Criança também precisa de espaço

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O processo criativo somente ganha lugar para florescer, quando existe espaço. Se preenchermos com informações e atividade o tempo da criança ela não terá a oportunidade necessária para gerar algo novo. Nesse sentido, é fundamental que exista um período específico que possamos nomear de hora do nada. Sem jogos, televisão, sem atividades direcionadas. Aqueles instantes onde os pequenos se percebem livres e sem regras, podendo fantasiar.

À vista disso, as ferramentas mais apropriadas que podem ser utilizadas, são especialmente as não estruturadas. Ao invés de bonecas, bolas ou carrinhos, deixem seus filhos brincarem com blocos de montar, argila, papeis em branco. Forneça-lhes menos restrição e mais possibilidades. A massinha é um exemplo excelente de instrumento que pode se transformar em qualquer coisa, podendo, desse modo, construir variadas situações.

Por conseguinte, quanto mais flexível forem as características concretas dos brinquedos, maior a chance de inventar. Ademais, é importante que durante a brincadeira os pais não se prendam muito às regras do jogo. Se o objetivo em questão for estimular a criança a expandir seu potencial criativo, o faz de conta é essencial. Transformar algo em outra coisa. Fazer surgir o que nunca existiu.

E assim, um tapete velho vira uma capa de herói. Sapatos se transformam em barquinhos. Meias em marionetes. Retira-se o sentido prévio das coisas, liberando-as para o mundo. Portanto, permite-se que se transfigurem em qualquer possibilidade que a imaginação possa criar. É um exercício de não engessamento, por vezes, muito mais complexo para os pais do que para as próprias crianças.

Sim, brincar é fundamental. Contudo, para além disso, é fundamental que se preservem os vazios para que a criança possa não apenas desfrutar deles, mas preenchê-los da forma como mais as convier. Não é uma ação trivial, nem para nós adultos, mas, talvez com isso, elas desenvolvam progressivamente a capacidade de estarem consigo mesmas, e, com sorte, acabem gostando bastante dessa companhia.


Bruna Richter 

Psicóloga graduada pelo IBMR e Bióloga graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui pós-graduação em Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Também é formada em Artes Cênicas pelo SATED do Rio Janeiro, o que a ajudou a desenvolver o Grupo Grão, projeto voluntário que atende pessoas socialmente vulneráveis, onde através de eventos lúdicos, busca-se a livre expressão de sentimentos por meio da arte.

Seus livros infantis “A noite de Nina – Sobre a solidão”, “A música de dentro – Sobre a tristeza” e “A dúvida de Luca – Sobre o medo” fazem parte de uma trilogia que versa sobre sentimentos por vezes vistos como negativos, mas que trazem algo positivo se olharmos para eles mais atentamente. Estes dois últimos inclusive entraram para a lista paradidática de uma tradicional escola montessoriana na cidade do Rio de Janeiro.

Foto de Alexander Grey: https://www.pexels.com/pt-br/foto/criancas-multicoloridas-a-mao-1148998/

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