O ginecologista André Vinícius de Assis Florentino conta que as infecções urinárias na menopausa se tornaram um tema de crescente relevância no cenário médico, sobretudo pelo impacto significativo na qualidade de vida das mulheres nesta fase. “As mudanças fisiológicas que ocorrem durante este período são complexas e multifacetadas, com os níveis hormonais oscilantes afetando diversos aspectos da saúde feminina”, aponta.
O médico diz que as infecções urinárias (ITUs) podem acontecer em qualquer parte do sistema urinário, com maior ocorrência na bexiga e uretra. Ele explica que essas infecções são frequentemente causadas por bactérias, mas podem ser resultantes de vírus e fungos. Geralmente, as bactérias entram através da uretra, proliferando-se na bexiga, dando origem à cistite, uma das formas mais comuns de infecções urinárias na menopausa. “As manifestações clínicas típicas de ITUs incluem frequência urinária aumentada, dor ou ardor ao urinar, e urina com aparência turva ou com odor forte. A conexão entre esses desconfortos e a menopausa reside, na maioria, das alterações hormonais e estruturais que ocorrem no trato urinário e na região vaginal”, pontua.
O impacto da menopausa nas infecções urinárias
O período da menopausa é caracterizado pela diminuição notável nos níveis de estrogênio, trazendo uma série de modificações nos tecidos urogenitais. André Vinícius conta que a síndrome geniturinária da menopausa (SGM) é uma condição multifatorial na qual os tecidos do trato urinário se tornam mais finos, secos e, consequentemente, mais susceptíveis a infecções. Esta condição afeta até 50% das mulheres na menopausa e gera sintomas como secura vaginal, coceira, desconforto urinário, ganho de peso e infecção urinária.
O médico relata que o pH vaginal, regulado em parte pelos níveis de estrogênio, também experimenta alterações durante a menopausa, tornando o ambiente mais propenso ao crescimento de bactérias patogênicas, um fator contribuinte para o desenvolvimento de infecção urinária. “A falta de estrogênio também influencia a integridade e função das bactérias benignas, que normalmente ajudam a proteger contra patógenos indesejados”, comenta.
Infecções urinárias mais comuns na menopausa
Cistite bacteriana: é a forma mais comum de infecção urinária. Ocorre quando bactérias, frequentemente a Escherichia Coli, entram na bexiga, causando inflamação e infecção.
Uretrite: a inflamação da uretra é resultante de uma infecção bacteriana, podendo causar sintomas como dor e uma necessidade urgente de urinar.
Pielonefrite: é uma complicação possível e séria, exigindo intervenção médica imediata. Pode ocorrer quando uma infecção urinária de menor gravidade, como a cistite, sobe aos rins.
Infecções fúngicas: embora não sejam tecnicamente infecção urinária, infecções fúngicas do trato urinário (por exemplo, causadas por Candida) podem se tornar mais comuns na menopausa devido às alterações no pH e na flora vaginal.
Atrofia urogenital: pode predispor as mulheres a infecção urinária frequente devido ao afinamento e ressecamento dos tecidos, facilitando a entrada de bactérias no trato urinário.
Prevenção e tratamento
Embora as infecções urinárias sejam uma realidade para muitas mulheres na menopausa, existem estratégias proativas que podem auxiliar na prevenção. De acordo com o ginecologista, uma delas envolve o uso da terapia hormonal, que tem se mostrado eficaz para minimizar os sintomas da menopausa e, consequentemente, reduzindo as infecções urinárias.
Ele lembra que os cremes vaginais de estradiol, por exemplo, têm demonstrado ser uma ferramenta vital, que ajudam a restaurar a integridade do tecido vaginal, oferecendo uma barreira mais robusta contra as bactérias e outros patógenos. “A aplicação tópica de estradiol não apenas auxilia na manutenção do pH vaginal adequado, mas também promove a espessura e a elasticidade do tecido, o que pode ser especialmente benéfico para mulheres que experienciam dor durante as relações sexuais, um sintoma comum na pós-menopausa”, destaca.
Abordagem holística e multidisciplinar é frequentemente a mais benéfica
A terapia hormonal sistêmica também é uma opção para algumas mulheres, especialmente aquelas que experimentam sintomas vasomotores, como ondas de calor e suores noturnos, juntamente com os sintomas urogenitais. “É essencial, no entanto, que os benefícios e riscos desta abordagem sejam cuidadosamente discutidos com um profissional de saúde, dada a variedade de fatores que precisam ser considerados, incluindo o histórico médico e os riscos associados ao câncer e eventos cardiovasculares”, alerta.
Dr. André Vinicius – Foto divulgação
Segundo o especialista, equipes médicas que incluem ginecologistas, urologistas e até mesmo psicólogos, podem trabalhar em conjunto para criar um plano de tratamento que aborda não apenas os sintomas físicos, mas também os impactos emocionais e psicológicos das mudanças urogenitais durante a menopausa. O médico afirma que muitas mulheres podem navegar por esta fase da vida com conforto e confiança, mantendo a qualidade de vida e o bem-estar que elas desejam e merecem.