O desejo de estar bem o tempo todo pode esconder um novo tipo de adoecimento emocional
Em tempos em que autocuidado virou produto e equilíbrio emocional parece uma meta obrigatória, um novo tipo de sofrimento tem ganhado espaço na vida de quem, teoricamente, está “bem resolvido”. Não se trata mais apenas de exaustão física ou burnout clássico. Estamos falando de uma cobrança silenciosa que surge dentro de quem sempre funcionou: profissionais autônomos, executivos, mães e empreendedores. Pessoas que estão, do lado de fora, com tudo sob controle.
“O que estou vendo nos atendimentos psicológicos é um cansaço que não vem da falta de força, mas do excesso de responsabilidade emocional que essas pessoas assumem. Elas querem dar conta de tudo com leveza, maturidade, consciência e clareza. Isso, por mais nobre que pareça, se torna insustentável”, explica a psicóloga Gabriela Luxo, mestre e doutora em Distúrbios do Desenvolvimento e autora do livro Entre o Controle e o Caos.
O que era para ser um caminho de organização emocional passa a ser, sem perceber, uma nova forma de pressão interna. A ideia de “precisar estar bem” em todos os papéis acaba alimentando uma culpa constante, especialmente quando surgem sinais de esgotamento, irritabilidade ou tristeza. Como se, ao sentir, estivessem falhando.
“Muitos dos meus pacientes se desculpam por não estarem bem. Como se tivessem cometido uma falha no plano de vida que construíram. O perfeccionismo emocional é silencioso, porque se camufla de autoconhecimento”, destaca Gabriela.
A busca por equilíbrio, quando se torna uma exigência constante, pode anular a escuta real sobre o que se sente. E é justamente isso que gera afastamentos, crises de ansiedade, lapsos de memória, insônia ou queda de desempenho, sem um motivo claro.
Gabriela Luxo defende que o caminho é outro: “Mais do que aprender a regular as emoções, precisamos reaprender a olhar para elas sem julgamento. Equilíbrio não é silenciar o que sentimos, mas criar espaço para escutar com maturidade”.
Para isso, a psicóloga aposta em uma abordagem que considera mente, corpo e cotidiano. Em seu consultório, Gabriela tem percebido que os atendimentos mais efetivos são aqueles que vão além da conversa: envolvem planejamento de rotina, revisão de expectativas e um compromisso real com o autoconhecimento. “A saúde mental não se sustenta em uma única dimensão. Quem quer funcionar bem precisa cuidar de tudo o que o corpo e a mente absorvem”.
Mais do que uma proposta psicoterapêutica, Gabriela acredita que estamos vivendo uma mudança de geração: profissionais que não querem mais viver em função do desempenho, mas também não sabem como sair desse ciclo. E é justamente por isso que a escuta psicológica profunda, aliada a um plano de vida realista e humanizado, tem se tornado um dos caminhos mais eficazes para reencontrar um sentido.
“Não se trata de desacelerar tudo ou abandonar metas. Mas de não adoecer tentando ser emocionalmente impecável. Porque o verdadeiro equilíbrio não está em nunca cair, mas em saber como se levantar de forma mais consciente, todas as vezes que for necessário”.
Converse com a Dra. Gabriela Luxo em @gabrielaluxo
