Há apenas alguns anos, a maioria das marcas de luxo ficava fora da conversa quando o assunto era consignação ou revenda. Entre outros problemas, havia o temor de produtos falsificados, perspectiva de perder sua participação no mercado ou até mesmo desconfiança sobre o real potencial do setor: as compras de segunda mão realmente decolariam? As mulheres realmente querem comprar o vestido que já foi de outra pessoa?
De acordo com um estudo recente realizado pelo Boston Consulting Group (BCG), realizado com 12 mil consumidores de 10 países, incluindo o Brasil, as vendas de second hand de luxo vêm crescendo, em média, 12% ao ano em nível global, contra 3% dos produtos novos. Esse movimento também vem impulsionado pelo sentimento de responsabilidade junto ao meio ambiente.
Segundo uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em todas as capitais brasileiras, o número de brasileiros que estão dispostos a adotar mais práticas de consumo colaborativo no seu dia a dia aumentou de 68% para 81%.
A pesquisa mostra ainda que seis em cada 10 consumidores já compraram algum produto de segunda mão nos últimos 12 meses. Entre os principais motivos para a adoção da prática do consumo colaborativo estão; oportunidade de economizar dinheiro, evitar o desperdício, diminuir o consumo excessivo, poupar energia e recursos naturais e poder ajudar outras pessoas.
Aqui no Brasil, a INFFINO é um exemplo do crescente interesse do consumidor por artigos de luxo second hand. A empresa registrou um crescimento cinco vezes maior nos últimos dois anos. Para Cassio Silbermann, sócio da INFFINO, a relação custo-benefício da compra aliada aos valores embutidos no conceito de second hand são alguns dos principais fatores que vem impulsionando o setor.
“As pessoas perceberam que é possível comprar um ítem de luxo com segurança, sem risco de falsificação por um custo mais atraente. Tecnologias de inteligência artificial, por exemplo, nos ajudam a ter esse grau de assertividade na análise do nosso estoque. Vale destacar também o engajamento das novas gerações, em especial a geração Z, quando o assunto é sustentabilidade. A ideia de reaproveitamento e economia circular é uma premissa para esse público na hora da compra”, avalia.
Tendência Global
Atentas a esse movimento, grandes grifes da moda estão cada vez mais conectadas com o mercado de second hand. A Gucci, por exemplo, fechou uma parceria com a The RealReal, plataforma de revendas de itens luxuosos. Entre outras ações contempladas no acordo, a TRR disponibiliza um e-shop especial da Gucci que tem no estoque itens de consignadores, bem como mercadorias enviadas diretamente da própria Gucci. Além disso, para cada item da grife comprado ou vendido, a TRR plantará uma árvore por meio da One Tree Planted, uma organização sem fins lucrativos que trabalha com reflorestamento global.
A grande varejista de luxo Neiman Marcus também anunciou investimento no negócio de usados, assumindo uma participação minoritária na Fashionphile, revendedora de artigos de luxo com mais de 20 anos no mercado.
“Estes acordos fechados entre marcas e plataformas visam a captação dos recursos gerados por meio das revendas, visto que o consumidor que vende este produto de segunda mão muitas vezes utiliza este valor para aquisição de um produto novo, não de outro do second hand”, explica Cassio.
Já a Vestiaire Collective fez parceria com a grife britânica de luxo Alexander McQueen para um acordo de revenda sustentável. Nesse caso, os produtos de segunda mão recebidos pela Vestiaire serão autenticados pela própria Alexander McQueen.
“As grandes marcas estão atentas ao aquecimento do setor de second hand e já começaram a se posicionar. No Brasil, esse movimento também está ficando cada vez mais intenso. A ideia de consumo consciente da economia circular é sólida e está alinhada à uma nova realidade, a uma nova demanda. Trata-se de um caminho sem volta”, finaliza Silbermann.