Na semana em que comemoramos o Dia da Mulher, trazemos à tona questões voltadas para o universo feminino – em homenagem a elas que são guerreiras e estão despontando cada vez mais em nossa sociedade, seja no campo profissional ou pessoal. No entanto, não se pode fechar os olhos para seus sofrimentos e dores que afetam diretamente sua saúde mental. Vamos falar, por exemplo, da Síndrome da Mulher Maravilha. Um tipo de padrão comportamental que afeta diretamente o emocional das mulheres, causando sérios problemas de saúde, ferindo o equilíbrio mental delas e, consequentemente, afetando as suas relações ao longo da vida.
Quando se fala em Mulher Maravilha, sempre vem à mente a imagem da heroína que resolve tudo, todas as questões. Mas será que a mulher nasceu para desempenhar esse papel de Mulher Maravilha? E quais os riscos quando ela entende que precisa viver esse personagem no dia-a-dia?
Vamos lá, a Mulher Maravilha é uma persona criada por um homem que idealizou a mulher ideal, a mulher perfeita. Essa síndrome se caracteriza quando a mulher quer dar conta de tudo e de todos, se sobrecarrega, sentindo-se pressionada com suas multitarefas, e ainda assim arrasta consigo uma bagagem cheia de culpa e cobrança. Esse tipo de desvio comportamental afeta principalmente quem possui compulsão por controle, atraída por uma forte tendência a se doar demais para qualquer mínima tarefa. Em consequência disso, a mulher pode perder sua feminilidade, sensualidade e delicadeza, acarretando sérios prejuízos para sua autoestima, atraindo aspectos negativos para suas relações pessoais e alterando severamente seu modo de enxergar o mundo. Tudo isso porque a culpa entra como um complemento das sensações ruins, impulsionada pela busca eterna de perfeição e de autocobrança.
Empoderada por uma sigla imaginária de identificação dessa mulher maravilha, essa mulher comum segue com os ombros pesados de tantas reponsabilidades. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, disse uma vez que: “somos feitos de carne, mas temos de viver como se fossemos de ferro”, o que cai muito bem para identificar essa heroína contemporânea, que sofre com a pressão de ter que cumprir muitas tarefas ao mesmo tempo. Em muitos casos, ela vive refém das pressões externas da sociedade moderna na busca da perfeição, utilizando-se de supostos superpoderes, autoiludida sobre a própria capacidade e equivocada em relação às suas prioridades.
Normalmente, caracterizam-se por apresentar uma constante sensação de vazio existencial misturado ao cansaço e a diversos sintomas relacionados ao estresse patológico. Cobra-se por um perfeccionismo exacerbado, em diversas atividades em diferentes áreas da vida, sempre com a preocupação de atender as exigências externas. E, consequentemente, possui um alto padrão de exigência em relação a quem está ao seu lado. Afinal, a Síndrome da Mulher Maravilha mantém a mulher sob estresse acentuado, robotizada, refém de si mesma e das pressões.
Podemos citar alguns sintomas apresentados por Mulheres Maravilhas, que vão variar conforme o grau de patologia. Como por exemplo: ansiedade, alterações de memória, agressividade, dificuldade para relaxar, distúrbios do sono, exaustão, irritação, impaciência, sensação de vazio, sentimento de culpa, síndrome de pressa, sentimento de estar sempre devendo, tensões musculares, cefaleias intensas, transtornos cardiovasculares, distúrbios de compulsões, transtornos alimentares e até depressão.
Porém, reverter a Síndrome da Mulher Maravilha exige mudanças não só no pensamento da mulher que está acostumada a carregar tudo nas costas, mas também de quem está a sua volta. É preciso aceitar que somos seres humanos. Portanto, longe da perfeição. E entender que o equilíbrio entre vida profissional e pessoal é de suma importância na busca do controle desta síndrome. A mulher não pode esquecer de cuidar também de si mesma.Conscientizar-se de que a heroína não existe. É normal fracassar e perder, não conseguir sempre. É perfeitamente possível permitir-se não dar conta de tudo a todo tempo, apenas para cumprir regras ou agradar uma sociedade esmagadora.
A Mulher Maravilha só existe nos quadrinhos e filmes. Todos os papéis atribuídos ao sexo feminino – mãe, esposa, cuidadora do lar, profissional, filha, amiga, entre outros – precisam ser exercidos com equilíbrio. O pulo do gato é evitar a sobrecarga e trabalhar o autoconhecimento, promovendo situações que favoreçam uma mente mais leve. Como conseqüência, a autocobrança dará lugar a gratidão por suas conquistas reais, sem a neurose do controle do mundo, valorizando mais a si mesma através do cultivo do amor próprio.
Infelizmente, a busca por perfeição vem sempre acompanhada pela decepção e frustração. Enquanto isso, o equilíbrio emocional está diretamente relacionado ao controle da ansiedade. Por isso, é muito importante aliar organização, planejamento e autocuidado. Não esquecendo também de equilibrar o sistema imunológico, através de uma boa alimentação, em horários corretos, associada a noites de sono tranqüilas para regular os hormônios, garantindo assim a vitalidade e disposição. Gerenciando melhor a mente e as emoções, tendenciosamente, a mulher poderá driblar a ansiedade de forma muito mais fácil e até prazerosa.
Enfim, a mulher maravilha é apenas um personagem dos quadrinhos e filmes. Atualmente as mulheres já vem conquistando muitos espaços dentro dessa sociedade opressora. Mas não vale a pena colocar em jogo a saúde mental e física em troca do controle do mundo. Exigir de si mesmo em excesso pode tornar-se patológico, provocando inúmeros prejuízos na relação consigo mesmo, além de prejudicar o processo de crescimento da mulher. A exigência por perfeição faz com que o foco seja apenas no que lhe falta e, de certa forma, instiga uma necessidade eterna de se comparar ao outro. Aumentando ainda mais sua insatisfação por estar em constante busca por aprovação. Portanto, transformar as cobranças internas em auto aceitação, promover o autocuidado e o amor próprio – e tirar um tempo para si e não perseguir o excesso de controle – são ações benéficas para eliminar a Síndrome da Mulher Maravilha. Afinal, a autocobrança só é válida quando ela facilita seus objetivos e não quando ela lhe causa problemas. Ser saudável é transformar sua forma de pensar, seus hábitos e promover esforços para não atrair sintomas e distúrbios nocivos à sua saúde mental.