Culto ao Corpo: restituição narcísica e a lógica sacrificial

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Na sociedade de consumo em que vivemos – cada vez mais – o corpo se torna um capital. É através dele que, diversas vezes, buscamos um reconhecimento que valide nossa identidade. Desse modo, estrategicamente, ele se torna um alvo de auto investimento. Acaba sendo entendido como uma representação de um sujeito bem-sucedido.

Na busca pela supressão das faltas, a imagem que possuímos de nós se torna protagonista e exige consigo práticas corporais intangíveis e infindáveis, além do investimento massivo e continuado na estética. Em nossa demanda por amor, buscando o reconhecimento social, o investimento corporal procura aplacar o desamparo fundamental que nos angústia.

O corpo passa assim a ter valor simbólico de mercadoria.  Um objeto de consumo.  Uma fonte de investimento – tentando tamponar a falta ontológica que experimentamos. Tendo em vista nossa experiência na cultura do desempenho e do espetáculo, a aparência se torna mais do que uma moeda de troca: personifica-se como promessa de felicidade.

Para tanto, devemo-nos submeter a uma lógica sacrifical, seguindo um verdadeiro protocolo corporal moral e métrico, através de muita disciplina e determinação, possibilitando assim a redenção de nossas falhas ao restituir nosso direito de exibimo-nos livremente em espaços públicos – inclusive em mídias sociais.

Além disso, em uma época tão imagética, onde a dimensão da linguagem se torna bastante empobrecida, emerge a teatralização no corpo de nossa dimensão conflitiva. Há uma representarão corpórea muito fragilizada, que implica incapacidade de perceber nossas bordas, nosso contorno. Não há, assim, uma representação coesa de si.

Nossa cultura segue dando primazia à imagem e não a linguagem, aumentando a formação de sintomas ligados ao autoerotismo e ao narcisismo primário – sintomas muito físicos. Diante disso, na tentativa de restauração da percepção de um self unificado, através do consumo da aparência que compactua com o discurso dominante, buscamos encontrar uma possível completude imaginada, numa espécie de restituição narcísica. É necessário estar atento!


Bruna Richter 

Psicóloga graduada pelo IBMR e Bióloga graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui pós-graduação em Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Também é formada em Artes Cênicas pelo SATED do Rio Janeiro, o que a ajudou a desenvolver o Grupo Grão, projeto voluntário que atende pessoas socialmente vulneráveis, onde através de eventos lúdicos, busca-se a livre expressão de sentimentos por meio da arte.

Seus livros infantis “A noite de Nina – Sobre a solidão”, “A música de dentro – Sobre a tristeza” e “A dúvida de Luca – Sobre o medo” fazem parte de uma trilogia que versa sobre sentimentos por vezes vistos como negativos, mas que trazem algo positivo se olharmos para eles mais atentamente. Estes dois últimos inclusive entraram para a lista paradidática de uma tradicional escola montessoriana na cidade do Rio de Janeiro.

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