Caike Luna, faz sua passagem deixando mais um vazio enorme na comédia brasileira

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Esse ano parece que veio além de tudo nos ensinar a despedir. Ter um novo olhar sobre esse planeta, sobre nossos propósitos, sobre como cuidamos de nós e do outro. Certo é que de alguma forma ninguém escapou dessa dor. Ela é coletiva. Um luto dividido com o mundo. Que direta ou indiretamente nos levou algo, sejam sonhos, pessoas, coragem, esperança. Essa que precisou ser renovada a cada manhã para que se pudesse continuar a estrada, mesmo com o sinal fechado.

Que esse lugar é um grande hospital, uma grande escola já não tenho dúvidas. E o amor deve ser certamente a matéria em que devemos estudar para passar de ano. Esse amor que nos conecta, que gera encontros de segundos eternos, pode nascer da arte. E o comediante, o humorista, o palhaço, naturalmente é a “cereja do bolo” na terra, que nos permite o alívio, o riso, a alegria, que são capazes de nos gerar endorfina, ocitocina, as melhores sensações e emoções.

O ator, comediante, humorista, palhaço, escritor, diretor, irmão, filho e amigo Caike Luna nos deixou esse Domingo. Ele veio de Cruzeiro do Oeste, costumava dizer que sua cidade era tão pequena que quando colocaram o primeiro sinal de trânsito, a população se juntou na frente para dançar, achando que era boate. Chegou em Curitiba para estudar na Faculdade de Artes do Paraná, fez parte de uma geração de talentos que saiu de lá e hoje fazem parte do cenário do humor brasileiro. Seu primeiro personagem na televisão foi o Cleitom no Zorra Total onde compartilhava o palco com Lady Kate, interpretada pela atriz Katiuscia Canoro, uma parceria que já vinha dos palcos e continuou em grandes e divertidos projetos. Foi ela inclusive que noticiou com tristeza a sua passagem, a história deles é entrelaçada no humor e na vida.

Em Curitiba, Caíke atuou, escreveu, dirigiu e produziu grandes espetáculos teatrais. Em 13 anos, fez 45 peças, antes de chegar no Rio de Janeiro em 2007. Sua genialidade em criar, inspirou diversos artistas que ainda hoje reverberam no cenário nacional. Ele tinha um riso fácil, uma alegria genuína, um excelente talento para cozinha, generoso e sempre aberto para fazer o mundo sorrir.

Gostava de gatos, karaokê e tinha muitos amigos, sua passagem deixa um vazio enorme na classe artística, não apenas curitibana, onde certamente está grande parte de seu coração, mas ele teve tempo ainda que rápido de alcançar o país todo, e seus personagens estarão eternamente disponíveis para nos fazer sorrir, e sentir esse amor que ele reverberava, pela vida, pelos sonhos, pelo prazer de viver da sua arte.

Atualmente ele estava atuando em programas da Multishow e personagens como Baby, de “Baby e Rose”, Time Tiurri, de “Xilindró” e Gagoberto de “Treme Treme” mostram a leveza com que ele impecavelmente criava seus personagens. Nós ficamos com aquele silencio engasgado, tentando digerir porque a vida tem nos levado literalmente a alegria. Caike tinha 42 anos e certamente muita história para criar e contar ainda. Mas a intensidade e maestria com que ele viveu o tempo que lhe foi fornecido, é um exemplo para nós que aqui ainda estamos.

E quando alguém parte assim, principalmente alguém que amamos, nos lembramos que a vida é frágil e passageira. Que essas passagens de pessoas que vieram para nos fazer sorrir, não nos tire a esperança de gargalhar de novo. Que possamos assim como ele, honrar nosso tempo aqui, realizar sonhos e fazer os outros felizes.

Gratidão Caike, por saber aproveitar o seu tempo conosco e nos proporcionar tanta alegria. Na certeza que você continuará a brilhar e reverberar amor onde quer que esteja. Haveté


Fernanda Magnani – Atriz, Professora de Teatro e Palestrante

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