As gírias da novela ‘Garota do Momento’: uma viagem ao vocabulário dos anos 1950

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A atual novela das seis, da Globo, “Garota do Momento”, ambientada no ano de 1958, tem se destacado por seu roteiro inteligente, mas também por resgatar a linguagem e o comportamento juvenil da época. Um dos aspectos mais interessantes da produção é a utilização de gírias que marcaram os anos dourados do Brasil. Essas expressões, que soam curiosas para o público contemporâneo, são fundamentais para a composição do universo narrativo da trama e oferecem uma janela para a cultura e os costumes da década de 1950.

Dentre as gírias apresentadas, “rosetar” é talvez a mais emblemática. Frequentemente usada pelo personagem Topete, interpretado por Gabriel Milane, a expressão simboliza o desejo de sair e aproveitar a vida sem compromisso, especialmente em contextos de paquera. “Rosetar” traduz o espírito despreocupado e aventureiro de uma juventude que buscava se afirmar em meio às transformações culturais da época. Por exemplo, Topete costuma dizer frases como: “Hoje à noite vou rosetar pela pracinha e ver se encontro algum broto por aí!”

Outra gíria que chama atenção é “chuá”, empregada para expressar que algo foi realizado com sucesso ou que um evento foi memorável. Frases como “a festa foi um chuá” ilustram como a linguagem da juventude era impregnada de entusiasmo e criatividade. Um exemplo na trama é quando uma personagem exclama: “Você viu o show na boate? Foi um chuá! Todo mundo dançando sem parar.”

A influência estrangeira, em especial dos Estados Unidos, também se faz presente na novela. O termo “it”, por exemplo, é usado para descrever alguém que possui um charme especial ou um “borogodó” – uma qualidade indefinível que torna a pessoa atraente. Esse tipo de gíria reflete o impacto da cultura hollywoodiana e da emergente bossa nova, que redefiniram os padrões de beleza e comportamento. Na novela, não faltam cenas em que uma moça comenta com as amigas: “Você viu o rapaz novo da cidade? Ele tem um it que ninguém resiste!”

Já “uvinha” é uma expressão carinhosa para elogiar uma moça atraente, equivalente ao “gatinha” de hoje. Essa palavra captura a leveza e a informalidade que caracterizam a comunicação juvenil em qualquer época. Um dos rapazes da novela costuma dizer: “Aquela uvinha do colégio é um arraso! Preciso criar coragem pra falar com ela.”

Outras Gírias Marcantes

Além das expressões mais recorrentes, a novela Garota do Momento resgata um verdadeiro tesouro do léxico dos anos 1950. Algumas dessas gírias incluem:

  • Broto: usado para se referir a uma pessoa jovem e atraente. Exemplo: “Você viu o broto novo da cidade? Ele é um verdadeiro pão!”
  • Pão: gíria para homem bonito. Exemplo: “O novo professor é um pão, não acha?”
  • Chapa: amigo ou colega próximo. Exemplo: “Ei, chapa, vamos pegar uma sessão de cinema hoje?”
  • Patavinas: significa “nada” ou “coisa nenhuma”. Exemplo: “Eu não entendi patavinas daquela explicação da professora de matemática!”
  • Fogo na roupa: algo ou alguém muito agitado ou intenso. Exemplo: “A festa estava um fogo na roupa, todo mundo dançando rock!”
  • Dar tábua: recusar um convite para dançar. Exemplo: “Ela me deu uma tábua e dançou com outro cara.”
  • Sebo nas canelas: apressar-se ou correr. Exemplo: “Está quase na hora da aula, coloca sebo nas canelas!”
  • Bafafá: descreve uma situação de confusão ou tumulto. Exemplo: “Você ouviu falar no bafafá que aconteceu no baile?”
  • Chá de cadeira: alude à experiência de esperar por muito tempo. Exemplo: “Fiquei um tempão esperando no portão, tomei um verdadeiro chá de cadeira.”
  • Papagaio: expressão de espanto ou surpresa. Exemplo: “Papagaio! Você viu o vestido dela? Tão elegante!”
  • Pombas: expressão que demonstra admiração, espanto, irritação, surpresa etc. Exemplo: “Pomba(s), esqueci a janela a aberta”

A autora Alessandra Poggi escolheu 1958 como o pano de fundo da trama para capturar o otimismo e as transformações sociais daquele período. Foi o ano em que o Brasil conquistou sua primeira Copa do Mundo e viu nascer a bossa nova, movimento que uniu a sofisticação musical ao sentimento de identidade nacional. Esse cenário permite explorar não apenas os costumes e as relações sociais, mas também a riqueza linguística de uma época em que as gírias eram um marcador importante de identidade e pertencimento.

Crédito da foto: TV Globo


João Paulo Silva – @oviajantedasestrelas

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