O segundo volume da jornada épica de Sir Patrick Leigh Fermor de Londres a Constantinopla, atual Istambul, acaba de ser lançado no Brasil. Entre a floresta e a água – A pé até Constantinopla: do médio Danúbio às Portas de Ferro é chancelado pela Editora Edições de Janeiro, com traduções de Maria Teresa Fernandes Serra e MV Serra.
Publicado originalmente em 1986, a obra dá sequência a “Um tempo de dádivas”, de 1977, em que Paddy, como é conhecido, narra a experiência pessoal pelos vilarejos da Europa Central e sua admiração pelo continente ainda dominado pelos velhos impérios, quatro décadas antes. Na iminência da Segunda Guerra, portanto.
Em Entre a floresta e a água, a etapa danubiana retratada no primeiro livro continua com o autor de pé sobre uma ponte em Esztergom, 40 milhas rio acima de Budapeste. Em um sábado de Aleluia, ele avaliava a situação na qual se encontrava, a meio caminho de seu objetivo. Já tinha percorrido a Holanda, Alemanha, Áustria e Tchecoslováquia.
Um amigo havia escrito para o prefeito de Esztergom: “Por favor cuide bem deste jovem, que está indo a pé até Constantinopla”. Com planos de procurá‑lo no dia seguinte, perguntei a alguém pelo escritório do prefeito e, antes que me desse conta do que se passava, e para meu embaraço, ele me havia levado ao próprio. Estava rodeado por aqueles figurões maravilhosamente trajados que eu observara admirado junto ao Danúbio. Tentei explicar que eu era o andarilho sobre o qual ele havia sido avisado, e ele, embora gentil, não entendeu muito bem; (Entre a floresta e a água, p. 9)
A narrativa de Patrick Leigh Fermor transcende o caráter descritivo de paisagens e situações. Recolhe memórias, vive intensamente e compõe com arte as peças de um mosaico étnico-cultural recolhidas ora num castelo, ora numa casa de campo humilde, numa reunião de nazistas – já tenebrosos –, num bordel ou mesmo num mosteiro.
Na versão em português, a obra é enriquecida com notas que decifram algumas sofisticadas referências do autor e, até, o viés charadístico de certas situações por ele descritas que, passadas várias décadas, poderiam escapar ao leitor. As inferências dos tradutores também foram feitas a partir de anotações do diário de Paddy, que se encontra arquivado na Biblioteca Nacional da Escócia.
Com base em “Um tempo de dádivas” e “Entre a floresta e a água”, o autor britânico, estudioso, soldado e poliglota foi considerado o maior autor de literatura de viagens vivo da Grã-Bretanha. E é, ao lado de Robert Byron, reconhecido como o maior autor de prosa de viagem do século XX. Viveu até os 96 anos, quando faleceu, em 2011.
O terceiro e último livro da saga foi publicado postumamente em 2013, e também está em fase de tradução para o português pela Editora Edições de Janeiro.
Sinopse: O segundo livro da trilogia nos leva ao sábado de Aleluia de 1934. Patrick (Paddy) Leigh Fermor, aos dezenove anos, avaliava sua situação, de pé sobre uma ponte no Danúbio, em Esztergom, cerca de quarenta milhas rio acima de Budapeste. Encontrava-se, agora, a meio caminho de seu objetivo, tendo viajado, quase sempre a pé, através da Holanda, Alemanha, Áustria e Tchecoslováquia, seguindo aproximadamente os cursos do Reno e do Danúbio, mas fazendo desvios e excursões alternativas sempre que lhe dava vontade. Viajou, em geral, sob duras condições, convivendo com mendigos, ciganos, fazendeiros e qualquer um que encontrasse nas estradas, mas de vez em quando se abrigava por alguns dias na casa de algum conhecido de índole hospitaleira, nem que fosse só para usar a biblioteca. Da ponte em Esztergom, na fronteira entre a Eslováquia e a Hungria, circundado por um enxame de cidadãos que se preparavam para as cerimônias da Páscoa, ele olhava, pela primeira vez, cheio de expectativa, para as seduções prometidas pela Europa Central – as bravatas românticas dos húngaros, as estranhas lendas e tradições da Transilvânia, a majestade selvagem do próprio Danúbio a fluir através de desfiladeiros, pântanos e florestas em direção ao Mar Negro.
Patrick Leigh Fermor nasceu em Londres, em 1915. Em 1933, aos 18 anos, atravessou a Europa a pé, da Holanda até Constantinopla, acompanhando o Reno e o Danúbio, percurso relatado em Um Tempo de Dádivas (1977) e em dois outros livros, um dos quais publicado postumamente. Durante a Segunda Guerra Mundial, Paddy, como era conhecido, atuou como oficial do Serviço de Inteligência britânico em operações na Albânia e na Grécia. Viajante contumaz, escreveu, a partir de 1950, livros e artigos, revelando-se notável estilista e exímio observador e conhecedor de línguas, história, arte e arquitetura dos lugares que percorreu. É considerado o mestre do moderno relato de viagem.