Jupiter & Okwess buscam a cura para problemas sociais por meio da união intercontinental no disco Na Kozonga

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“Voltar para casa” é o significado de Na Kozonga, expressão africana que dá nome ao terceiro disco de estúdio da banda congolesa Jupiter & Okwess. Nas palavras de Jupiter Bokondji, vocalista do grupo, o trabalho traz o “retomar da profundidade infinita da alma” à medida que apresenta uma sonoridade enérgica por meio de participações dos cariocas Marcelo D2 e Rogê, da cantora chilena Ana Tijoux, do ator e músico francês Yarol Poupaud, da cantora e compositora americana Maiya Sykes, e da Preservation Hall Jazz Band, para costurar com arte as relações entre continentes historicamente marcados por rotas da colonização. O álbum produzido por Mario Caldato Jr, que assina trabalhos com Björk, Beastie Boys, Seu Jorge e Manu Chao, chega hoje, 23 de abril, às plataformas de streaming (ouça aqui) e vem acompanhado do videoclipe da faixa “Telejayi”, com Marcelo D2 (assista aqui).

Unidos pela visão artística antropofágica, o grupo Jupiter & Okwess se encontrou com D2 em Paris, durante um dia livre do rapper em meio à uma turnê na Europa. Ali, fizeram a gravação  da faixa e do videoclipe. “Quanto mais a gente consegue unir as nossas  culturas, mais elas se tornarão universais”, avalia o carioca. “Esse encontro vai influenciar tudo o que vem daqui pra frente na minha música”, ele comenta. 

Cruzar essa rota criativa com o Brasil era algo inevitável para a banda congolesa, já que parte do entendimento de que viemos de uma mesma origem. “Não há como esquecer o passado tão facilmente. As pessoas do outro lado são nossos descendentes distantes”, explica o vocalista do conjunto formado por ele ao lado de Montana Kinunu (vocal e bateria), Yende Balamba (vocal e graves), Eric Malu-Malu-Muginda (vocal e guitarra), Richard Kabanga Kasonga (vocal e guitarra) e Blaise Sewika Boyite (vocal, guitarra e percussão). 

Outra presença nacional em Na Kozonga é a do sambista carioca Rogê, na música “Bolingo”. A faixa foi revelada no ano passado, por meio de um EP homônimo que também trouxe mais duas participações que entraram no disco: a de Maiya Sykes (cantora americana que já trabalhou com Macy Gray, The Black Eyed Peas, Michael Bublé e na trilha do filme “La La Land”), em “Bakunda Ulu”; e do Preservation Hall Jazz Band – grupo que mantém vivo o tradicional jazz de New Orleans, nos Estados Unidos – em “Abalegele Gale”. Além das participações, o material também apresentou ao público “Izabela” e a faixa-título do disco, a última acompanhada por videoclipe (assista aqui).

Jazz, funk, rock e salsa são alguns dos gêneros que atravessam a tracklist do álbum composto por doze faixas. Misturados à pluralidade musical congolesa – reflexo das mais de 400 etnias listadas pelo país – Jupiter e seus companheiros dão continuidade a seu “bofenia rock”, termo com o qual definem a própria sonoridade. “Tentamos explorar esses gêneros à nossa maneira”, contam sobre as distintas influências que formam Na Kozonga

Nem mesmo a escolha do local para registrar o terceiro disco do grupo foi aleatória à intenção dos artistas de ressignificar trocas culturais entre diferentes etnias. A cidade de Los Angeles foi o palco para a gravação de Na Kozonga por ser vista como a mais latina no território estadunidense. A latinidade que o trabalho carrega também ganha vida em “You Sold Me A Dream”, parceria com a artista chilena Ana Tijoux que trata diretamente da sobrevivência aos impactos dos processos de colonização (assista aqui). A seleção de parcerias é complementada pelos riffs de guitarra do francês Yarol Poupaud, em “Jim Kata”, fechando a rota traçada entre África, América do Sul, América do Norte e Europa. 

Apesar da densidade dos temas abordados, a enérgica construção sonora confere leveza e animação ao sucessor de Kin Sonic (2017) – segundo disco do conjunto que chegou a integrar a playlist do ex-presidente americano Barack Obama e o top 10 de discos daquele ano pelo The New York Times. O equilíbrio entre acontecimentos sombrios da humanidade e a vivacidade dos encontros musicais resumem a essência de Na Kozonga e mostram que a união intercontinental é o caminho para construir outra perspectiva de futuro. “Abordar temas relacionados aos problemas da sociedade, como a colonização, os problemas climáticos e ambientais, as injustiças sociais com ritmos emocionantes, nos permite curar as nossas almas nos libertando de todos estes males”, conclui Jupiter.

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