E devagar o mundo vai se abrindo e junto com ele as cortinas do teatro se abrem também. São diversas estreias nacionais essa semana e a arte que chega naturalmente reflete nosso tempo, nos ajudando a digerir esse processo de um “novo” mundo. Os desafios vieram para todos, reencontrar sentidos, readaptar ou cancelar planos, adiar sonhos, lidar com a realidade do presente sem controle foi e ainda está sendo um processo de adaptação para todos, cada um dentro de seu próprio universo.
Fiz uma entrevista com o ator, escritor, diretor e cenógrafo Ronald Lima que estreia o espetáculo “Mamma Queen” essa semana no Rio de Janeiro.
Gaúcho, criado em Curitiba, Ronald desde menino demonstrava talento para arte, em 2000 criou a cia de teatro Soho Brasil em São Paulo com o espetáculo de sua autoria Esquadros 119. Com 21 anos de carreira, hoje ele vive no Rio de Janeiro e nos conta como foi esse processo de criação e de cancelamento de planos.
“Em março de 2020 estava pronto para apresentar meu monólogo no Festival de Curitiba, quando foi comprovado a pandemia e tudo deveria ser cancelado… então coloquei vários pés no chão, um de romã, outro de rosas, outra de tumbérgia, que para mim tem um nome fúnebre, mas tem uma cor azul fluorescente encantadora. Estava na casa da minha mãe, fiz o jardim e um grande cogumelo de cimento, enfeitei a casa em várias datas comemorativas para que os vizinhos pudessem ver que tinha gente fazendo arte ali. E para isso usei meu instinto, aquilo que parece vir da ancestralidade, que é vital para mim. Fazer arte, criar, escrever, comunicar. Tive muita ansiedade e tristeza, pois a realidade se apresentava cada dia mais cruel. Eu me comparei às plantas, criei um tempo junto com elas, pensando em efemeridades. Escrevi dois roteiros para cinema, e três peças de teatro, uma delas comédia, que quando fui convidado para fazer a montagem achei que seria ideal para o momento”.
O Rio de Janeiro trouxe o carnaval para a vida de Ronald que já desenvolvia pesquisa de cenário e adereços, encontrou nas plumas e cores do samba uma inspiração para criar. Seus espetáculos, geralmente tem essa referência da grandiosidade, do exagero, da dor e da alegria da vida, além da leveza, da “palhaçada”, que inspira superações. Afinal sacudir a poeira e dar a volta por cima é o nosso samba favorito.
Ele conta que três carnavalescos, Marcyo de Oliveira, Fábio Gouveia e Babú Energia, estavam dispostos a encenar a peça que criou junto com as flores na casa da mãe. “Mamma Queen” é uma história atual, sobre uma família de Drag Queens que tenta sobreviver aos efeitos da pandemia. Tem tudo a ver misturar as cores e a energia do carnaval com o teatro para garantir esse enredo positivo e feliz. Tinha que ser algo assim, que forçasse a alegria, que arrancasse o riso na base da força, da comédia e da arte. Do otimismo que restava, fizemos neste último mês os ensaios virtuais para essa estreia. Feito de uma maneira totalmente diferente de antes, mas ainda assim efêmero. As raízes são as mesmas, estabilizando minha certeza que o fazer artístico pode acenar para um futuro mais otimista”.
E a diversidade não para na parte visual, o elenco conta com dois paulistas, duas cariocas, uma paraense e um gaúcho, além da participação especial da voz em off da cantora internacional Gottsha, que fazem desta peça um espetáculo que amplia a diversidade. “ Pretendemos apresentar essa peça em diversas cidades, levando o entretenimento e alegria; o circo inicialmente é inspiração artística para meus trabalhos, ter como lema que ‘o espetáculo não pode parar’, embora todas as adversidades, a performance artística é o resultado de uma raiz que faz brotar beleza, efêmera como as plantas nas estações”. Disse Ronald Lima com aquele sorriso puro de um artista que sonha e sabe que o show tem que continuar.
Que assim seja, que a arte continue a nos mover, nos inspirar, alegrar e que a gente nunca pare de sonhar. Lembre dessa purpurina quando ela chegar na sua cidade. Sucesso e vida longa à MAMMA QUEEN!
SERVIÇO
O espetáculo é o backstage de um cabaré onde trabalha uma família pouco tradicional, cercadas de amigas que só desejam ver o bem umas das outras. Um Clã de Drag Queens que só poderão sair de um apuro com a ajuda da Mamãe, uma confusão com a intervenção celestial. Narrativa emocionante e dinâmica, um show de comédia.
Estreia nacional em curta temporada de 03 apresentações.
Quintas-feiras 26 de agosto, 2 de setembro, e 9 de setembro de 2021.
Teatro Vannucci, no Shopping da Gávea, Rua Marques de São Vicente 52 – Loja 371, no Rio de Janeiro.
Gênero COMÉDIA
Duração 60 MINUTOS
Ingressos R$60,00 (inteira); R$30,00 (meia).
ELENCO:
Gottsha (participação especial VOZ)
Louysi Oliveira
Fábio Gouveia
Marcyo de Olliveira
Babú Energia e Cassia Minas
Texto e Direção de Ronald Lima
Arte Gráfica de Marco Aramha
Sonoplastia de Breno dos Reis
Produção de Marcyo de Olliveira
Apoio Cultural de: Das Arábias, Croa Modelagem, Hotéis Ibis Rio Centro, Marcele Echardt Cakes, Papier Gráfica e Two Sexxy.
Fernanda Magnani – Atriz, Professora de Teatro e Palestrante