo em presença”, mas também “o corpo expandido” apontam os caminhos, tecendo sua trajetória de vida, tendo a curiosidade de “escutar sempre em que tempo-espaço a ideia se investiga e deseja se manifestar”.

O diálogo com diferentes linguagens na tecitura do encantamento com as artes

A poesia lhe é intrínseca. O teatro surge em seu caminho como uma revelação interna, antes mesmo de assistí-lo e vivenciá-lo em toda sua profundidade e magnetismo. O cinema surgiu como um fascínio de que se tornou filha. A filosofia lhe é inevitável. Nesta multi-linguagem não planejada, que ela diz que é natural à complexa existência humana, a artista Marcia Fixel mergulha nos anseios da sua alma mas também se mistura com as diferentes narrativas do mundo, buscando um esmaecimento de fronteiras, um alargamento da imaginação e a potência das trocas.

“Acho que a gente se acostumou a ter um pensamento industrial, mas eu não acredito em pensar por escaninhos, somos muito mais que isso, por natureza! Por que não podemos ser marceneiras e leitoras, por exemplo? Acredito na nossa capacidade de fazer estantes e ao mesmo tempo de ler os livros dentro das estantes, e de dançarmos com eles… Uma imagem que talvez nos ajude a libertar nossa expressão, a sermos seres mais integrados, mais livres, e, por isso mesmo, mais amorosos, capazes de construir sociedades mais amorosas, que façam mais sentido. Neste caminho que minha linguagem foi ficando híbrida. Isso não quer dizer que eu não respeite cada linguagem. Pelo contrário, em minha sede sincera por conhecimento, atravessei humildemente várias graduações. E foi mergulhando na beleza da complexidade de cada área, de cada questão da vida, que emergiram diálogos espontâneos e vivos que transcendem fronteiras”, diz ela.

A incursão nas artes expandidas

Em um lugar do “entre” em que Marcia Fixel foi exercitando sua expressão vital com a arte, as especificidades de cada área são experimentadas de uma forma em que sua profundidade se encontra com seus átomos constituintes, ou seja, perdendo seus contornos; neste ponto, a observação quântica modifica o observado e pode criar outras formas. Os limites do convencional não moram em seus horizontes artísticos, que adentram em territórios desconhecidos onde a experimentação é uma chave. A linguagem poética dialoga com a filosofia, transita entre velhas e novas tecnologias, criando um território aberto, com um convite ao compartilhável.

Uma trajetória intuitiva do Corpo-Alma

As formações diversas de Marcia Fixel refletem tanto seu interesse pelos legados da Terra quanto pelas possibilidades de novos mundos. Da licenciatura em Artes Cênicas ao bacharelado em Comunicação Social com ênfase em Cinema, passando pela imersão na Filosofia e na Videoarte, atravessando o mestrado em Performatividades Contemporâneas, e exercendo um design para a sustentabilidade, seu percurso acadêmico é um reflexo da multiplicidade mas também da coerência de interesses e influências que permeiam sua obra artística.

Compromisso com a Sustentabilidade e a Espiritualidade

Na expressão artística de Marcia Fixel também estão presentes suas buscas espirituais e seu envolvimento com as causas ecológicas. Ela é “gaiana” e “transicionista”, como são conhecidas as pessoas que passam pelos programas Gaia Education e Transition Towns, presentes já em muitos países, e que buscam novos paradigmas sociais, econômicos, ecológicos e de visões de mundo. Ela é também instrutora de Yoga, mestre em Reiki, facilitadora de meditação taoísta; uma praticante de um estilo de vida holístico, que procura harmonia com o Universo.

Rosa dos Ventos: Uma viagem performática com a videoarte

Uma obra relevante de sua jornada artística é a videoarte performática “Rosa dos Ventos”, que procura transcender fronteiras geográficas e linguísticas. Participando em 2024 de um circuito internacional que passa por países como Japão, Alemanha, Finlândia, Itália e França, Marcia Fixel explora o corpo expandido e leva sua arte para além das barreiras físicas.

Esta videoarte fala sobre trajetórias de vida, de quando estivemos (ou não) com os nossos pés e o nosso coração alinhados nos passos da vida. Ela compartilha na obra a reflexão dela sobre esse tema, tanto do ponto de vista individual quanto como uma reflexão coletiva, mas convida o público a compartilhar também suas emoções e reflexões sobre suas trajetórias de vida. Nisto a videoarte se expande a ser também uma performance interativa.

Como ela diz, a atual era batizada de Antropoceno se refere aos hábitos dos humanos, então “uma nova sociedade mais respeitosa e integrada com a vida só poderá nascer de dentro para fora, sob os nossos pés”.

A artista acredita na capacidade desta obra de fazer um chamamento solidário a uma reflexão honesta e também gentil, pois pertinente: “Só criaremos sociedades melhores assumindo rever a coerência da própria vida. A coerência não é uma prisão de opinião, mas uma investigação constante do alinhamento dinâmico entre o que pensamos, sentimos e como agimos. Há várias formas de fazermos isso, mas essa revisão de coerência nunca acontece realmente se for de forma imposta, mas quando isso faz sentido a cada pessoa. A solidariedade também é muito mais que uma questão ética, é pertinente sermos solidários e solidárias quantos somos honestos e honestas com nossos processos de vida.

A performance interativa, com convite ao compartilhamento, é dizendo que estamos todos no mesmo barco, no mesmo planeta. E que eu me interesso pelo compartilhamento dessas experiências. Adorarei receber e trocar cartas com as pessoas, através do correio eletrônico, e através do formulário que está no QR Code. Quem sabe as boas coisas que poderão surgir daí?”.

Interatividade e Conexão: Um convite à participação

A videoarte de Marcia Fixel não é apenas uma experiência visual, mas também uma performance interativa. Através de um texto em que disponibiliza o seu próprio e-mail para trocas com o público, e também QR Codes para escritas imediatas, ela convida e acredita no compartilhamento de experiências.

A obra de Marcia Fixel tem sido um testemunho da potência da arte de transcender fronteiras, de convidar o humano a se conectar e a sonhar com novos mundos.

Em cada gesto, em cada imagem, em cada palavra, ela nos convida a explorar os ventos da arte e a nos perdermos (ou nos encontrarmos) em suas infinitas possibilidades.

Deixe um comentário
Cadernos
Institucional
Colunistas
andrea ladislau
Saúde Mental
Avatar photo
Exposição de Arte
Avatar photo
A Linguagem dos Afetos
Avatar photo
WorldEd School
Avatar photo
Sensações e Percepções
Marcelo Calone
The Boss of Boss
Avatar photo
Acidente de Trabalho
Marcos Calmon
Psicologia
Avatar photo
Prosa & Verso