Você já teve um chefe muito perfeccionista? Ou uma mãe assim?

6 min. leitura

Como Você lida com a perfeição?

Estive pela manhã de hoje conversando com uma amiga que me perguntou algumas coisas de português sobre o plural de umas palavras. E brevemente lhe informei e disse que relaxasse, que nossa língua não era tão simples, e há muitas regrinhas que esquecemos ou desconhecemos até. E ela logo falou, “ai, ouço minha mãe bradando no meu ouvido: mas você é jornalista, minha filha, não pode errar!”.   De imediato lembrei de minha infância também, quando ouvia minha mãe dizer: “mãe tem que se sacrificar…”, e por aí vai.

Crescemos sendo guiados por vozes de pessoas que não existem mais − podemos até falar de fantasmas que nos assombram −, mas, não, elas foram de carne e osso e reverberam em nossa mente até hoje.

Educação é coisa séria! Desde que entrei para a educação, na área específica de Letras − porque transitamos por muitas faculdades dentro da universidade e estudamos muitas disciplinas −, sei disso e sinto isso no convívio com meus alunos e minhas alunas. Quantas vezes um simples bom dia, uma contação de piadas seguida de um elogio sincero,  um abraço, um ouvido atento, um sorriso, salvaram, e salvam, o dia de alguém e, às vezes, o nosso próprio. Creio de fato que, na vida, as situações acontecem em via de mão dupla.

Portanto, o que se diz a alguém muitas vezes fala tão profundo que pode gerar cicatrizes permanentes,  ou aliviar algumas delas. Criação de filhos, por exemplo, criar uma vida é mais do que divino, é um autoconhecer-se constante.

As coisas que nos são ditas na infância entram em nossa mente e ficam lá

É preciso olhar para isto, para nosso passado a fim de evitar repeti-lo com as próximas gerações. Felizmente ainda (e não infelizmente, como eu iria dizer) posso ter a chance hoje de refletir sobre isso e quero passar adiante esses conhecimentos, esse novo modo de ver a vida. Se alguns aproveitarem, “ótimo!” (olha aí, rsrs), perde-se menos tempo.

Algumas pessoas ficam chorando o leite derramado sobre seu passado, porém, é fundamental olhar para ele para se afastar dele e não o repetir. Isso é difícil!  Às vezes, temos de pensar em mudar a narrativa que criamos, mas é isso assunto para outro texto, é outra história.

Minha amiga estava totalmente banhada pelos sons do que sua mãe lhe disse quando era pequena, por isso estamos aqui para falar da perfeição, não é? E o que a perfeição tem a ver com as coisas que nos foram ditas?, você me perguntaria.

Foto: Divulgação

Então vamos aos fatos. Você foi criado para ser perfeito ou não? Faça um esforço.

Em casa, quando você finalizava sua refeição e raspava o prato todinho, o que sua mãe, avó ou cuidador dizia? “Que lindo! Muito bem!”, o que além de ajudar você a comer mais, fazia com que sua memória registrasse que fazer o que alguém queria era algo muito bom. E muitas vezes, a seguir vinha uma recompensa em doce ou sorvete para estimulá-lo a repetir a ação. Na escola, quando você completava sua tarefa de modo satisfatório o que a professora/tia redigia ou até carimbava no caderno como um reforço positivo? “Excelente! Ótimo!”. Portanto, você foi ensinado a cultivar a excelência. Cada atitude era para levar você a um nível acima de “perfeição”.  Concorda?

Temos de estar bem atentos, pois, o excesso de perfeccionismo, se não olhado de perto e com carinho, pode se transformar em transtorno obsessivo compulsivo (TOC), que você já deve ter ouvido falar. Então, pode-se criar um ciclo de transmissão de uma geração a outra, se houver uma predisposição genética a isso.

Daí você começa a trabalhar, e seu chefe explora toda sua potencialidade, porque você já está habituado a buscar a perfeição, e ela ajuda você,… mas atrapalha. Como assim?

A vida inteira, falando um pouco de mim, fui aquela criança doce e gentil que ajudava a todos e primava por fazer tudo melhor. Se era para aparecer ou agradar, para ser amada, não sei. Mas como somos criados para a perfeição, penso que as duas coisas.

Ah, sem falar da religião, na qual muitos estamos imersos ou nascemos, que nos dizia também para sermos melhores e perfeitos como Jesus. Aí, fica mais difícil ainda. Não há imperfeição que dê conta…

E isso tudo, essa pressão psicológica interna é tão intensa que nos faz P E R F E C C I O N I S T A S com o passar do tempo e a força do hábito por repetição. Por isso, descobrir que não somos perfeitos é difícil, e dói.

Enfim, dá para desconstruir isso?

Dá sim, mas bota tempo de análise, hein!

E talvez nem nessa vida. Quem sabe?

Bora, começar pensando?


Janice Mansur é escritora, poeta premiada, professora, revisora de tradução e criadora de conteúdo.

Visite a autora também no site do Jornal Notícias em Português (Londres) e na Academia Niteroiense de Letras.
Canal do Youtube: BETTER & Happier
Instagram: @janice_mansur

Deixe um comentário
Cadernos
Institucional
Colunistas
andrea ladislau
Saúde Mental
Avatar photo
Exposição de Arte
Avatar photo
A Linguagem dos Afetos
Avatar photo
WorldEd School
Avatar photo
Sensações e Percepções
Marcelo Calone
The Boss of Boss
Avatar photo
Acidente de Trabalho
Marcos Calmon
Psicologia
Avatar photo
Prosa & Verso