Sangrando

3 min. leitura

Acordava com a cabeça numa poça de sangue.

A dor lancinante insistia em toda  arte de seu corpo como um reflexo.

De onde viria? Ouvia essa voz sem saber de onde vinha.

Onde estava, meu Deus? Estava louca?

Cerrava os olhos por instantes e os abria, esfregava-os.

Levantou a cabeça. De seus cabelos pingavam gotas rubras e grossas, quentes, escorriam pelos seus ombros. Que nojo! Estaria morta? Fora assassinada?

Tocou sua cabeça para ver de onde o sangue brotava.

Suas mãos molhadas. Não havia cortes, mas toda ela doía. Apalpava seu corpo vagarosamente com precisão como se fora um médico. Cada pedaço. Articulava cada junta. De onde aquele sangue vinha? Resolveu levantar-se, mas as imagens tornavam-se um enorme torvelinho. Sentava tonta novamente. Mais uma vez tentava e a tontura subia-lhe pelas pernas. Não posso! Olhou à volta. O vazio. Somente uma luz tênue pairava sobre sua cabeça, o resto era poeira, vapor, breu. Socorro! Socorro! Alguém me escuta? Nada.

Socorro! Socorro! O eco respondia. Começava a entrar em desespero. Ficou quieta e procurou se acalmar.

Respirou fundo. Ouço vozes…o quê? O que dizem?

Farmácia? Cabeça? Sangue? Tudo vinha de longe…

Há alguém aí? Silêncio. Mais silêncio. O desespero a invadia e a convulsão de sua alma se derramava em lágrimas de horror. É impossível que ninguém me escute. Socorro! Socorro! O eco era maior. Urgente… é preciso logo… rápido… Oh, puxa! Ouço vozes! Alguém vem aí? Silêncio absoluto. Virou-se de bruços para melhorar as dores no abdômen, encolheu as pernas num gesto inútil. Sentia frio. Tinha medo. O sangue secava perto da cabeça e escorria fresco próximo ao quadril. Ainda sangro, mas cadê o corte? E as pessoas que ouço, onde estão? De repente uma luz irrompe do escuro, ela leva a mão aos olhos sem muito entender, tentando divisar alguém na escuridão. A porta do quarto se abria.

─ Amanda, você está bem, minha filha? Seu irmão já foi à farmácia buscar a medicação e o absorvente.

Logo, logo voltará. Aguente só mais um poquinho, tá?

─ Hã?! – balbucia ainda zonza, sorrindo e bocejando – Uma eternidade…

(Texto do livro de Janice Mansur. Lançado pela AMAZON: Contos de Bastidores). https://www.amazon.co.uk/Contos-bastidores-Portuguese-Janice-Mansur-ebook/dp/B09DGR2QZ5/ref=sr_1_1?dchild=1&keywords=contos+de+bastidores&qid=1633778841&sr=8-1


Janice Mansur é escritora, poeta premiada, professora, revisora de tradução e criadora de conteúdo.

Visite a autora também no site do Jornal Notícias em Português (Londres) e na Academia Niteroiense de Letras.
Canal do Youtube: BETTER & Happier
Instagram: @janice_mansur

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