Você também já esteve em vidrinhos algum dia?

5 min. leitura

Neste mês de setembro, trazemos uma reflexão séria a respeito de tema tão profundo como este. Não é simples, não é fácil e não é para ser deixado para lá. A depressão e o pânico têm levado as mais diversas pessoas, de diversas classes, gênero e etnia, a lugares nunca imaginados. As pessoas se calam, não falam do que se passa internamente porque têm medo, vergonha, incerteza de como serão recebidas ou compreendidas.

Muitas vezes, as pessoas que estão do nosso lado, não sabem pelo que estamos passando mesmo! Não é responsabilidade delas adivinhar como nos sentimos. São dores antigas que carregamos, e que hoje em dia ficam sendo “canceladas”, “jogadas para escanteio”, “mi(m)nimizadas”. É necessário olhar para dentro com mais amor, confiando que podemos reconhecer nossas dores, entrar em contato para então sair delas. Algumas pessoas fingem que a pedra não está ali no sapato e vão caminhando pela vida assim. Até que em um dado momento, faz-se uma bolha tão grande que já é de sangue pisado. E aí?

Não brinque com sua vida porque ela é única. Embora alguns creiam em reencarnação, em outra oportunidade, não podemos saber “com certeza” como viremos, e se as chances que temos nessa vida para “virar o jogo” nos serão oferecidas nas mesmas circunstâncias, numa próxima.

Portanto, é necessário agir já! CUIDEMOS de nós, cuidemos das pessoas que nos são queridas.

Elas merecem, e nós precisamos.

Vidrinhos

Perto do lago, a bela menininha de cachinhos dourados brincava entretida com as “chumigas” que passavam ao largo carregando folhinhas picadas nas costas. Sempre foi assim, gostava de distrair-se com bichinhos mínimos e passava horas acompanhando-os.

Uns guardava em caixinhas de papelão furadas, outros queria por força colocar em vidrinhos para poder vê-los com mais facilidade. Porém, pequenina, esquecia-se de que nos vidros, lacrados, sem ar nem luz, morreriam – lembrava-lhe de sua doce e presente mãe.

Clara cresceu rápido e em seus olhos azuis se refletiam a luz de sua infância pura e feliz vivida à beira do lago sereno de sua propriedade. Seu pai, fazendeiro rico, querendo seu melhor, resolveu mandá-la a um internato onde aprenderia de tudo para a vida. Colégio de abastados e curiosos. Talvez se tornasse uma excelente e prendada dona de casa ou uma famosa cientista, mais ao seu estilo.

Muito dada, fez amizade com todos e era estimadíssima pelos lentes que lá havia. Imiscuía-se em todas as disciplinas e não havia matéria que não dominasse.

No jornal da comunidade local, escrevia sobre vários assuntos e veiculava seus poemas e artigos científicos repletos de reflexões filosóficas. Expressava-se muito bem e com clareza, atributo que lhe era peculiar.

Nas férias do verão seguinte, quando havia retornado a casa, soubera da verdade que lhe haviam escondido por seis meses. Sua mãe não resistira à depressão que se exacerbara, ceifando-lhe a vida. Mesmo aos dezoito incompletos, Clara tece um comentário entristecida com seu pai, que não consegue atinar seu sentido:

─ É, meu pai, você não sabe, mas minha mãe esteve por muito tempo em vidrinhos.

MANSUR, Janice. Vidrinhos. In: Contos de Bastidores. Niterói : Unicx

Comunicação Integrada, 2020. E-book Kindle.


Você já passou por algum momento assim? Ou conhece alguém que esteja passando? Então, comente sobre essa sua experiência, vou gostar de saber.

COMPARTILHE com pessoas que precisam de ouvir ou ler sobre isso.

Beeeiju no coração e na alma.


Janice Mansur é escritora, poeta premiada, professora, revisora de tradução e criadora de conteúdo.

Visite a autora também no site do Jornal Notícias em Português (Londres) e na Academia Niteroiense de Letras.
Canal do Youtube: BETTER & Happier
Instagram: @janice_mansur

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