É frequente que encontremos pessoas mais alegres em seus momentos de lazer do que em suas vivências profissionais. Aqueles que realmente contam os dias, as horas e os minutos para afrouxarem as gravatas ou tirarem o scarpin – ou qualquer outro elemento simbólico mais intimamente relacionado com uma área específica – para enfim começarem a curtir o que a vida oferece de melhor.
Penso que esse cenário realmente pode acontecer, mas ele não é definitivamente um destino, mas uma escolha, grande parte das vezes. Quando nos é permitido trabalhar com aquilo que amamos, nosso dia a dia se torna um enorme prazer. As frases engraçadas que desmerecem as segundas-feiras deixam de fazer sentido e o universo laboral se torna tão motivador e interessante quanto outros momentos mais pessoais.
Exercer uma função que tenha a ver com a nossa história, com os nossos gostos e costumes, com nossas habilidades e aptidões aumenta nossa sensação de bem estar e eleva nossa autoestima e nosso autoamor. Um dos caminhos mais indicados para a descoberta dessa vocação, resumidamente, é um convite a revisitar o passado e relembrar com doçura, gentileza e delicadeza o que lhe fazia feliz na infância.
Nesse sentido, tudo cabe. Questionar a preferência por estar em meio a natureza ou desmontando e remontando eletrodomésticos? Passar horas escolhendo as roupas das bonecas ou segundos consertando e operando freneticamente um bicho de pelúcia? Servir comidinhas elaboradas e incrivelmente gostosas para os convidados imaginários ou construir prédios gigantes e detalhados com blocos de montar? Ouvir e aconselhar os amigos ou apresentar sua arte para uma pequena multidão?
Com isso, não busco romantizar o trabalho. Entendo que nem sempre conseguimos exercer o cargo que gostaríamos ou praticar a atividade específica que desejamos. No entanto, o percurso profissional que traçamos para cada vez mais nos aproximarmos de nossa meta é decidido em maior parte por nós. Mas para tanto precisamos nos conhecer e buscar descobrir o que verdadeiramente nos traz bem estar.
Pense nisso! Muito do que te faz feliz, já fazia quanto você era pequeno. Contudo, por vezes, esquecemos disso, calamos isso em nós. E quando nos permitimos abrir esse baú de boas lembranças, nos deparamos com pequenos hábitos, brincadeiras ou ações que nos acompanham ao longo da nossa jornada. Aquilo que fazemos naturalmente, quase sem esforço, por gosto e por afeto. Aquilo que nos faz sorrir.
Bruna Richter é graduada em Psicologia pelo IBMR e em Ciências Biológicas pela UFRJ, pós graduanda no curso de Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela PUC. Escreveu os livros infantis: “A noite de Nina – Sobre a Solidão”, “A Música de Dentro – Sobre a Tristeza” e ” A Dúvida de Luca – Sobre o Medo”. A trilogia versa sobre sentimentos difíceis de serem expressos pelas crianças – no intuito de facilitar o diálogo entre pais e filhos sobre afetos que não conseguem ser nomeados. Inventou também um folheto educativo para crianças relacionado à pandemia, chamado “De Carona no Corona”. Bruna é ainda uma das fundadoras do Grupo Grão, projeto que surgiu com a mobilização voluntária em torno de pessoas socialmente vulneráveis, através de eventos lúdicos, buscando a livre expressão de sentimentos por meio da arte. Também formada em Artes Cênicas, pelo SATED, o que a ajuda a desenvolver esse trabalho de forma mais eficiente.