Somos psiquismo, mas também somos corpo. Nossas angústias e traumas também ficam gravados em nossa pele. Para mim tudo o que se mescla com as emoções e as sensações pode gerar um trauma. O sistema proprioceptivo está relacionado diretamente com nossa consciência do corpo. Ele é um sentido de natureza neurológica, ou seja, tem conexão direta com nosso sistema nervoso e transita por nosso psiquismo. Então, se experimento no meu corpo um cheiro, por exemplo, ele se fixa em minha memória, e pode me lembrar de situações felizes ou infelizes que eu tenha vivido, talvez gerando um trauma.
As sensações e as percepções que temos são vivenciadas por mais do que o sistema propioceptivo. A exterocepção e a interocepção são mais dois sentidos. O primeiro se relaciona ao olfato, visão, audição, tato e paladar. Por meio deles percebemos o mundo exterior. Já a interocepção envia informações ao cérebro sobre o que acontece dentro do nosso organismo, sobre nosso mundo interno, o que acontece em nossos órgãos (coração, pulmão, estômago e intestinos, por exemplo). É ele que atende a nossas necessidades fisiológicas, ou seja, o cérebro lhe dá mais importância, pois elas são relativas à nossa preservação ou subsistência.
Juntos: interocepção e propiocepção nos propiciam certo modo de reação no mundo. Quando estamos em contato com nossas emoções quais são as sensações que temos? O corpo nos ajuda a sair de situações e a entrar em outras que nem queremos. Como podemos lidar com isso tudo? Mas isso é assunto para outro texto mais complexo.
O que trago aqui hoje é uma poesia, que toca nossa emoção, que fala de nossas dores, medos e pânicos, particulares e singulares a cada um, porém que acima de tudo se relacionam à nossa condição humana.
O que você pode fazer então?
Nossa condição é muito semelhante em alguns casos. Todos sentimos angústias, ansiedades, temos receios. Provamos sensações difíceis de lidar. Nosso corpo traz as marcas de nossas experiências com ele. É com ele e por meio dele que experienciamos o mundo. Algumas pessoas falam que conseguem saber o que o outro passa ou sente, mas é impossível. Fazemos uma ideia, imaginamos, porque temos um corpo, sentimos sede, fome ou qualquer coisa que a outra pessoa pode sentir, mas igual nunca é! Cada dor e alegria são únicas. Se há algo que podemos fazer, a única coisa é dar colo, ouvir e perceber que eu não sei do outro e não sinto como ele. Nem por ele.
Só posso amá-lo.
Não posso estar na sua pele.
Não sinto a ardência de sua escara,
mas lembro do incomodo
que poderia ter sido a minha.
Não posso sentir o suor que escorre de sua testa,
mas lembro de cada gota que derramei nas minhas lutas
e como molhavam todo meu rosto.
Não posso sentir o desespero, o pavor,
o medo absurdo e único que te acomete,
mas lembro de minhas noites insones
e asfixiadas com o medonho pânico de sempre.
Não posso saber o que é ter fome
e não querer comer por me enxergar enorme.
Não posso sentir o calafrio da febre, nem do prazer,
mas recordar do gélido ar embaixo do cobertor
e do estrebuchamento nos braços do amor.
Não posso sentir suas emoções
ou experimentar seus sentimentos por você
mas posso perceber o sofrimento no fundo do olhar,
na lágrima que se derrama,
na rigidez do seu pensar,
no pesar que habita sua alma.
Não posso estar na sua pele,
mas posso tentar aliviar seu momento
apoiando e acolhendo.
Minhas dores são minhas,
suas dores são suas,
essas as nossas diferenças.
Mas nossas semelhanças
nos fazem e nos tornam,
cada qual a sua maneira,
humanos.
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*Janice Mansur é escritora, poeta, professora, revisora de tradução,
Psicoterapeuta e Psicanalista (atendendo online) e
criadora de conteúdo no Instagram: @janice_mansur
e no canal Better and Happier https://www.youtube.com/@betterhappier7501
Contemplada no Tof of Mind Awards Internacional UK 2022,
na categoria Escritora Destaque do ano.
Fonte das imagens: Pixabay
