Atualmente, o papel de um psicólogo organizacional vem sendo direcionado muito mais para um acolhimento pessoal, do que apenas para o desempenho de funções operacionais que objetivem a seleção de pessoas ou, mesmo a estruturação dos recursos humanos. Muitas empresas, já entenderam essa nova dinâmica e, com isso estão guiando os seus planos estratégicos no intuito de estabelecer o equilíbrio entre uma escuta empática consciente e a construção de confiança e vínculos que possam proporcionar maior bem-estar e satisfação no trabalho para todo seu corpo funcional, sempre atendendo a missão, visão e valores da empresa.
Habilitado para lidar com pessoas e suas relações, o psicólogo ou o psicoterapeuta organizacional, é um grande facilitador para disseminar uma visão adequada da importância de cada um dentro da instituição e também do valor pessoal que cada indivíduo possui. Ele pode, através de técnicas e manejos, auxiliar na sedimentação de um ambiente de trabalho favorável ao atingimento das metas estabelecidas pela alta direção.
Grande parte das horas do dia, o indivíduo passa dentro da empresa, envolvido com pessoas não escolhidas por ele para se relacionar e que, sem dúvida, vão apresentar distintas características e bagagens de vida. Naturalmente, traz consigo medos, dores, sofrimentos e angústias internas que não estão ligadas ao laboral, mas são partes intrínsecas dele. E são esses sentimentos que entram como ingredientes nas suas relações com superiores ou colegas de trabalho. Se não forem muito bem controlados e equilibrados, estes sentimentos contribuem na formação de conflitos e desarranjos nas equipes de trabalho.
Quando valorizamos nossas capacidades e conseguimos perceber onde estão fixadas nossas melhores entregas e também as limitações, certamente, poderemos trabalhar diversas questões, sempre com um olhar visando as oportunidades de melhoria, seja pessoal ou mesmo dentro das atividades a serem desenvolvidas. A questão é: como trabalhar tudo isso dentro de um coletivo? Um desafio e tanto para o psicólogo que tem como missão auxiliar o trabalhador a se tornar uma pessoa capaz de equilibrar suas emoções, gerenciar relações conflituosas e separar situações nos diversos âmbitos de sua vida: pessoal, profissional e social.
Diante de tudo isso, faz-se cada vez mais necessário o investimento das organizações em ambientes de escuta empática para que o trabalhador possa amenizar e aliviar conflitos internos que venham intervir no bom desempenho de suas tarefas. Empregar recursos financeiros na construção e organização desse ambiente de escuta e também na manutenção da equipe de atendimento psicoterápico organizacional, é a grande sacada das grandes empresas que hoje, enxergam suas instituições, não apenas como gélidos concretos, mas percebem que são feitas por pessoas, por seres humanos que sentem, choram, sofrem, riem, se emocionam e que, dentro de sua missão evolutiva, vivem a cada dia, aprendendo a se relacionar com o outro e consigo mesmo.
A construção de uma salutar saúde psíquica organizacional, depende muito da compreensão da alta direção em apostar em projetos humanizados que propiciem esse acolhimento individual dos trabalhadores. Ganha a empresa e ganham seus profissionais. Os benefícios são muitos, pois valorizando o humano, suas capacidades e potencialidades, podemos ter pessoas mais alegres, otimistas, comprometidas, integradas aos processos da instituição, além de ambientes laborais mais harmoniosos e produtivos.
Todos precisam se envolver para garantir que essa escuta empática seja vista por todos como um benefício único e confiável. Lembrando que, por estar em seu local de trabalho algumas limitações ou recalques podem castrar a livre associação de palavras, necessária para que o indivíduo seja beneficiado pelo autoconhecimento, o que poderá bloquear a sua liberdade de expressão.
Visto isso, percebemos também o agravamento e o aumento no número de adoecimentos psíquicos de trabalhadores, muito em função até mesmo da pandemia. O momento inusitado e cheio de medos e dúvidas, ao qual estamos passando, alterou as relações de trabalho, um exemplo foi a necessidade de adaptação para a modalidade de Home Office. O fato de ser obrigado a se adaptar de forma abrupta, onde fica evidente que não temos o controle de tudo e, muito menos, temos previsibilidade sobre os acontecimentos, auxiliou no descontrole emocional e no aparecimento de alguns transtornos e distúrbios emocionais e físicos, tais como: depressão, ansiedade generalizada, síndrome do pânico, fobias sociais, enxaquecas severas, psoríases, quedas de cabelo, compulsões alimentares, insônias, entre outros.
Enfim, o psicoterapeuta tem muito a contribuir nas organizações. Ele pode ser o multiplicador de boas práticas de saúde física e mental para todo o corpo funcional da empresa, induzindo o autoconhecimento e exercendo a escuta qualificada para atender demandas dos empregados. O foco na saúde integral do quadro de uma empresa poderá trazer contribuições importantes, agregando valor à qualidade de vida de cada um, além de reduzir o absenteísmo, o Turnover e o estresse coletivo. Promovendo um clima organizacional propício ao otimismo que, consequentemente, poderá gerar aumento na produtividade e nas finanças de um modo geral.
Dra. Andréa Ladislau – Psicanalista
* Doutora em Psicanálise, Membro da Academia Fluminense de Letras – cadeira de número 15 de Ciências Sociais, Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde, Pós Graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social, Professora na Graduação em Psicanálise, Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In Niterói, Professora Associada no Instituto Universitário de Pesquisa em Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo, Professora Associada do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites.