A violência de gênero na política continua a ser um problema alarmante e, infelizmente, diário. Sobretudo, contra aquelas que têm dois marcadores sociais ou dois potenciais fatores de exclusão: mulher e negra.
É imperativo que aprimoremos nosso comportamento como seres humanos para assegurar o respeito e a igualdade para todos. A discriminação baseada em gênero, com ênfase na interseccionalidade, gênero e raça, é inaceitável e a subvalorização das mulheres, em especial nós, mulheres, deve ser erradicada.
Somos frequentemente desvalorizadas em relação aos homens, mesmo quando possuímos habilidades e qualificações equivalentes ou superiores. Nossa voz ainda é silenciada, o nosso espaço ainda é reduzido com diferentes tipos de violência no cenário político, tornando a nossa participação no processo eleitoral quase nula.
Como ativista social e política, testemunho e experimento dessas muitas formas de violência diretamente: a primeira delas é perceber que as pré-candidaturas negras, normalmente, não têm recursos ou outro tipo de apoio partidário, estão ali apenas para o partido cumprir a legislação eleitoral que prevê a “representatividade”.
A violência de gênero na política é corriqueira, em especial para nós, negras. Muitas candidatas são intimidadas, coagidas, incentivadas a não se candidatarem ou a desistir de suas campanhas, sob ofertas financeiras, inclusive. Em casos extremos, chegamos a receber ameaças: irá acontecer com você o que aconteceu com Marielle. Esta frase parece permear o meio político seja na disputa eleitoral ou entre entes ligados à coisa pública, quer sejam gestores públicos, lobistas ou líderes de entidades do terceiro setor ligados ao município, estado ou até mesmo infiltrados no federal.
Há também dissimulação, onde a mesma pessoa que coage a pré-candidata negra nos bastidores se apresenta como “apoiador” durante a campanha, desejando, na verdade, que esta seja sua marionete na engrenagem política, caso eleita, para atender a seus interesses pessoais e partidários. Essas ações visam não apenas minar nossa participação política, mas manter um ambiente político dominado por homens.
Além disso, enfrentamos a derrubada arbitrária de nossas contas nas redes sociais. Muitas vezes essas remoções são feitas de forma arbitrária e sem critérios claros, afetando desproporcionalmente as mulheres negras. Essas plataformas deveriam servir como espaços de expressão e mobilização, mas muitas vezes se tornam ferramentas de silenciamento. Vejo suas vozes sendo tolhidas por essas ações, com o intuito de dificultar a disseminação de mensagens e a construção de apoio popular.
A censura também se manifesta nas mídias locais. Matérias que são removidas, impedindo a conscientização da população sobre esses problemas. Há ainda um apagamento midiático sistemático e pontual para as pré-candidatas negras, contribuindo para a invisibilidade destas e dificultando a mobilização social necessária para mudanças expressivas.
A falta de representação feminina negra em cargos políticos reflete as barreiras estruturais que ainda persistem. Muitos municípios brasileiros não têm uma única vereadora mulher ou negra, resultando em uma visão política limitada e excludente. Outros municípios têm mulheres que, na verdade, seus maridos estão à frente da campanha ou outro membro da família que são homens, tirando toda gestão e autonomia desta mulher. Durante os períodos eleitorais, como forma de diversity washing, mulheres negras são frequentemente usadas pelos partidos apenas para cumprir a cota de representatividade obrigatória, sem receber o apoio financeiro ou logístico necessário. Sem verba ou apoio do partido, suas campanhas são prejudicadas e a verdadeira inclusão política se torna um ideal distante.
O boicote velado dentro dos próprios partidos é outro desafio enfrentado por nós, mulheres negras, ainda mais se periféricas. Muitas vezes, somos excluídas de decisões estratégicas, nossas participações são rechaçadas e ainda reduzem o alcance de nossas campanhas. Esse boicote, embora menos visível, é igualmente prejudicial e reforça a exclusão de mulheres no cenário político. Em casos extremos, quando insistimos em nos posicionar, de forma mais firme e combativa, somos ameaçadas de morte!
Ainda sobre as pré-candidaturas e a interseccionalidade, destaco a questão da liberdade religiosa, a dignidade da pessoa humana, em face do estado laico. Se tratando das mulheres de axé, esta violência se manifesta também no agravamento de ataques aos terreiros, as caminhadas e demais atos não são impedidos, no entanto, oficiosamente todo processo de violência já citado neste texto acontece de maneira sistemática e violenta: “derrubam” , removem todo e qualquer tipo de divulgação seja pré ou pós evento. Minando, inclusive, o relacionamento interpessoal e digital porque todos que divulgam estas agendas também sofrem ataques e remoções em seus perfis.
É contemporâneo, é gritante, é sistemático, é abusivo o que acontece nas disputas eleitorais sendo um emblema da solidão da mulher negra.
O site Cultura e Negócios não se responsabiliza pelo conteúdo do texto publicado. A responsabilidade pelo conteúdo é inteiramente do autor, sendo este um material independente.