Carmen, quando ninguém está olhando, larga o esfregão em frente ao espelho da sala de ensaio e se imagina em cena. Rose, costureira, ia atrás das bailarinas na cantina conferir o que estavam comendo – se engordassem ou emagrecessem, era mais trabalho para ajustar o figurino. Rozana, camareira, diz que seu trabalho só aparece quando dá errado, mas do que sai certo ninguém se lembra.
Essas são algumas das histórias, entre tantas, retratadas no espetáculo de dança contemporânea “Corpos Instáveis”, de Ane Adade e Patrícia Machado, que estreia dia 20 de maio no Teatro José Maria Santos, em Curitiba (PR) e fica em cartaz até 29 de maio. A dramaturgia é de Nadja Naira, e estão em cena, além das criadoras, Deborah Grossmann, Gal Freire, Marcela Pinho e Nayara Santos.
O ponto de partida para o espetáculo é inusitado: relatos de vida de seis mulheres que trabalham ou trabalharam nos bastidores do Teatro Guaíra, coletados em pesquisa iniciada pelas bailarinas em 2017. Mesmo após deixarem a companhia, elas voltaram ao tema e, agora, estreiam com nova proposta.
Foram entrevistadas para a produção a camareira Rozana Santos, a coordenadora administrativa da Orquestra Sinfônica do Paraná Shirley Conceição, a auxiliar de limpeza Carmen da Silva, a chefe da costura Rose Matias, a assessora do departamento técnico Anelize Oliveira e a ex-presidente do Teatro Guaíra, Monica Rischbieter. Além de estar na plateia, em algumas das apresentações elas estarão em cena também.
“Trabalhamos muitos anos no Balé Guaíra e sempre foi nosso desejo revelar os bastidores, mostrar como as cenas ganham vida. O resultado que iremos apresentar borra as fronteiras entre as linguagens e mescla dança, performance, teatro e musical, meios que encontramos para dar voz a essas mulheres por vezes invisíveis ao grande público”, explica a bailarina Patrícia Machado.
“Sem elas não tem espetáculo. São elas que fazem a magia acontecer. Enquanto estamos no palco, elas dançam nos bastidores uma outra coreografia: correm, costuram, fecham o zíper, enxugam o suor, passam um batonzinho, nos dão um abraço… Sempre me chamou a atenção o carinho que elas tinham conosco, com os detalhes”, conta Ane Adade. “Algumas sonharam quando criança em trabalhar nos bastidores e hoje estão ali: elas não separam o teatro da sua vida.”
“Foi muito bom fazer parte desse projeto, estou me sentindo muito agradecida e acariciada, vendo nosso trabalho ser visto e reconhecido”, comemora Rozana de Fátima Cunha dos Santos, 61 anos, camareira do Teatro Guaíra e uma das fontes de inspiração.
O projeto é realizado com recursos do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura – Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba. Realização: Bönisch Produções Culturais.
Serviço:
Corpos Instáveis
Teatro José Maria Santos (Rua Treze de Maio, 655, Curitiba).
Dias 20 a 29 de maio. 6ª às 20h, sáb. dom. às 16h e 20h. Entrada franca.
Ficha técnica:
Concepção e Direção: Ane Adade e Patrícia Machado
Dramaturgia: Nadja Naira
Elenco: Ane Adade, Deborah Grossmann, Gal Freire, Marcela Pinho, Nayara Santos e Patrícia Machado
Cenografia: Guenia Lemos
Figurino: Dani Nogueira
Luz: Semy Monastier
Trilha e preparação vocal: Edith de Camargo
Identidade visual: Letícia Lampert
Fotografia e documentação audiovisual: Cayo Vieira e Lívea Castro
Fotógrafo: Gus Benke
Produção: Jorge Schneider
Coordenação geral: Simone Bönisch
Realização: Bönisch Produções Culturais