Memórias de 70 anos em micro contos e crônicas da pandemia: Lino de Albergaria fala sobre suas recentes obras literárias

7 min. leitura

Nem a típica chuva de fim de ano foi capaz de desanimar amigos, família e admiradores do escritor mineiro Lino de Albergaria, que os recebeu no último sábado (20), para uma tarde de autógrafos na Livraria da Rua, coração da Savassi, em BH. Com 30 anos de carreira e mais de 80 livros no currículo, Lino lançou mais duas obras: “A rede da memória” e “A vida como ela era”.

Na primeira, o escritor revisita as próprias memórias no formato de 70 micro contos, cada um com 333 caracteres apenas, sendo uma maneira diferente de celebrar suas sete décadas já bem vividas entre Paris, Belo Horizonte e interior de Minas Gerais. Já a segunda obra, são crônicas do período pandêmico, escrita e publicada em sua conta do Facebook, onde seus leitores puderam reagir instantaneamente aos textos e até participaram da escolha da capa. Os livros têm a assinatura da Editora Quixote+Do.

Minientrevista com Lino de Albergaria

  • 3 perguntas sobre A vida como ela era

Como foi a experiência de começar a compartilhar seus textos no Facebook e ver a reação instantânea dos leitores?

Há cerca de 10 anos que uso redes sociais, mas começar a publicar meus textos foi em plena pandemia, na passagem do ano de 2019 para 2020. Escrevi um texto médio no tamanho de uma crônica e resolvi testar, postei e não divulguei, mas as pessoas começaram a comentar, tive uma reação melhor do que esperava. As pessoas comentavam que se identificavam com as personagens da história.

Você acha que a pandemia e o consumo de literatura por meio digital neste período mudaram o rumo da arte de escrever? De pensar as histórias?

Na maneira de escrever não mudou, mas ficou mais espontâneo, porque passou por menos revisões. Eu achei legal ter essa interação. É mais ágil para saber o que o leitor achou sobre a crônica. E o texto foi ficando mais cínico, porque eles comentavam que achavam uma pitada do jeito de Nelson Rodrigues, então entrei na onda deles. Eu gostava das sugestões, tinha um público muito bom, debatedores de nível, artistas plásticos, jornalistas, outros escritores, professores. Tivemos muita afinidade. E mudou o público do Facebook, atualmente é mais maduro, quem interage comigo tem cerca de 40 anos de idade. Eu tenho 71 anos e escrevo literatura infantil há mais de 35 anos e tem leitor que me acompanha desde criança e acompanhou a criação do “A vida como ela era”, dando vários palpites.

Teve alguma reação de leitor na rede social que te surpreendeu?

Eu fiz várias histórias com vários personagens, alguns tinham muito mais gente interessada, então eu fiz mais histórias com essas personagens, como uma velha que ficou sozinha presa em casa e não sabia fazer compra pelo celular, mexer com internet, então ela pedia ajuda para um rapaz vizinho, para o porteiro. Acho que essa foi a que as pessoas mais gostaram. E como ela estava sozinha, ela começa fotografar as coisas da janela de casa para ocupar a mente, fotografava a lua.

Essa senhora não tem nome, mas como essa personagem fica sozinha, não senti necessidade de colocar um nome, nem o menino vizinho dela. Tem também uma vizinha, uma mulher muito sensual que o menino é apaixonado, mas é casada com um negacionista da vacina contra a Covid-19. Os leitores se envolveram tanto que pediram para o menino e a mulher terem um caso e ele iniciar a vida sexual dele com ela. E esse foi o rumo da história.

Tem outro personagem chave que é o porteiro, pois ele observa todas essas histórias dentro desse prédio. Ele ajuda a velhinha com o celular e vê o início do caso da mulher como rapaz.

As crônicas, que eram todas isoladas, começaram a entrar uma história na outra por estarem no mesmo ambiente, no mesmo prédio.

  • 3 perguntas sobre A Rede da Memória

Qual a simbologia do número 70 neste livro?

São 70 contos para celebrar os meus 70 anos, são 70 lembranças. Este livro é uma auto ficção com textos no máximo de 333 caracteres. Um amigo meu artista plástico – Renato César José de Souza, fez as ilustrações abstratas (12) e a capa.

Por que 333 toques?

Tinha uma pessoa da universidade de campo grande, no mato Grosso do sul, fazendo livro de micro contos, ele fazia sobre localidades diferentes do Brasil e escrevi um conto para ele que tinha essa limitação de toques.

Como foi pincelar memórias de 70 anos de vida e escolher sobre quais escrever? Quais são as mais especiais para você?

São flashes, textos muitos curtos e fora de ordem. Falo sobre os lugares que já morei, por exemplo na França onde estudei, na minha infância em BH, mas passava férias num sítio do meu pai, ficava num distrito de Raul Soares, que chamava Cornélio Alves e tinha um trilho da estação de trem que passava no meio da propriedade. Conseguíamos descer do trem já dentro do sítio do meu pai.

Uma das histórias que eu mais gosto chama Lago. É como se o lago fosse a própria memória, mas ele pode mudar, se expandir na seca, depois retrai e vira até uma praia. E a memória é assim, fluida.

SERVIÇO – Lançamentos de livros do autor Lino Albergaria

Lançamento: A rede da memória (2020)

114 páginas

R$45

Categoria: Ficção brasileira, crônicas

Editora Quixote+Do

Relançamento: A vida como ela era (2021)

137 páginas

R$ 42,90

Categoria: Ficção brasileira, Pandemia, Crônicas

Editora Quixote+Do

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