Você conhece aquele famoso vizinho de apartamento? Não? Por quê? Só porque mora em casa? Pois esse também é o meu caso, mas não escapei de conhecer um deles. Não tem nada de estranho nisso… eles vieram até mim.
No começo, quando se mudaram para a casa ao lado, pensei como seria bom ter vizinhos discretos, que não gritam pelos muros, não trocam uma xícara de açúcar, um bocado de sal, meia dúzia de qualquer coisa.
Não ter aquele tradicional vizinho de casa já era uma ideia que me subia os andares, digo, à cabeça. Afinal de contas, como seria bom aquele silêncio confortador, música escutada com fone de ouvido, privativa; a ausência daqueles horríveis cachorros barulhentos que não se quer para não ter que limpar o quintal… que paz!
Mas que nada! Amarguei uma boa decepção. Logo assim que chegou, passou a ser, talvez pela euforia, um típico vizinho de casa. Começaram as festinhas, comemoração de aniversários, festa junina, julina, agostina… até festa de desaniversário. Com o passar do tempo havia comemorações de anos até da cachorrada, que agora já perfazia um total de dois enormes filhotes de pastores alemães e dois vira-latinhas. O cenário estava completo.
Entretanto, a alegria inicial passou a degenerar na fobia dos espaços abertos e resolveram aumentar a quantidade de muros que rodeava a casa. Puseram uma rede até a altura do telhado com a justificativa da bola jogada pelos filhos não cair aqui em casa, que eles nunca jogavam. Depois foi a desculpa de que meu único cão e companheiro fiel ̶ diga-se de passagem: silencioso, oposto aos dele ̶ fosse se pegar com os dele pelo muro de dois metros de altura recém-construído. Foi o começo do sossego (?)… mas não parou por aí.
Como a fobia não bastasse para um vizinho cerceado pelas quatro paredes que o isolavam em seu anterior apertamento, pediu para o operário, colocar tijolos vazados na extensão onde coincidem minhas janelas laterais com as dele. A parte de cima do muro de dois metros contou então com dezenas de tijolos virados no sentido oposto à minha visão da janela da sala dele, que frequentemente permanece fechada por dar para um pedaço de minha garagem onde um vizinho amigo meu parava seu carro.
Imaginem como foi interessante sentir-me o próprio invasor da privacidade alheia! Eu que trabalho o dia todo e nunca tenho tempo para o luxo de uma conversa fiada nem de fofocas saudáveis!
Por fim, subiram um andar, um terraço, na parte em que ainda entrava um pouco de sol em minhas plantas de janela…
Hoje estamos todos adaptados. Eles já equilibraram os períodos de festas aos de silêncio. Às vezes, as brigas em família até se parecem com as nossas aqui, ou seja, estão se tornando vizinhos mais soltos, menos introvertidos.
Entretanto, recordo meus anteriores vizinhos de casa, italianos… ah, que saudades!
Janice Mansur é escritora, professora, revisora de tradução, criadora de conteúdo e psicoterapeuta (atendendo online).
Canal do Youtube: BETTER & Happier Instagram: @janice_mansur