Há um tempo venho pensando sobre essa palavra bonita que chamam resiliência. Será que aprender a cair pode ter a ver com ela?
Segundo o dicionário Aulete digital o vocábulo resiliência [do latim resilientia, part. pres. de resilire.] é um substantivo feminino que pode ser: 1) (segundo a física) Propriedade de um material retornar à forma ou posição original depois de cessar a tensão incidente sobre o mesmo, determinada pela quantidade de energia devolvida após a deformação elástica; medida em percentual da energia recuperada que fornece informações sobre a elasticidade do material; 2) (biologia) Capacidade de um ecossistema retornar à condição original de equilíbrio após suportar alterações ou perturbações ambientais; 3) habilidade que uma pessoa desenvolve para resistir, lidar e reagir de modo positivo em situações adversas. E conforme o Aurélio, além de outros diversos significados, resiliência [do inglês resilience] figurativamente tem o sentido mais próximo da terceira definição do Aulete: também seria resistência ao choque.
Uma pessoa que tem resiliência é aquela resiliente, é aquela que tem condições de retornar a seu equilíbrio original mesmo depois de ter enfrentado os choques do dia a dia. Aquela que desenvolve habilidades para resistir, lidar com as vicissitudes e reagir de modo positivo às circunstâncias adversas e conflitantes que nos acometem a todo o momento. Ser resiliente é, ainda, muito mais do que isso. É quebrar os paradigmas para se desvencilhar das dificuldades. Não ultrapassar limites para aprender a não atropelar o alheio. Não deixar de viver o presente porque se está “pré-ocupando” demais com o que há de vir, mas também não ficar remoendo o passado achando que surgirá alguma fórmula miraculosa que o libertará dele para a felicidade absoluta.
Resiliência é aferida quase como se fosse algo imprescindível e que todos temos de ter ou adquirir. Existem até histórias sobre o bambu que se utilizam da explicação de que devemos ser como ele e não termos medo de nos “dobrar” ou nos “curvar”, quando há dificuldades na vida, e não nos deixarmos “quebrar”, sendo esta uma analogia para a tal resiliência. No Japão, o bambu é um símbolo de boa sorte e um dos símbolos das comemorações de Ano Novo, e a imagem do bambu coberto de neve representa a capacidade de reerguer-se após ter experimentado a adversidade. Isso seria mais uma forma de ver a vida pelo viés da resiliência.
O que a resiliência tem a ver com aprender a cair?
Em entrevista do Marcelo Tas ao nosso maravilhoso Mauricio de Sousa, autor de quadrinhos e empresário, quando perguntado sobre o que ele faz “para não escorregar?” nas cascas de banana que há por aí na vida, já que ele escrevia historinhas que conversam com gente de toda a região do Brasil, com todas as idades, e isso era uma grande responsabilidade, o cartunista, respondeu: “Eu acho que a gente precisa aprender a cair, com cuidado, e transformar numa historinha.”, e sorriu.
Nesse sentido, penso que esse olhar para a vida com os olhos atentos para o novo, a fim de resolver o inusitado da melhor forma possível, pode ser a tal da resiliência. Ver nas mudanças da vida oportunidades para se desenvolver e cuidar mais de si. Estar com a mente aberta para o que vier, de bom ou não, e administrar a velocidade de suas reações transformando-as em respostas positivas, com atitudes leves e alegres, não com agressividade. É perceber que há instantes proveitosos e abertos para algo edificante, em que posso aprender de maneiras diferentes, sem me exigir tanta perfeição. Sem que resistir seja nunca quebrar.
Quebrar, cair, se esborrachar talvez seja uma maneira interessante de dar a volta por cima, de se reinventar. Somos seres humanos e como tais temos nossas fragilidades, vulnerabilidades. Não precisamos ser fortes o tempo todo. Talvez cair possa ser mais valorizado do que simplesmente envergar e voltar rapidamente ao lugar, como o bambu. Talvez o escorregar possa ser aprendido e transformado numa narrativa, como nos fala Mauricio de Sousa. Talvez a imagem de alguém que escorrega e cai, possa ser mais bem aproveitada como analogia de superação, já que quem “levanta e sacode a poeira” pode ser aquele que “dá a volta por cima”. Você quer mais resiliência do que aquele que já viu de perto o chão e retornou à posição de pé novamente?
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*Janice Mansur é escritora, poeta, professora, revisora de tradução,
Psicoterapeuta e Psicanalista (atendendo online) e
criadora de conteúdo no Instagram: @janice_mansur
e no canal Better and Happier https://www.youtube.com/@betterhappier7501
Contemplada no Tof of Mind Awards Internacional UK 2022,
na categoria Escritora Destaque do ano.