Mulheres que viajam sozinhas: conheça o livro de estreia da atriz Nicole Cordery

6 min. leitura

“Aqui, muitas vidas transcorrem à medida que os cenários mudam e o tempo passa na paisagem de uma memória que também se multiplica.”

Manoela Sawitzki, escritora, no texto de quarta capa

“Cadernos de viagem herdados” (Claraboia, 2022, 192 p.), um misto de romance com crônicas de viagem, é a obra de estreia da atriz Nicole Cordery. O livro visa encorajar que um número maior de mulheres corra atrás dos seus sonhos e ganhe mais independência, inclusive para realizar viagens sozinhas. A obra conta com ilustrações de Rita Carelli.

Com um projeto gráfico especialmente inspirado em cadernos Moleskine, o livro mostra a versatilidade de Nicole Cordery – que, com os teatros fechados, se consagrou como atriz do teatro online e finalizou esse livro de viagens, com o qual convida os leitores, principalmente as mulheres, a reviverem suas próprias memórias e os estimula a desejar ou até planejar novas viagens (uma ousadia necessária neste mundo tão insólito em que vivemos).

Folheando os cadernos

O livro traz a história de uma mulher que, inesperadamente, recebe um embrulho com nove cadernos de viagens que haviam pertencido à sua prima. Na história, dentro dos cadernos, a narradora encontra o relato intenso e envolvente de dezenas de viagens, que a prima queria publicar para incentivar outras mulheres a fazer como ela e se lançar pelo mundo. O projeto, no entanto, esbarra em um acontecimento trágico: a morte precoce da prima por Covid-19 – o vírus que mudaria radicalmente a forma como as pessoas viajam. 

Diante do pacote, a narradora de “Cadernos de viagem herdados” chega a pensar que aquelas histórias não fariam mais sentido no mundo pós-pandemia. Mas decidiu seguir adiante após ler o pedido do viúvo. Ela honraria a memória de sua prima e cumpriria o desejo dela. 

À medida que lê os relatos, a perplexidade e a revolta iniciais diante daqueles cadernos que ela considera uma herança maldita dão espaço ao encantamento e à excitação – e todos esses sentimentos são percebidos pelo leitor através dos comentários que ela deixa nos cantos das páginas. A mulher vive a dor do luto em confinamento ao mesmo tempo que se reconecta com aquela prima tão próxima da infância e da qual havia se afastado para viver uma vida supostamente perfeita de mãe-esposa-profissional em Madri. 

Aparentemente despretensiosos, os relatos mostram uma mulher livre, divertida e melancólica, mas acima de tudo curiosa e ávida por novos encontros e deslocamentos. Nessa viagem no tempo, a herdeira lembra a prima criança numa festa junina na casa da família em Teresópolis; a adolescente no Carnaval com os amigos em Ouro Preto, ao som de Caetano e Cartola; a mulher “madura” que bate-boca com um motorista argentino que a impede de usar o banheiro do ônibus, que leva a mãe para Londres para assistir à sua peça preferida – e compra o bilhete errado – ou que não deixa de viajar nem quando o espaço aéreo europeu está fechado por causa de um vulcão na Islândia. 

Nicole Cordery

Sobre a autora

Natural de Niterói, Nicole Cordery (@nicole_cordery) é atriz. Formou-se na CAL, no Rio de Janeiro, em 1996. Seu espírito nômade a levou para São Paulo em 2000 – ano em que entrou para o Grupo Tapa –, e, seis anos depois, para Paris, onde cursou a École Jacques Lecoq e fez mestrado em Estudos Teatrais na Sorbonne Nouvelle. De sua rica trajetória nos palcos, destacam-se as peças Camaradagem, Strindbergman, A cidade, A noite das tríbades, Ato a quatro, Dissecar uma nevasca, No Coração das máquinas, Alice, Retrato de mulher que cozinha ao fundo, Deadline, Nunca fomos tão felizes, Chernobyl e Pandas ou era uma vez em Frankfurt (teatro on-line). Foi indicada aos prêmios APCA (2015) e Aplauso Brasil (2015 e 2019) na categoria Melhor Atriz. Terra Medeia, de 2021, projeto do qual é proponente, foi indicado a Melhor Espetáculo do Ano pela APCA. No cinema atuou em Cylene, Do Lado de Fora, Entre latinhas, A Outra, Algo sobre Ilda e atualmente está em filmagem de Biônicos e Memories of a Lost Song. No intervalo entre uma produção e outra durante seu confinamento em 2020, finalizou seu primeiro livro, “Cadernos de viagem herdados”.

Sobre a ilustradora

Rita Carelli é atriz, diretora, escritora e ilustradora. Criou, em parceria com a ONG Vídeo nas Aldeias, a coleção Um Dia na Aldeia (Sesi). É uma das idealizadoras do livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo e responsável pela pesquisa e organização de A Vida não é útil, ambos do pensador indígena Ailton Krenak (Cia. das Letras). Ilustrou obras dos premiados autores Daniel Munduruku e Anna Claudia Bastos. É ainda autora dos infantis Akukusia (Sesi) e Minha família Enauenê (FTD), contemplados com o selo internacional White Ravens e o Altamente recomendável da FNLIJ, e de Amor, o Coelho (Editora Caixote). Em 2021, lançou seu primeiro romance adulto, Terrapreta (Editora 34).

Sobre a editora

Claraboia é uma editora independente de escritoras mulheres, fundada em 2019.

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